Na Palestina ocupada, não se escutam as “vozes pela paz” de Israel

O chanceler de Israel, Avigdor Lieberman anunciou, nesta segunda-feira (7), que seu partido Yisrael Beiteinu (Israel é Nosso Lar) deixará a coligação com o partido também de direita do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, Likud (União). O governo vê-se novamente ameaçado, enquanto os palestinos são alvo de ofensivas diárias e diversos grupos ainda apelam pela volta à esquecida diplomacia.

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho

No final do período de nove meses de negociações conturbadas e não sinceras, por parte do governo israelense, analistas nacionais já notavam o aumento da popularidade da direita em Israel. A falta de consenso interno e a promoção de discursos ultranacionalistas, de cunho agressivo contra os palestinos, explicavam o encerramento de mais um período de diálogos infrutíferos, assim como a passividade e a negligência do aliado de Israel, os Estados Unidos, em relação à expansão da ocupação israelense sobre os territórios palestinos.

A diplomacia foi aparentemente enterrada nas últimas semanas, devido à agressividade de uma sequência grave de eventos: o castigo ainda contínuo imposto aos palestinos pela reconciliação nacional com o Hamas – partido islâmico na liderança da Faixa de Gaza, classificado como “organização terrorista” por Israel – e a sua integração em um novo governo de unidade; o desaparecimento e a morte de três colonos israelenses na Cisjordânia, a operação militar de Israel no território, os ataques aéreos a Gaza e o aumento da violência já cotidiana dos próprios colonos e dos soldados, que já resultou em várias mortes entre os palestinos.

Ainda assim, um grupo de jornalistas, intelectuais, organizações sociais e acadêmicas realiza, nesta terça-feira (8), uma Conferência para a Paz, difundida há semanas pelo jornal israelense Haaretz. Da sua equipe editorial participam o jornalista Gideon Levy, crítico voraz da política israelense de ocupação e opressão, assim como Amira Hass, que foi, por muito tempo, a única jornalista israelense a residir nos territórios palestinos.

O chefe da delegação palestina nas negociações com Israel, Saeb Erekat, e a ministra israelense da Justiça, Tzipi Livni, também devem abordar o último período de conversações em que participaram, entre julho de 2013 e abril de 2014. Vários outros jornalistas e acadêmicos farão parte do evento. Os presidentes Mahmoud Abbas, da Autoridade Nacional Palestina (ANP), e o presidente Shimon Peres, que cumpre suas últimas semanas no cargo, também enviaram mensagens que serão reproduzidas na Conferência.

Várias outras organizações israelenses ou representantes da comunidade judaica pelo mundo têm se manifestado contrariamente à escalada da violência contra os palestinos, apelando pela volta aos diálogos e por uma solução final para a postergação, por quase sete décadas, de uma Palestina soberana, livre e independente. Embora análises e ponderações sobre o destino final, a chamada “solução de dois Estados”, sejam feitas em forma de questionamento por alguns céticos ou propulsores de novas abordagens, o objetivo continua sendo o da libertação palestina frente à ocupação e à opressão israelenses.

Entretanto, revezes frequentes no governo israelense, por mais acuadas que estejam as forças sionistas – de ideologia racista e fundamentalista, empregada para legitimar a ocupação e a colonização da Palestina pelo “povo judeu” através de interpretações tergiversadas da religião e da etnia –, lançam um espectro sobre as tentativas da diplomacia e da aplicação tardia do direito internacional. A impunidade dos sucessivos governos israelenses por seus crimes de guerra e crimes contra a humanidade é frequentemente denunciada, mas a aliança com os Estados Unidos tem garantido aos perpetradores um escudo infalível.

Diplomacia versus ocupação permanente

De acordo com oHaaretz, o anúncio de Lieberman – que citou “discordâncias fundamentais” para explicar a ruptura – custará ao governo de Netanyahu a redução da sua representação no Parlamento: o Likud passará de 31 para 20 assentos, apenas um a mais em comparação com o segundo maior partido na casa. Este enfraquecimento ainda poderá dar resultados antes da posse do novo presidente, também do Likud, Reuven Rivlin, de extrema-direita, contrário ao estabelecimento do Estado da Palestina e promotor da ideia de um “Grande Israel”.

A expressão dos colonos israelenses no seio do governo liderado por Netanyahu, representados por vozes agressivas e extremistas, também se mistura com o posicionamento de ultranacionalistas como Lieberman e tantos outros, que variam suas posições entre “racionais” defensores de uma “paz” racista e opressora ou uma colonização completa e aberta dos territórios palestinos ocupados, com a desejável eliminação de todo o povo palestino na região, como ficou afirmado por diversos líderes políticos nas últimas semanas, em discursos ou em redes sociais, na sequência do desaparecimento e da morte dos três colonos.

Exemplos também são as críticas de Lieberman e do ministro da Economia, Naftali Bennett, representante dos colonos ortodoxos e da linha extremista. Ambos têm instado Netanyahu publicamente a lançar uma nova operação militar contra a Faixa de Gaza, “em resposta” aos foguetes lançados pelas Brigadas Ezedin Al-Qassam, do Hamas, que protesta contra a ofensiva israelense na Cisjordânia e contra os ataques aéreos diários a Gaza. Entretanto, segundo observadores nacionais, o governo de Netanyahu não conta com a coesão interna necessária para lançar uma nova operação contra o território litorâneo, apesar de já ameaçar fazê-lo.

Neste sentido, ressoam os apelos pela volta à diplomacia, pela responsabilização dos líderes e soldados israelenses pelos graves crimes contra os palestinos e por uma atitude da chamada “comunidade internacional”, que encerre o ciclo infinito da violência profundamente assimétrica, em que a “potência ocupante”, Israel – como denominado pelo direito internacional -, continua subjugando um povo inteiro e punindo-o coletivamente, pelo que for, ou por resistir.

Do Portal Vermelho

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