Em entrevista, ministro da Previdência não se compromete a extinguir o fator
O ministro da Previdência, Garibaldi Alves, afirmou, em entrevista ao “Portal IG”, que a discussão a respeito do fator previdenciário não deve ser retomada antes de 2015. Questionado se no ano que vem haveria um compromisso do governo em extinguir essa herança do governo FHC, ele foi evasivo e preferiu jogar a responsabilidade sobre o Congresso Nacional.
Em 2010, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve a oportunidade de acabar com o fator, após receber aval da Câmara dos Deputados. No entanto, isso não foi feito e coube à presidenta Dilma Rousseff tratar do assunto. Passados mais de três anos, tudo segue inalterado – e sem qualquer perspectiva de mudança positiva para a classe trabalhadora.
Desde a implantação do fator, em 1999, a redução média no valor das novas aposentadorias foi de 0,5% ao ano, com exceção de dezembro de 2003, quando o IBGE mudou a metodologia de cálculo e o confisco ficou em 11,6%, na média.
Apesar da pressão das forças conservadoras e da intransigência do governo, a CTB e demais centrais sindicais não abrem mão da luta pelo fim do fator previdenciário, que motivou uma nova manifestação unitária do movimento sindical em 12 de novembro e terá novos desdobramentos em 2014. “Não vamos permitir a continuidade do arrocho das aposentadorias, uma covardia contra a classe trabalhadora perpetrada por FHC, que chamou os aposentados de ‘vagabundos’, e até agora perpetuada por seus sucessores”, afirma Adilson Araújo, presidente nacional da CTB.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista de Garibaldi Alves:
Quando ocorrerá a substituição do fator previdenciário por uma outra ferramenta que consiga fazer com que o brasileiro postergue a aposentadoria?
Já houve várias tentativas no sentido de encontrar uma solução para esse problema que decorre do fato de nós não termos uma idade mínima para a aposentadoria. O fator previdenciário veio para procurar equilibrar essa situação, mas é certo que terminou sendo alvo de muitas queixas dos aposentados, sobretudo porque não há uma transparência maior nesses cálculos, eu diria não há uma divulgação de como se calcula esse fator previdenciário. Ele foi criado para adiar o momento da aposentadoria mas isso não funcionou porque as pessoas se aposentam e voltam a trabalhar para complementar a renda. Estamos sempre discutindo com o Legislativo uma alternativa porque o fator previdenciário foi responsável pela economia de R$ 44 bilhões aos cofres públicos. Essa economia viria da idade mínima.
E qual a idade mínima que se considera nesse cálculo?
A alternativa que se mostrou mais viável, mas que não encontrou consenso no Congresso, seria a soma da idade com o tempo de contribuição. Uma média que daria a fórmula 85/95 [para obter aposentadoria integral, a soma do tempo de contribuição e da idade teria de ser igual ou maior a 85, para mulheres, e 95, para os homens]. Mas o que é certo é que não houve ainda esse consenso.
E essa solução vem neste ano ou no próximo governo Dilma?
Eu não acredito, infelizmente, que possa ser encontrada uma solução este ano porque este é um ano eleitoral. Você sabe que isso reduz o tempo de atividade dos parlamentares, e é um consenso que em ano de eleição se torna mais difícil, porque além de o problema não ser fácil, é um ano que as paixões políticas se desencadeiam.
Enquanto não se consegue eliminá-lo, a Previdência estuda mudar a fórmula do fator – por exemplo, o método de cálculo da expectativa de vida?
O Executivo não tem estudado nesse viés. Não há como compatibilizar esses estudos com a legislação atual. O fator previdenciário é realmente lei, então ele teria de passar por uma discussão no Congresso. Há inclusive aspectos constitucionais.
Num próximo governo, caso o senhor continue ministro, compromete-se com estabelecer uma carência para pensão por morte ou acabar com o fator previdenciário?
Eu confesso a você que como ministro eu pretendia fazer com que essa discussão ocorresse no Congresso e pudéssemos aprovar matérias que viessem a contribuir para debelar o déficit, mas eu tenho que ser humilde e reconhecer que o ano não é fácil para isso.
E a partir de 2015?
É sempre uma interrogação.
Do Portal CTB, com informações do iG