Lula se reúne com eurodeputados e propõe nova agenda para ONU: “repactuar novos participantes”

Segundo o ex-presidente, este é o tema “mais essencial” para o mundo hoje e que já não pode ser mais ignorado nem tratado como assunto particular de cada país

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), da Federação Brasil da Esperança, sustentada, além do PT, pelo PCdoB e PV, com apoio de outras legendas como PSB, PSol, Rede, Solidariedade, Avante, Agir (antigo PTC) e Pros, fez movimento importante, na segunda feira (29), a fim de propor nova repactuação na ONU (Organização das Nações Unidas), com propósito de criar nova governança global em torno da questão do meio ambiente.

Ele se reuniu com deputados europeus, em São Paulo, como parte da agenda internacional que tem feito desde o fim do ano passado.

Lula se encontrou com 13 parlamentares e representantes da S&D (Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas) do Parlamento Europeu. Ele recebeu documento com propostas de cooperação entre Brasil e União Europeia, em caso de vitória, e apoio do grupo.

GOVERNANÇA GLOBAL SOBRE O CLIMA

Aos eurodeputados, Lula propôs que é preciso haver uma direção global que gerencie as decisões climáticas. Segundo ele, este é o tema “mais essencial” para o mundo hoje e que já não pode ser mais ignorado nem tratado como assunto particular de cada país.

O ex-presidente expressou sua crítica à forma como temas climáticos são gerenciados hoje, em que há debates internacionais para formulação de diretrizes, porém cada país decide se vai ou não acatar e assinar os protocolos. Para Lula, isso já não funciona mais.

Aos eurodeputados, Lula disse: “O que nós precisamos é repactuar os participantes da ONU. É tentar colocar outros países de outros continentes para que a gente crie uma nova governança e preste atenção numa coisa séria: a gente não resolverá a questão climática se não tiver uma governança mundial que decida e que todos tenham que cumprir. Porque, se a gente continuar querendo discutir a questão climática decidindo nos encontros que nós fazemos em nível internacional e, depois, cada país tenta resolver seu negócio no seu estado nacional, [a mudança] não vai acontecer.”

MUDANÇA NO PERFIL DA ONU

Na conversa com os deputados, o ex-presidente voltou a falar de reformulação da ONU. Em coletiva à imprensa estrangeira na semana passada, ele já havia dito que é preciso incluir novos países no Conselho de Segurança da instituição para se adequar à geopolítica do século 21.

“Vamos trabalhar muito para construirmos uma nova governança nas Nações Unidas. A ONU de 2022 não pode continuar a ser a ONU de 1948. A geografia do mundo mudou, os países mudaram. Houve um avanço cultural extraordinário em cada país.”

Mudança relevante para o ex-presidente seria aumentar o número de membros permanentes do Conselho de Segurança e acabar com o poder de veto. Criado em janeiro de 1946, após a 2ª Guerra Mundial, o conselho só tem 5 países — China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia —, que têm poder de, mesmo isolados, vetar as propostas.

PARCERIA NA AMAZÔNIA E SOBERANIA

A sustentabilidade tem sido um dos principais temas abordados pela campanha e pelo plano de governo petista, que deve ser apresentado formalmente no início de setembro.

Lula referendou que o Brasil precisa ser soberano no território brasileiro, porém que, caso seja eleito, pretende estabelecer parcerias com outros países para desenvolvimento da floresta.

“Qual é o papel do Brasil? Nós precisamos de ajuda, de parceria, de investimento, de troca de ciência e tecnologia na participação da construção de um mundo efetivamente limpo, sem emissão de gás carbônico. E o Brasil pode ser protagonista nisso”, pontificou Lula.

“Da Amazônia, a gente pode extrair da riqueza, da biodiversidade, o suficiente para sustentar os mais de 30 milhões de brasileiros que moram na região, e na Colômbia, no Peru. O Brasil precisa compartilhar a pesquisa para que nós descubramos tudo que existe de riqueza na biodiversidade da Amazônia”, acrescentou.

