Lula diz a aliados que deve indicar ministros políticos depois de PEC

Montagem final da equipe do petista deve ficar para as vésperas do Natal, segundo auxiliares

O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tem sinalizado a aliados que costuras políticas e a votação da PEC da Gastança na Câmara devem adiar o anúncio final da composição da Esplanada dos Ministérios para as vésperas do Natal.

O objetivo do petista é concentrar anúncios de ministros políticos —principalmente de partidos aliados— para depois da aprovação da PEC, numa estratégia para medir sua força no Congresso e a fidelidade das legendas que disputam espaço em seu governo.

Aliados de Lula ressaltam, no entanto, que ministros de perfil mais técnico poderão ser anunciados nos próximos dias. A previsão é que isso ocorra já na próxima sexta-feira (16).

O presidente eleito se encontrou na quarta (14) com o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Josué Gomes, e o convidou para comandar o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O empresário disse a Lula que avaliaria o convite.

A sinalização de Lula reforça o que ele disse na quinta-feira (8) a dirigentes do Avante: que só definirá os escolhidos em atendimento à cota dos partidos políticos aliados depois da aprovação da PEC na Câmara dos Deputados.

Lula e seus articuladores políticos, entre eles o deputado federal José Guimarães (CE), têm repetido que a prioridade é garantir recursos para benefícios sociais, como a continuidade dos auxílios emergenciais.

Com isso, o presidente eleito também busca tempo para desatar nós e aparar arestas entre aliados na disputa por assentos na Esplanada. Há brigas ainda que ocorrem dentro do próprio PT.

Existe também uma expectativa de que o presidente eleito divulgue em breve mais nomes de mulheres para compor seu ministério. O objetivo é balancear o anúncio da semana passada, quando todos escolhidos foram homens —o que gerou críticas ao petista.

Nesse caso, seriam mulheres que atendem a perfis técnicos ou da cota pessoal do presidente eleito. Entre as cotadas estão Nísia Trindade (Saúde), Izolda Cela (Educação), Marina Silva (Meio Ambiente) e Simone Tebet (Desenvolvimento Social).

Presente em uma reunião com Lula na terça-feira (13), o coordenador da CMP (Central de Movimentos Populares), Raimundo Bonfim, disse que o petista indicou que o desenho do primeiro escalão só estaria concluído dentro de dez dias.

Segundo Bonfim, Lula disse que está ciente de que o futuro Secretário-Geral da Presidência —posto com status ministerial— deve ser da sua confiança e contar com apoio dos movimentos sociais.

Hoje existem quatro nomes discutidos para a Secretaria-Geral, três deles pessoalmente ligados ao presidente eleito: os deputados Márcio Macedo e Emídio Souza e o advogado Marco Aurélio Carvalho, coordenador do grupo Prerrogativas.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, chegou a propor para o cargo o nome do secretário-geral do partido, Paulo Teixeira (SP). Pessoas que acompanham o tema dizem que uma opção de fora do PT ainda pode ser sugerido a Lula.

Em uma reunião na noite de domingo (11), o presidente eleito definiu com aliados o traçado da Esplanada dos Ministérios. Segundo participantes, o desenho deverá repetir o modelo de seu primeiro governo, quando foram 38 pastas. Para seu terceiro mandato, a expectativa é que sejam 35 pastas.

Na manhã de segunda (12), Lula se reuniu com membros do PT do Ceará para debater a possibilidade de nomeação da governadora do estado, Izolda Cela, para a pasta da Educação.

Como a opção por Izolda não é consensual na bancada do Ceará, o ex-governador e senador eleito Camilo Santana (PT) terá papel decisivo na escolha do representante do estado no governo Lula.

O próprio Camilo poderia vir a ocupar uma cadeira —é mencionado para a pasta das Cidades ou Planejamento.

Outro cargo em disputa é o Ministério do Turismo. Em reunião com Lula na semana passada, o Avante defendeu a nomeação do presidente do partido, Luís Tibé, para comandar a pasta.

Na conversa, Lula agradeceu o apoio do partido à sua candidatura ainda no primeiro turno. Foi então que informou que só deverá anunciar ministros com perfil político depois da votação da PEC.

O deputado Pedro Paulo (PSD-RJ) também é cotado para o Turismo. Ele tem o apoio do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. O deputado federal Marcelo Freixo (PSB) chegou a ser cogitado para a pasta, mas dificilmente o PSB ocupará três assentos na Esplanada.

O senador eleito Flávio Dino (PSB-MA) foi anunciado na última sexta (9) como titular da pasta de Justiça e Segurança Pública. Outro cotado como ministeriável é o ex-governador Márcio França (PSB-SP).

França despontou como favorito para chefiar o Ministério das Cidades — mas seu nome perdeu força nos últimos dias. Como alternativa, França poderia comandar o Ministério de Ciência e Tecnologia. O PSB não está satisfeito com o arranjo.

Já o Ministério das Comunicações, que será separado da Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social) no novo governo, poderá ser usado nas negociações para reforçar a base aliada no Congresso.

Um nome dado como certo entre petistas é o do deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) para a Articulação Política, cargo que já foi cobiçado pelo deputado federal José Guimarães. Como compensação, o cearense poderá ocupar a liderança do governo na Câmara.

Ainda há disputas pelas pastas das Mulheres e de Igualdade Racial. No primeiro, desponta o nome da ex-senadora e atual deputada federal Rejane Dias (PT-PI), indicação de seu marido e senador eleito Wellington Dias (PT-PI). A secretária de mulheres do PT, Anne Moura, também é citada.

Na Igualdade Racial, são cotados o historiador Douglas Belchior e a ex-ministra Nilma Lino Gomes.

Outra pasta cobiçada é a do Trabalho. Centrais sindicais indicaram o nome do ex-ministro e deputado eleito Luiz Marinho (PT-SP). Ele foi convidado e aceitou o posto. A decisão, no entanto, frustrou o PC do B, que havia manifestado interesse pelo ministério.

Na frente técnica, o presidente eleito deve anunciar nos próximos dias a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, como nova ministra da Saúde. O nome já circulava há semanas como provável para ocupar a pasta.

Lula disse a aliados que gostaria de uma mulher no comando do ministério. Mencionou ainda que não queria indicar alguém do setor privado.

Nísia é socióloga com mestrado em ciência política e doutora em sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro. Ela é presidente da Fiocruz desde 2017.

Na tarde de terça, a cantora Margareth Menezes confirmou que chefiará o Ministério da Cultura. Ela é primeira mulher entre os anunciados.

A senadora Simone Tebet, terceira colocada no primeiro turno e que se engajou na campanha do petista, também é certa para ocupar algum espaço na Esplanada.

Tebet é uma das cotadas para assumir a pasta do Desenvolvimento Social, responsável pelo gerenciamento do programa Bolsa Família. No entanto, há resistência no PT a entregar uma das vitrines do futuro governo a uma eventual adversária nas próximas eleições presidenciais.

Além disso, petistas defendem o nome da ex-ministra Tereza Campello, militante histórica do PT e especialista em assuntos referentes a programas de transferência de renda.

Da Folha de S. Paulo

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