Dia do Professor 2019: a resistência em defesa da educação, da ciência e pela valorização dos professores

“Apagar o professor é apagar o futuro.”

Por Maria Clotilde Lemos Petta*

A data comemorativa do Dia do Professor — 15 de outubro —, neste final da segunda década do século XXI, deve ser oportunidade para uma reflexão sobre o papel deste profissional na sociedade glorificada como sendo do “conhecimento”. Se, por um lado, ao nível do discurso, a educação, e em decorrência o professor, são considerados como decisivos para o futuro das novas gerações e nações, paradoxalmente as condições de trabalho dos professores é marcada pela instabilidade, a precariedade, a intensificação do trabalho docente com tendência inclusive de desprofissionalização.

O português António Nóvoa, um dos maiores especialistas mundiais em formação de professores, aponta também outro paradoxo: a glorificação da sociedade do “conhecimento” se contrapõe com a dificuldade da formação inicial de qualidade na formação continuada dos professores e com o desprestígio acentuado desse profissional. Essa realidade é contraditória, na medida em que, embora os professores sejam atingidos pela desvalorização, continuam com o papel principal na organização do processo ensino-aprendizagem.

No Brasil, com a atual onda conservadora e antidemocrática reforçada pelo governo Bolsonaro, nega-se o papel crucial da ciência e das pesquisas científicas e promove-se todo tipo de ataques à educação e ao professor. O Fórum Nacional Popular de Educação (FNPE), no dia 2 de outubro, em Brasília, no ato “Educação pública, ciência, tecnologia e soberania do Brasil: Não tirem o dinheiro da educação básica e das universidades públicas”, denuncia que “estamos diante da maior ofensiva das elites contra o direito à educação no país”.

Diante deste quadro adverso, crescem pelas várias regiões do país iniciativas de organização de resistência para o enfrentamento às medidas regressivas, arbitrárias e autoritárias do atual governo. Na cidade de Campinas (SP) professores e professoras dos setores público e privado, dos diferentes níveis educacionais, se uniram na organização de uma “Frente ampla em defesa da educação e pela valorização dos professores”. Uma primeira iniciativa dessa Frente foi a construção de uma agenda unitária dos eventos promovidos pelas diferentes organizações no mês de outubro. O “Outubro Unificado em defesa da educação e dos professores” tem implementado uma agenda muito diversa, com atos, debates, palestras, seminários, atividades culturais, festas, caminhadas, com destaque para a mobilização para a Assembleia Extraordinária da Unicamp, em defesa da ciência, da educação e da autonomia universitária no país.

Nessa agenda de lutas, tem-se buscado também uma maior aproximação com setores populares, buscando alertar a população para as consequências desses ataques para o futuro da sociedade brasileira. Neste sentido, foi organizado um evento denominado Ciência na Praça, alternando atividades culturais (teatro, atividade circense e coral) com aulas públicas e demonstração de pesquisas científicas, buscando aumentar a consciência sobre conquistas que só foram possíveis graças ao trabalho de professores, pesquisadores e estudantes. As aula públicas objetivaram também fomentar o debate sobre temas educacionais candentes no atual momento. Entre esses destacamos “A educação e os direitos humanos no Brasil”; “Conversa sobre educação climática com a apresentação de uma maquete dinâmica sobre a necessidade de se manter a floresta em pé”; “A disciplina de sociologia na educação brasileira”; “As escolas cívico-militares”; “A home school”, entre outras.

Enfim, essa luta precisa continuar, seja através do Fórum Nacional Popular de Educação, das organizações sindicais e profissionais nacionais e estaduais, ou seja em lutas locais nos municípios, a exemplo de Frentes Amplas de Educação. Como ressalta o coordenador-geral da Confederação Nacional dos trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino — Contee, professor Gilson Reis, “a educação tem muitas possibilidades nesta luta política e nós somos chamados a assumir nossas responsabilidades e que a gente possa continuar acumulando força para uma ruptura maior num futuro próximo” .

