Fundações ligadas a partidos lançam grupo para aglutinar forças democráticas

São Paulo – As seis fundações vinculadas aos partidos PT, Psol, PCdoB, PDT, PSB e Pros lançaram, na noite de ontem (31), em Brasília, o Observatório da Democracia, grupo de trabalho para acompanhar o governo de Jair Bolsonaro. Mais do que isso, o grupo pretende aglutinar forças democráticas, incluindo universidades e movimentos sociais, por exemplo, e até mesmo entidades como Ordem dos Advogados do Brasil e CNBB.

As seis fundações são João Mangabeira (PSB), Lauro Campos (Psol), Leonel Brizola- Alberto Pasqualini (PDT), Perseu Abramo (PT), Maurício Grabois (PCdoB) e Fundação da Ordem Social (Pros).

Segundo o presidente da Fundação Perseu Abramo, Marcio Pochmann, o Observatório vai elaborar relatórios periodicamente, produzir e difundir conhecimento e promover cursos e debates para acompanhar as políticas públicas e as consequências de seus impactos na sociedade. “Os relatórios permitirão subsidiar os partidos e a sociedade civil”, diz Pochmann. “Mas queremos um pouco mais: integrar também a sociedade civil, universidades, instituições de pesquisa no Brasil que já produzem análises a respeito das políticas públicas.”

De acordo com ele, “o primeiro passo para mudar a realidade é conhecê-la: se não conhecemos a realidade, temos dificuldade de mudá-la”. O grupo vai discutir fundamentalmente cinco áreas temáticas: soberania nacional, produção e inovação, infraestruturas econômica e social, dimensão social e dimensão ambiental.

Fransisvaldo Mendes, da Lauro Campos, afirmou que a intenção é “questionar que democracia queremos, inclusive dominando as novas tecnologias, armar a população com ideias para que as pessoas se previnam e não caminhem para a barbárie como estamos caminhando”. Ele citou o assassinato de Marielle Franco para ilustrar o fato de que o Brasil já adentrou a barbárie.

Renato Rabelo (Maurício Grabois) destacou a importância da união entre as seis fundações ligadas aos partidos progressistas. “É um fato inédito. As fundações dão exemplo aos partidos. Estamos diante da velha questão da unidade das forças de esquerda”, disse. Citando Pochmann, enfatizou que o Observatório está aberto a outras instituições e fundações. “Sem apoio da sociedade civil, das universidades, é difícil realizar um trabalho maior. Por isso está aberto.”

Ele defendeu que a resistência ao governo e suas políticas deve ser grande, mas não pode ser dominada por “seitas, mas ampla”. “Quando há uma tendência autoritária (governo Bolsonaro), a história diz que é preciso se unir. A democracia une amplas correntes e camadas sociais.”

A presidenta do PCdoB e vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, lembrou que o crescimento da extrema-direita não é um fenômeno exclusivamente brasileiro, mas destacou que a esquerda brasileira (e também mundial) precisa ter um papel relevante na formulação de novas ideias.

Porém, para criticar a dificuldade de união, ela destacou a necessidade fundamental de o campo progressista ter “resistência, amplitude e sagacidade”. “Nem sequer conseguimos nos unir no segundo turno.” Durante o período em que o Brasil foi governado pela centro-esquerda, “conseguimos conquistas no plano social, educação, infraestrutura urbana, os bancos públicos nunca estiveram tão a serviço de um Estado soberano, a política externa altiva.”

No entanto, apontou, os governos não foram capazes de mudar as “superestruturas”. “Não cuidamos de um projeto político ousado, de enfrentar a superestrutura do Estado, a reforma política, dos meios de Comunicação e do poder Judiciário, e fomos vitimas dessa mesma superestrutura usada contra nós, que fez com que a gente perdesse no campo do debate político ideológico.”

Deputada federal que toma posse nesta sexta (1°), a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, lembrou que o Brasil acabou de passar pelo “período mais longevo” em que a democracia política vigorou, a partir da Constituição de 1988. A democracia social, porém, só passou a ser perseguida a partir de 2003, com o primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva. “Achava-se no Brasil que a fome era natural. Não se falava do Estado como indutor de bem-estar social”, disse.

Ressaltou que, embora ainda insuficiente, mesmo o avanço dos governos populares foi demais para as classes dominantes. “Nem isso as elites brasileiras suportaram. E tiveram que intervir. A eleição de Bolsonaro é consequência de um processo de golpe.”

Presidente da Fundação João Mangabeira, Ricardo Coutinho defendeu que o Observatório da Democracia deve servir de instrumento para que o campo progressista “saia da defensiva para retomar a ofensiva”. Para ele, o grupo pode também ser uma ferramenta importante para “fornecer instrumentos às bancadas dos partidos”. Ele disse que o avanço “genocida, excludente” do grupo que assumiu o poder no Brasil se elegeu por meio de uma anti-eleição forjada nas mídias sociais.

“Qual país em que um presidente foi eleito sem participar de um debate, sem expor aquilo que representa?” Bolsonaro “seduziu a população pelo medo, sobretudo da violência”, disse. “Vivemos um período de trevas. As seis fundações serão um instrumento para trazer luzes para o debate. Um instrumento de defesa de nossa combalida democracia.”

Rede Brasil Atual

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