Nem a pandemia impede o racismo de humilhar a classe trabalhadora no país inteiro

Por Marcos Aurélio Ruy

A crise econômica se aprofunda no país ao mesmo tempo que mais de 100 mil vidas foram perdidas porque não há coordenação nacional no combate à pandemia do coronavírus. Soma-se à crise econômica e sanitária a crise civilizacional, quando “assistimos a destruição da nação em apenas 19 meses desse desgoverno”, afirma Mônica Custódio, secretária de Igualdade Racial da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

A metalúrgica carioca destaca algumas manifestações racistas, “de uma sociedade ainda dominada pela mentalidade escravagista”, diz. “São acontecimentos que já deveriam estar abolidos de nossa sociedade, mas é o que mais vemos acontecer nas redes sociais, nas ruas, no mercado de trabalho, em toda a sociedade”.

A indignação da sindicalista está nas recorrentes ofensas racistas “banalizadas pela covardia em passarmos a limpo o nosso passado escravocrata e o autoritarismo da casa grande que não suporta as pessoas pretas, os indígenas e os pobres tendo ascensão na vida”, revolta-se.

“Felizmente, hoje as pessoas estão usando o celular e filmando as agressões”, acentua. “Como é possível um país como o nosso, de dimensão continental com um dos maiores biomas do planeta, as maiores reservas hídricas e minerais e a maior promessa em termos de energia limpa, esteja neste caos econômico, político, sanitário e civilizatório?”, questiona.

A indignação tem motivos fortes

Dois seguranças do Ilha Plaza Shopping, no Rio de Janeiro, entenderam o jovem Matheus Fernandes Biondi, de 18 anos e entregador de aplicativo, como suspeito pelo rapaz estar no shopping na quinta-feira (6).

Por que Matheus foi identificado como suspeito?  Ele é negro. O rapaz queria apenas trocar o relógio que comprou de presente para seu pai. Sem motivo, foi abordado e agredido pelos seguranças que são policiais militares, identificados somente como Esaú e Silva. “A lei servirá para punir esses dois agressores?”, pergunta Mônica.

Quem pensou que isso é tudo, atente para a história seguinte. No dia 23 de julho, a polícia e o conselho tutelar retiraram uma família de uma cerimônia num terreiro de candomblé, em Araçatuba, no interior de São Paulo. Uma avó evangélica prestou queixa contra a sua nora por ela ter levado a filha adolescente para a iniciação no candomblé.

Mãe e filha fora levadas à delegacia e mesmo a menina refutando as acusações da avó de que estaria sofrendo maustratos e abuso sexual, ela foi levada para fazer exame de corpo e delito. Nenhuma acusação foi provada, mas a mãe perdeu a guarda da filha para a avó evangélica porquea menina estava com a cabeça raspada como parte do ritual da religião de matriz africana.

Para Mônica, a intolerância religiosa é uma das marcas mais perversas do racismo estrutural do Brasil, mas “nesse caso está muito claramente explícito o caráter racista da justiça nessa cidade” porque “ninguém questiona o batismo de bebê e crianças pequenas em outras religiões” ou, na verdade, “o problema é a origem do candomblé”?

Não paramos aí. No dia 31 de julho, o entregador do IFood, Matheus Pires cumpria mais uma entrega de sua rotina, em Valinhos, interior de São Paulo. O cliente identificado como Mateus Abreu Almeida Prado Couto, morador no condomínio Madre Villac, foi filmado disparando ofensas racistas ao motoboy. “Você tem inveja disso aqui, você tem inveja dessas famílias, você tem inveja disso aqui (mostrando a pele)”, disse ele.

Outro caso refere-se à manifestação racista do comentarista esportivo Fábio Benedetti no jogo entre o Santos e a Ponte Preta pelo campeonato paulista de futebol, no dia 30 de julho. Benedetti foi demitido pela rádio Energia 97 FM por ter comentado a expulsão do jogador Marinho, do Santos. Ele disse “você é burro, você está na senzala, você vai sair do grupo uma semana para pensar sobre o que fez”.

Em suas redes sociais Benedetti assumiu o seu erro, o seu racismo e pediu desculpas e diz estar disposto a promover debates sobre racismo por suas redes com o objetivo de superar o racismo. “Reitero aqui o meu compromisso de promover debates em minhas redes sociais e prometo me empenhar para aprender e lutar contra o racismo e toda forma de preconceito”, afirma o comentarista.

“A negação da humanidade dos não brancos serve de combustível para alimentar o ódio contra população negra, majoritária no país”, afirma Mônica. “E ainda tem gente que diz não existir racismo no Brasil ou tenta diminuir a importância do combate ao racismo, taxando-o de luta identitária”.

CTB

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