O caixa dois de Bolsonaro e as fake news sobre educação

Entre a avalanche de fake news disseminadas via WhatsApp com os milhões de caixa dois pagos por empresas no crime de fraude eleitoral cometido por Jair Bolsonaro e sua campanha, denunciado nesta semana pelo jornal Folha de S. Paulo, as falsas informações sobre a educação são graves e têm sido responsáveis por fazer grande parte da população manifestar intenção de voto no candidato do PSL com base em mentiras.

O inexistente “kit gay” é a principal delas. Segundo noticiado na última quinta-feira (17) pela Agência Pública, a busca no Google pelo tema bateu recorde antes da decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de determinar a retirada de seis vídeos que afirmaram que o livro “Aparelho sexual e cia” foi adotado durante a gestão de Haddad no MEC. A matéria da Pública começa com o exemplo da professora Renata Bragança, que dá aulas para o ensino fundamental, e que, ao receber a falsa denúncia da “cartilha gay” pelo aplicativo de mensagens, ofereceu R$100 pelo kit, sabendo, claro, que ninguém o teria, porque, obviamente, ele nunca existiu.

A mentira se baseia no material “Escola sem homofobia”, que foi suspenso pelo governo federal em 2011 por ter sido alvo de críticas de setores conservadores. Mas a pecha de “kit gay” prolifera desde então e foi usada de maneira calhorda — e, por que não dizer?, criminosa, já que com dinheiro de caixa dois — por Bolsonaro em sua campanha. A fake news se cola instantaneamente a uma outra, que, em 2014, provocou polêmica quando da votação do Plano Nacional de Educação (PNE): a de que existe uma suposta “ideologia” de gênero a aliciar crianças nas escolas. Nesse caso, o preconceito, o machismo, a homofobia, o conservadorismo religioso — e também uma boa dose de desconhecimento — fazem setores da sociedade questionar o papel da educação em defesa da igualdade de gênero (isto é, o entendimento de que todos e todas têm os mesmos direitos) e no combate a todos os tipos de discriminação.

Essas duas questões, que no fundo são uma só, estão contidas numa terceira: a ideia falaciosa de que existe uma pretensa doutrinação de esquerda nas escolas brasileiras (como se as pautas humanitárias e de de direitos humanos, como o respeito à diversidade, fossem uma exclusividade da esquerda). A vertente religiosa e conservadora, aliás, é o terreno onde o movimento Escola Sem Partido (que de apartidário não tem absolutamente nada além do nome) e seus projetos de Lei da Mordaça encontra seu solo mais fértil para censurar, perseguir e criminalizar professores. O resultado disso é uma das propostas mais nocivas de Bolsonaro e seus apoiadores: a implementação do ensino a distância desde a educação básica, o que traria profundos prejuízos não só à socialização da criança e do adolescente e ao processo de ensino-aprendizagem, rebaixando a formação dos estudantes e contribuindo para a desprofissionalização do magistério, mas especialmente para as famílias mais pobres, nas quais os pais não têm onde deixar seus filhos para trabalhar e nas quais a merenda escolar é, muitas vezes, a principal refeição diária do estudante.

Todas essas falsas notícias não são parte apenas de um crime financeiro que afronta a legislação que rege as eleições. A fraude eleitoral de Bolsonaro é também um crime contra a educação como direito de cada cidadão e cidadã.

Por Táscia Souza

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