A delação que levou o ex-presidente do Peru ao suicídio

Jornal GGN – Foi uma denúncia apresentada com base em delação de executivo da Odebrecht, desdobramento da Operação Lava Jato, que levou ao suicídio o ex-presidente do Peru Alan García, nesta quarta (17). O político atirou na própria cabeça quando a polícia bateu em sua porta com uma ordem de prisão. Chegou a ser levado para o hospital e foi operado, mas não resistiu.

García já havia sido impedido, no final do ano passado, de deixar o País em decorrência das investigações. Temendo a prisão, chegou a pedir asilo político ao Uruguai, que não comprou a tese de que a Lava Jato peruana está fazendo perseguição com seus ex-presidentes – são pelo menos 4 no meio de delações.

O caso de García, segundo noticiou a imprensa nesta quarta (17), envolve principalmente a delação do advogado brasileiro José Américo Spinola, que afirmou no Brasil ter pago US$ 100 mil ao peruano a pedido da Odebrecht.

A Lava Jato peruana usou a delação para acusar García de lavagem. O ex-presidente não só negou a acusação como explicou que recebeu o dinheiro por uma palestra feita na Fiesp, em São Paulo, em maio de 2012. Para afastar de si as suspeitas, concedeu acesso a contas bancárias, contratos e outros meios de prova, na tentativa de atestar sua inocência.

Em nota ao GGN, a Fiesp esclareceu que não remunera as autoridades e palestrantes que recebe em suas dependências. (Veja mais abaixo)

No ano de 2013, o pente fino foi feito nas contas de García, levando em consideração o período de 2006 a 2011, e os anos seguintes à sua saída do governo. As informações deram conta de que o ex-presidente, assim como diversos outros ex-chefes de Estado, de fato recebeu dinheiro por conferências realizadas ao redor do mundo, principalmente na América Latina. Situação semelhante a do ex-presidente Lula, que também teve as atividades de sua empresa de palestras criminalizadas pela Lava Jato.

Somente entre agosto de 2011 e dezembro de 2012, García ministrou 18 palestras e, por elas, recebeu ao todo US$ 830 mil. A mais bem paga das atividades teria sido a que ocorreu na Fiesp. O ex-presidente apresentou contrato, recibo e cópia da transferência regular do dinheiro.

Na época, a apresentação das provas deteve as investigações. Mas a delação premiada serviu para se construir uma narrativa para contrariar García. A palestra foi tida como fraude e o pagamento, um dos subornos da Odebrecht ao ex-presidente.

Os investigadores peruanos passaram a usar a tese de que a propina a García foi dada em função da construção de um trem na capital peruana pela Odebrecht.

A delação da empreiteira apontava, segundo O Globo, o pagamento de US$ 4 milhões “ao ex-braço-direito e amigo de García no Palácio do Governo: o ex-secretário da Presidência e ex-ministro Luis Nava, que nega qualquer irregularidade.”

A Odebrecht firmou acordo com o Peru e se comprometeu a pagar US$ 182 milhões “como compensação civil” ao País, por conta de quatro licitações em que a empresa diz ter feito pagamento de subornos a autoridades locais.

IMPACTO POLÍTICO

García governou o Peru como nacionalista de 1985 a 1990. Depois, se reinventou como liberal e venceu a eleição em 2006. Além dele, a Lava Jato peruana investiga os ex-presidentes Alejandro Toledo (2001-2006), Ollanta Humala (2011-2016) e Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018).

Kuczynski, de 80 anos, foi preso preventivamente por 10 dias no início do mês. Nesta quarta, segundo O Globo, foi hospitalizado após sofrer uma crise de hipertensão arterial.

Toledo, que supostamente recebeu US$ 20 milhões da empreiteira pela construção de uma rodovia, vive nos Estados Unidos.

As ex-candidatas Lourdes Flores e Keiko Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000), também foram presas, em outubro passado.

COM A PALAVRA: FIESP

“A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) é a maior entidade empresarial do Brasil e representa o setor produtivo. Em função de sua política interna, não remunera palestrantes e convidados e nem cobra ingresso para as centenas de eventos que realiza anualmente. A Fiesp rotineiramente recebe chefes de Estado e personalidades políticas e foi nessa condição que Alan Garcia esteve presente em eventos na Federação.”

Jornal GGN

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