Entre as diretrizes do plano de governo, há a defesa da soberania da Amazônia pelo Brasil e países vizinhos, do combate ao garimpo ilegal e da transformação da exploração na floresta a técnicas mais sustentáveis e setores mais compatíveis, como o farmacêutico, deixando de lado o desmatamento para criação de gado.

“O Brasil não vai se fechar em copa, o Brasil pretende construir relação com os países para que a gente possa dizer: embora o Brasil é [seja] o dono do território da Amazônia, a Amazônia é de interesse da biodiversidade [mundial], então todos têm responsabilidade para ajudar a cuidar da Amazônia”, prometeu Lula, em sinal duplo de concessão e compromisso, aos deputados.

APOIO DA FRENTE SOCIALISTA

Lula recebeu ainda apoio da S&D. No encontro, dois eurodeputados da Espanha e de Portugal falaram sobre a diminuição do protagonismo do Brasil internacionalmente e como o país precisa melhorar a imagem para fora.

“Como tem se deteriorado a imagem do País [Brasil] no exterior”, lamentou Iratxe Garcia Perez, presidente da S&D e eurodeputada pela Espanha, em crítica à gestão de Jair Bolsonaro (PL). “Na Europa, a imagem de como o Brasil está destruído, o Brasil da igualdade social. Por isso, estamos muito conscientes da importância dessa troca [de governo]”, criticou Iratxe Garcia Perez.

“O Brasil deixou de performar e apresentar um papel importante no âmbito internacional. Sabemos que isso ocorreu no governo Bolsonaro. O Brasil precisa voltar a assumir esse papel de fortaleza”, disse Iratxe.

AGENDA INTERNACIONAL

Desde o final de 2021, o ex-presidente Lula tem tentado formar uma agenda internacional, com encontros com diferentes lideranças estrangeiras — com intuito, também, de se contrapor ao isolamento institucional ao qual atribui o governo Bolsonaro.

Os líderes europeus tem e veem expectativa em relação ao ex-presidente Lula. Tanto é assim, que a agenda do petista expressa isto:

· em novembro de 2021, Lula foi recebido com protocolo de chefe de Estado pelo presidente francês, Emmanuel Macron, em visita a Paris.

· em maio, Lula recebeu a princesa Marie-Esméralda Léopoldine, integrante da família real da Bélgica, em encontro feito a portas fechadas de “caráter particular”.

· no início de julho, o ex-presidente recebeu o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, também para reunião informal. Bolsonaro também ia se encontrar com o português, mas se irritou com a agenda com Lula e decidiu cancelar toda a programação.

· no fim do mesmo mês, recebeu a nova vice-presidente da Colômbia, Francia Márquez, eleita em junho, Gustavo Petro, primeiro presidente de esquerda da história da Colômbia.

COMO BOLSONARO É VISTO NO EXTERIOR

A postura do Brasil em temas delicados e sensíveis como a pandemia e o desmatamento da Amazônia deixa a sensação para muitos brasileiros de que o País e o presidente Jair Bolsonaro não são bem vistos no exterior. Todavia, isto não é apenas sensação brasileira.

O historiador, observador e brasilianista James Naylor Green, que também é professor na Brown University, nos Estados Unidos, analisou o governo de Bolsonaro durante esses 3 anos e meio de mandato. Segundo ele, o presidente do Brasil está “muito mal visto” pelo exterior por conta das atitudes e falas dele.

“Dentre as pessoas que estudam o Brasil lá de fora, ele está muito mal visto. Está sendo visto como um presidente incompetente, que tem uma linguagem grosseira e agressiva, que é machista, homofóbica, racista e sexista. Além de pouco interessado em defender o meio ambiente, ele está muito mal visto”, disse o historiador.

Acrescente-se à essa agenda negativa de Bolsonaro, que daria matéria à parte, o descaso com a pandemia, com a compra de vacinas, com o meio ambiente, em particular, com a Amazônia, os ataques à democracia e ao Estado de Direito, ao sistema eleitoral e às urnas eletrônicas.

Bolsonaro, por tudo isso, e mais um pouco, é visto com líder político disfuncional (anormal) e perigoso para o Brasil e para o mundo.

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