*Maria Clotilde Lemos Petta é coordenadora da Secretaria de Relações Internacionais da Contee, diretora do Sinpro Campinas e Região e vice-presidente da CEA

Veja abaixo a programação do evento Ciência na Praça — Outubro Unificado — Dia do Professor — Em defesa da Educação e Valorização dos Professores, desta segunda-feira (14)

Local: Praça Rui Barbosa 237. Rua 13 de Maio,159, Centro,Campinas/SP (atrás da Catedral Metropolitana de Campinas )

Horário: das 10h às 16h

Organização : Adunicamp — Associação dos Professores da Unicamp; Apeoesp — Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo; Apropucc — Associação dos Professores da PUC Campinas; Sinpro — Sindicato dos Professores de Campinas e Região; Escola Sem Censura; Coletivo de Educadores da Rede Municipal de Campinas; mandatos dos vereadores de Campinas Carlão do PT e Gustavo Petta (PCdoB); STU —Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp

Programação:

9h30 às 10h — Esquenta: confecção de material na praça

10h às 10h05 — Abertura: breve exposição sobre objetivos do Outubro Unificado — Dia do Professor — Em defesa da Educação e pela valorização dos Professores

10h05 às 10h35 — Apresentação Circense — Ator Daniel Salvio

10h35 às 10h50 — Escola sem Censura — Professora Verônica Rolandi

10h50 às 11h05 — Educação e Ensino — Professor Arnaldo Lemos Filho — Sociologia — PUCC

11h05 às 11h20 — A Educação e os Direitos Humanos no Brasil — Professora Adelaide Albergaria — Advogados Independentes de Campinas — MAIC

11h20 às 11h35 — A Questão Indígena e a Educação — Alexandro Oliveira — Etnocidades

11h35 às 12h — A disciplina de Sociologia na Educação Brasileiro — Professor Lejeune Mirhan — Sociólogo, Professor, Escritor e Arabista. Membro da Academia de Altos Estudos Ibero-Árabe de Lisboa e da International Sociological

12h às 12h15 — A importância do Conhecimento Científica para a transformação da Sociedade — Professora Eliane Rosandisky — Economia — PUCC —Apropucc

12h15 às 12h30 — As lutas da União Campineira dos Estudantes Secundaristas — Nattan — Presidente da União Campineira de Estudantes Secundaristas — UCES

12h30 às 12h45 — As Escolas Privadas e a Valorização dos Professores — Professor Carlos Chileno — Presidente do Sinpro Campinas e Região — Diretoria da Contee

12h45 às 14h — Microfone livre para a população falar sobre a importância dos professores(as) em suas vidas

14h às 14h15 — As lutas dos Professores das Escolas Estaduais de São Paulo — Professora Suely Fátima de Oliveira — Diretora Estadual da Apeoesp

14h15 às 14h30 — Conversa sobre educação climática com a apresentação de uma maquete dinâmica sobre a necessidade de se manter a floresta em pé, mostrando a recarga do lençol freático — Professora Luiza Ishikawa Ferreira — Professsora da PUCC — Projeto de Monitoramento fluviométrico e identificação da fauna aquática em parceria com ONG Jaguatibaia e LADSEA (Laboratório de Apoio Multicritério à Decisão Orientada à Sustentabilidade Empresarial e Ambiental) da Faculdade de Engenharia Civil da Unicamp

14h30 às 14h45 — A Questão Ambiental e a Política — Professor Pedro Rocha Lemos — Vice-presidente da Congeapa, Professor colaborador do Instituto Federal de São Paulo — ONG Jaguatibaia

14h45 às 15h — As Escolas Cívico-Militares — Professora Daniela Zanchetta — Vice-presidente do Sinpro Campinas e Região e o vereador Gustavo Petta — Presidente da Comissão de Educação da Câmara Municipal de Educação de Campinas

15h às 15h — O Papel do Professor na proposta da Home School — Professora Conceição Fornasari — Diretora de Educação da Fepesp e Secretária-geral do Sinpro Campinas

15h15 às 15h30 — Apresentação de teatro — A Lição (primeira parte) — Direção Jonas Lemos

15h30 às 15h35 — Uma Escola para a Liberdade — Ator Marcelo das Histórias —Grupo Nina

15h35 às 15h45 — Apresentação de Teatro — A Lição (segunda parte) — Direção Jonas Lemos

15h45 às 16h00 — Encerramento: Atividade Cultural — Apresentação do Coral “Encantar com as Mãos” — o objetivo é expandir a comunicação em Libras e trabalhar de forma abrangente a acessibilidade e a igualdade, tendo com base estrutural a Língua Brasileira de Sinais.

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