Alunos protestam contra demissão de professores do Grupo Estácio em SP

A manifestação foi marcada pelas redes sociais para as 18h, no campus da Avenida Maurílio Biagi, zona sul da cidade, depois de notícias mencionando demissões de 1,2 mil pessoas – não confirmadas oficialmente pela Estácio – em todo o país, incluindo a unidade em Ribeirão Preto.

O Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro (SinproRio) fala em pelo menos mil dispensas. Em Ribeirão Preto, professores ouvidos pela reportagem, de áreas como a comunicação social, confirmaram estar entre os cerca de 70 que foram demitidos na cidade esta semana.

Vestidos de preto, com narizes de palhaço e cartazes, cerca de cem estudantes, segundo estimativa dos próprios organizadores, se reuniram em frente à universidade e promoveram um apitaço dentro do prédio. Eles encerraram o protesto cerca de uma hora e meia depois.

Os alunos reclamam que as demissões foram motivadas por corte de custos e vão piorar a qualidade de ensino da instituição.

“A gota d’água pra gente foi a demissão em massa dos professores que para nós, no consenso geral, são os professores essenciais pro ensino. Ao nosso ver são os que têm maior conhecimento, maior currículo, maior bagagem”, afirmou Alexandre de Almeida Lucchiari, de 22 anos, estudante do 5º ano de direito.

De acordo com os alunos, este foi um dos cursos em Ribeirão Preto mais afetados, com dez dispensas de docentes que atuavam em disciplinas como direito do trabalho e direito civil.

“Entre os que foram mandados embora tem juiz, promotor, pessoas renomadas. Obviamente com a demissão a qualidade do ensino cai muito.”

A Estácio não confirmou o número de demissões, mas em nota divulgada nas redes sociais e à imprensa citou uma reorganização em sua base de docentes e garantiu que os alunos não serão prejudicados. A Federação dos Professores do Estado de São Paulo (Fepesp) informou que ainda apura dados sobre as demissões, mas que vai marcar com urgência uma reunião com os diretores da Estácio em busca de esclarecimentos.

Considerado um dos maiores grupos educacionais do país, a Estácio chegou a ser cogitada para uma fusão com a Kroton Educacional, primeira do mercado brasileiro, mas a negociação foi rejeitada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

‘Simplesmente acabou’

Professor de marketing na graduação e pós-graduação da Estácio em Ribeirão desde 2010, Júlio César dos Santos Pimentel, de 43 anos, confirmou ter sido demitido e submetido ao exame médico obrigatório na terça-feira (5) logo depois de chegar à universidade para trabalhar.

“Mais ou menos 70 pessoas foram demitidas. Como era um grande volume, montaram umas quatro salas pra ir atendendo esses professores, para depois ir atendendo em uma sala pra passar pelo médico, tudo dentro da faculdade mesmo”, diz.
Segundo ele, o motivo informado pela direção foi corte de despesas. “O que eles entendem? Que um professor caro pode ser substituído por um professor pela metade do preço praticamente.”

O professor, que ainda tinha participação confirmada em bancas de trabalho de conclusão de curso, incluindo a de um aluno sob sua orientação, afirma que docentes como ele não puderam encerrar as atividades do ano.

Estudantes fizeram ‘apitaço’ dentro da Estácio, em Ribeirão Preto (SP), contra demissão de professores (Foto: Rodolfo Tiengo/G1)

“Nós nem conseguimos finalizar com os alunos o semestre. No meu caso, apliquei uma prova e eu não pude fazer a revisão com os alunos. Simplesmente acabou.”
Estudantes de cursos como o de psicologia confirmam a demissão de ao menos dois docentes, entre eles o coordenador.

“Prejudica muito os novos alunos do semestre que entraram agora, a funcionalidade do curso, porque o coordenador que representa, que está a par de tudo, não está mais aqui”, afirma Beatriz Malagutti Matos, de 23 anos, aluna do sétimo semestre de psicologia.

Fepesp

O presidente da Fepesp, Celso Napolitano, disse ao G1 que não recebeu nenhum comunicado oficial da Estácio sobre as demissões e tomou conhecimento das possíveis 1,2 mil dispensas por intermédio da imprensa.

Ele afirmou que contatou todas as representações sindicais onde a Estácio atua, como Ribeirão Preto, para confirmar a dimensão das medidas. “Fomos apanhados de surpresa como todo mundo”, diz.

De acordo com informações do Sindicato dos Professores da cidade de São Paulo (Sinpro-SP), o grupo Estácio acumula somete na capital 228 pedidos de agendamento de rescisão contratual, que podem ou não se reverter em demissões.

Segundo ele, uma demissão coletiva como a em questão é vetada pela convenção coletiva da categoria. “A convenção coletiva que é vigente até 28 de fevereiro de 2019 proíbe a contratação ou a troca de professores mais caros por mais baratos. Proíbe que sejam contratados professores na mesma função e no mesmo nível por salário mais baixo”, afirma.

Da mesma maneira, não é permitido ao grupo educacional demitir e recontratar os mesmos professores, para assim estabelecer as novas bases da reforma trabalhista, antes de um prazo de 18 meses. “A primeira notícia de que esses professores seriam demitidos e recontratados, a nova legislação também proíbe, porque exige uma quarentena.”
Napolitano disse que vai convocar uma reunião com a Estácio para entender os critérios das demissões, antes de avaliar a necessidade de recorrer a órgãos como o Ministério Público do Trabalho (MPT).

Estácio

Procurada pelo G1, a assessoria de imprensa da Estácio não confirmou números de demissões, mas enviou nota que menciona uma reestruturação em seu quadro de professores, e garante que os alunos não serão prejudicados. Confira o comunicado na íntegra:

O Grupo Estácio promoveu, ao fim do segundo semestre letivo de 2017, uma reorganização em sua base de docentes. Tais medidas visam sempre respeitar os anseios de satisfação dos alunos, e a constante evolução da excelência acadêmica da Estácio, que segue comprometida com sua missão de Educar para Transformar, oferecendo educação de qualidade em todo o País. A reorganização tem como objetivo manter a sustentabilidade da instituição e foi realizada dentro dos princípios do órgão regulatório.

Destacamos que as avaliações e lançamentos de notas não serão impactados e a nossa equipe acadêmica garante que a rotina de nossos alunos seguirá em seu curso normal.

Do G1

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