11 de setembro criou “estado de super vigilância”, diz pesquisadora dos EUA

Se você perguntar para a população dos Estados Unidos qual evento histórico foi o mais significativo ao longo de suas vidas, 76% deles dirão que foi o atentado às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001, de acordo com pesquisa da Pew Research Center. O incidente terrorista, além de marcar memória coletiva, teve repercussões políticas domésticas e internacionais.

O 11 de setembro ainda toca na ferida do nacionalismo local. “Houve uma união até então inédita”, explica ao Brasil de Fato Reed Welch, professor de Política dos EUA na Texas A&M University. Quem se beneficiou dessa aproximação histórica foi o então presidente George W. Bush, que viu sua taxa de aprovação subir de 51% para 91%. “O que mudou? Bem, nós fomos atacados e o presidente, independente de quem seja, é um reflexo da ‘personificação’ do país”, diz o docente.

Do ponto de vista prático, o que mais mudou na vida da população em decorrência do ataque foi a questão de segurança nacional.

Foi a partir do episódio, por exemplo, que a Federal Aviation Administration, agência de aviação civil dos Estados Unidos, passou a se responsabilizar pela segurança dos voos e aeroportos no país. Isso, claro, tem seu preço: desde 2003 qualquer passageiro em viagens domésticas ou internacionais tem que arcar com a taxa “11 de setembro”, que foi reajustada há pouco para US$ 5,60 dólares (R$ 29) por trecho.

“Viajar nunca mais foi a mesma coisa depois do 11 de setembro, e não só nos EUA. O aparato de segurança global cresceu muito a partir do atentado, e sabemos que vivemos basicamente em um estado de super vigilância por conta disso”, avalia a professora Sandhya Shukla, professora da Universidade de Virgínia, onde conduz, desde 2008, um curso focado no ocorrido.

“Essa tragédia cristalizou algumas tensões já experimentadas pelos Estados Unidos com o resto do mundo, sobretudo no que diz respeito à imigração, diásporas e fundamentalismo religioso”, afirma Shukla ao Brasil de Fato.

A associação direta entre o ataque e o islamismo ainda é um erro cometido por boa parte da população. Uma outra pesquisa, também da Pew Research, mostrou que 41% dos estadunidenses acreditam que aqueles que fazem parte da religião muçulmana têm mais chance de serem violentos do que indivíduos de outras crenças.

Apesar das consequências políticas e econômicas, o ataque também teve um custo psicológico. “Imediatamente após o 11 de setembro, a dor e a escuridão eram tantos que ficava difícil sequer falar sobre os Estados Unidos”, comenta a professora.

No dia 11 de setembro de 2021, a celebração em homenagens às vítimas segue conforme o script, reunindo familiares das vítimas do atentado na praça do Memorial para ler, em voz alta, os nomes das pessoas mortas no ataque.

A participação de Joe Biden na cerimônia de homenagem era praticamente certa, mas apelos populares podem mudar a agenda do democrata. Quase 1.800 parentes de vítimas, socorristas e sobreviventes estão pedindo a Biden que se abstenha de comparecer a quaisquer memoriais por sua recusa em tornar pública documentos que alguns acreditam poder mostrar uma ligação entre os líderes da Arábia Saudita e os ataques.

Em uma ordem executiva, a Casa Branca determinou que documentos sobre a investigação do 11 setembro serão revisados e divulgados nos próximos seis meses, caso não apresentem risco para a “segurança nacional”. Familiares de vítimas do atentando terrorista processam a Arábia Saudita, país que é um importante aliado dos EUA no Oriente Médio, por uma suposta ajuda aos terroristas.

Brasil de Fato

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