Eleições 2020 nos EUA: O que muda para o Brasil com Joe Biden eleito?

Joe Biden foi eleito o 46º presidente dos Estados Unidos neste sábado (7). O democrata reuniu 273 delegados após vitória no estado da Pensilvânia. A vitória foi anunciada por veiculos como CNN, Fox News e New York Times. O resultado não é oficial, mas as projeções da imprensa americana acabam se tornando suficientes para que a população reconheça a eleição.

A maior potência econômica do mundo passou por um tumultuado processo eleitoral. De um lado o republicano Trump, que buscava a reeleição. De outro Biden, um democrata que venceu com dificuldade as prévias do seu próprio partido para concorrer à presidência dos EUA.

Insight (dentro)

De acordo com Pedro Moreira, jornalista e correspondente internacional que atualmente vive nos Estados Unidos, a situação naquele país é tão complexa que os candidatos pouco falavam sobre questões de política externa. Segundo ele, os temas que dominavam o debate eleitoral se resumiam em pandemia e economia. Por outro lado, existiam as excessões: Rússia, país sobre o qual há suspeitas de tentativas de interferência nas eleições e China, a grande rival.

“No primeiro debate presidencial, o Biden fez uma referência ao Brasil e isso merece um destaque”. Segundo Moreira, ao falar sobre a Amazônia, Biden mostrou uma grande preocupação ambiental. Além de citar a destruição do bioma pelo Brasil, afirmou que caso fosse eleito, criaria um fundo bilionário para a manutenção da floresta. Contudo, o jornalista pondera que isso pode ter sido uma forma de confrontar Trump, que além de não falar sobre a Amazônia, tem uma agenda ambiental baseada na negação da ciência.

Moreira projeta que com a eleição de Biden, o Brasil também perderá seu aliado preferencial nos organismos multilaterais, como a ONU. Ao contrário de Trump, o candidato democrata afirma que voltará a fazer parte do Acordo de Paris e de outros tratados internacionais, assim como dos fóruns mundiais de debates. “Os EUA poderão mudar de postura e isso isolará mais o Brasil”, disse Moreira, caso Biden seja eleito.

Entre a comunidade brasileira nos EUA, a disputa foi acirrada. Em pesquisa do Instituto Big Data, cerca de 61% dos brasileiros nos EUA votariam em Biden. Entretanto, uma nova pesquisa trouxe uma vantagem ainda maior do democrata: 71% a 27% de acordo com o Instituto Ideia.

Outsight (fora)

A análise dos estudiosos da Ciência Política no Brasil aprofunda a visão de Moreira.

O professor do departamento de Ciência Política da Unicamp, Andre Kaysel, ressalta que o debate sobre a política externa tem sido utilizado por Biden como uma diferenciação entre ele e Trump. Inclusive com o democrata tendo afirmado que a política externa é estranha ao republicano, já que o mesmo centrou suas ações basicamente no fortalecimento da política de fronteiras e o combate à imigração.

Aqui, o governo Bolsonaro promoveu um alinhamento automático com Trump – que não representa o País, mas parte de suas forças políticas. Com a vitória do Biden, Kaysel analisa que o governo Bolsonaro terá que mudar de postura. E o professor não descarta que Ernesto Araújo, atual chanceler brasileiro, possa ser descartado nessa conjuntura.

Kaysel também relembra que Biden retomou o assunto da Amazônia após o primeiro debate presidencial, sugerindo a importância de reunir o mundo para sua proteção. O que mostra que mesmo não estando em primeiro plano, a agenda de política externa está presente e pode ter consequências econômicas importantes para o Brasil em nível comercial, principalmente se os EUA se aliarem novamente à União Europeia.

Trump e Biden: Até que nem tão diferentes assim

Apesar da grande diferença na agenda ambiental, que coloca Biden do lado oposto do negacionista Trump – há importantes pontos de contato entre os projetos de política externa dos dois.

Por exemplo: ambos são favoráveis à contenção do avanço chinês no mundo, “ainda que de maneiras distintas”, segundo Kaysel. O professor explica que enquanto Trump trabalha com confrontos abertos, no campo comercial e até militar, Biden buscará uma abordagem no campo dos direitos humanos.

Contudo, a semelhança entre ambos que mais interessa ao Brasil é a promoção de agendas econômicas liberais na América Latina. Sobretudo em defesa dos interesses das empresas norte-americanas e contra o avanço da indústria chinesa.

Essa agenda liberal para os países do continente inclui desregulamentação de serviços públicos e financeiros e privatizações. Além disso, ambos – Biden e Bolsonaro – esperam do Brasil apoio para neutralizar governos progressistas na região.

Com a vitória, o democrata Biden terá ainda que se preocupar com a oposição ferrenha que a extrema direita americana fará ao seu governo. Tanto em nível nacional, quanto nas articulações que se espalham pelo mundo.

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