Bolsonaro: “a economia do Brasil está bombando”; entre discurso e realidade

“Salários baixos, preços altos, dívidas e inadimplência crescentes, incertezas no emprego, altas taxas de desemprego e subemprego, miséria a olhos vistos e dificuldade para acesso aos serviços públicos por grande parte da população brasileira”, esta é a síntese da gestão que caminha para o fim

Na semana passada, última quarta-feira (14), o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) divulgou “As contradições da melhora dos indicadores econômicos no Brasil” , que contradita, de forma consistente, a equipe econômica e o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Bolsonaro afirmou, dia 28 de agosto, no debate promovido pela TV Band, que o governo dele “está dando certo” e “a economia está bombando”. Ele não fez menção aos 33 milhões de brasileiros que passam fome, segundo o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, publicado em junho. 

Na análise apresentada para o debate, o Dieese pontua que o PIB (Produto Interno Bruto) registrou crescimento no 2º trimestre de 2022.

“As taxas de inflação dão sinais de arrefecimento”, todavia “seguem em alta, consumindo a baixa renda dos mais pobres e contribuindo para o elevado endividamento das famílias e a inadimplência. No mercado de trabalho, o desemprego cai, mas às custas de precarização e informalidade, salários baixos”, pontifica o documento.

Assim, por meio do documento, o Dieese mostra as “diversas contradições envolvendo o discurso [oficial] de retomada da economia.”

PIB e atividade econômica

“O crescimento do PIB brasileiro registrado trimestralmente desde 2021 é mais recuperação das perdas ocorridas durante a pandemia do que real ampliação de novas estruturas produtivas.”

Mercado de trabalho e endividamento

“Outro indicador que tem sido comemorado em várias análises é o que diz respeito à ocupação. O mercado de trabalho tem apresentado melhora na taxa de desemprego, mas isso ocorre mediante manutenção e aprofundamento de desigualdades estruturais de renda e oportunidades.”

“Entre desocupados, trabalhadores desprotegidos, desalentados, ocupados com insuficiência de horas e em negócios familiares, são cerca de 60 milhões de pessoas.”

“Quase 80% das famílias estavam endividadas no Brasil em agosto de 2022, de acordo com a Peic (Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).”

Inflação

“Entre setembro de 2021 e junho de 2022, bateu dois dígitos durante 10 meses seguidos no acumulado de 12 meses (IPCA – Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, do IBGE).” “A alta generalizada reflete, na realidade, escolhas que enfraqueceram, por anos, a economia.”

Combustíveis

A alta incessante dos combustíveis e do gás de cozinha, nada tem a ver com o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). “O problema é a política de preços de paridade de importação (PPI) da Petrobras, adotada em 2016, que simplesmente repassa qualquer aumento dos preços internacionais aos preços internos.”

“Essa escolha de política privilegia os importadores de combustíveis e os acionistas da empresa (inclusive o Tesouro Nacional).”

Fome e crise social

Mais de “33 milhões de pessoas passando fome” no Brasil, segundo estudo da Rede Penssan (Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional). “Os segmentos mais pobres continuam com extrema dificuldade para sair da fragilidade social em que se encontram.”

Sucateamento dos serviços públicos

“A redução da oferta dos serviços públicos” é um dos aspectos marcantes do governo Bolsonaro. Tudo que estava ruim, antes de Bolsonaro, piorou sob Bolsonaro. É importante frisar que o segmento mais pobre da população brasileira, grosso modo (80%), e a que mais demanda o Estado, em particular, serviços públicos.

O Dieese finaliza a “Síntese Especial” para debate afirmando que não há “indicativo algum de que [as pequenas melhoras] se tornarão estruturais”. Isto, “por causa das escolhas políticas feitas até o momento. Também não têm efeitos sobre os principais problemas: os preços continuam altos, os salários não sobem, há multidões nas ruas à procura do que comer e as filas no serviço público continuam crescendo”.

Marcos Verlaine

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