O casamento gay e os falsos moralistas

A histórica decisão da Suprema Corte dos EUA, que derrubou na sexta-feira (26) os vetos estaduais à união entre pessoas do mesmo sexo, gerou uma nova onda homofóbica no mundo. Ao mesmo tempo em que milhares de jovens se reuniram em Washington para festejar a legalização do casamento gay, setores do Partido Republicano acusaram o presidente Barack Obama de destruir a sagrada família e a nação ianque.

Por Altamiro Borges*, em seu blog

Já no Brasil, seitas conservadoras – inspiradas pelos “pastores” Silas Malafaia e Marco Feliciano – chegaram ao ridículo de afirmar que o império capitalista havia se tornado comunista e ateísta. O discurso raivoso só confirma o falso moralismo destes setores retrógrados e direitistas.

Escândalos sexuais dos conservadores nos EUA

No início de junho passado, dois expoentes da direita ianque, que construíram fortuna e se projetaram na política com a sua retórica fundamentalista, foram desmascarados no seu falso moralismo. Dennis Hastert, ex-presidente da Câmara dos Deputados e falcão do Partido Republicano, foi acusado de ter cometido abusos sexuais. Ele inclusive teria desembolsado US$ 3,5 milhões (cerca de R$ 11 milhões) para comprar o silêncio de um homem que conhecia seu passado podre. Com a abertura de inquérito sobre o escândalo, o conservador de 73 anos optou por se esconder em sua fazenda em Wisconsin.

“Nesse período, surgiram testemunhas acusando Dennis Hastert, que foi professor de educação física e técnico de luta livre numa escola nos anos 70 e 80, de manter relações sexuais com alunos de 14 anos. Hastert, que é evangélico, foi um dos líderes do movimento pelo impeachment do democrata Bill Clinton – o então presidente havia mentido sobre um caso extraconjugal com a estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky. No meio dessa crise política, em 1999, foi alçado a presidente da Câmara, cargo que manteria até 2007, já sob George W. Bush (2001-2009)”, descreve reportagem da Folha.

A queda do falso moralista se deu quase simultaneamente às denúncias contra uma das famílias mais conservadoras dos EUA, que protagoniza há dez temporadas o reality show “19 Kids and Counting”. “No programa, de maior audiência no canal pago TLC, Michelle, 48, e Jim Bob Duggar, 49, pregam contra anticoncepcionais, aborto e casamento gay. O casal virou ícone dos conservadores no país. O filho mais velho do casal, Josh, 27, molestou as irmãs adolescentes e uma amiga enquanto dormiam, quando tinha 15 anos. Um boletim de ocorrência foi aberto na época, mas a família abafou o caso”.

Ainda segundo a Folha, Jim Duggar foi deputado por 12 anos no Arkansas. Ele e sua mulher eram as estrelas no palanque republicano, simbolizando os valores da família tradicional. “As polêmicas com Hastert e os Duggar são acompanhadas diariamente pelas TVs, relembrando batalhas pela moral e pelos bons costumes nos anos Clinton e Bush. Hastert foi descoberto por causa de saques irregulares de suas contas bancárias, e a investigação levou ao escândalo sexual. O processo contra o ex-deputado, que já foi o segundo homem na linha sucessória para a Casa Branca, está apenas no começo… Já o programa dos Duggar foi suspenso, e não se sabe se o canal TLC vai retomá-lo”.

A “blasfêmia” da Parada Gay e o “Pai Nosso”

Estes falsos moralistas, entre vários outros, lideraram a raivosa campanha contra o casamento gay nos EUA. Agora, porém, podem cair no ostracismo, perdendo os holofotes para suas bravatas religiosas e reacionárias. Já no Brasil, os falsos moralistas – que estão histéricos com a decisão da Suprema Corte ianque – ainda não foram desnudados. Pelo contrário. Nas eleições do ano passado, eles aumentaram sua presença no Congresso Nacional e ainda conseguiram, em janeiro, eleger o presidente da Câmara Federal, o lobista “evangélico” Eduardo Cunha. No início de junho, revoltados com a “blasfêmia” da Parada Gay em São Paulo, eles desrespeitaram a Constituição e rezaram no plenário do Legislativo.

Segundo relato do Estadão, “com a anuência do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deputados da bancada religiosa interromperam a votação de um dos itens da reforma política para protestar contra o que chamaram de ‘cenas blasfemas’ praticadas durante a 19ª Parada Gay em São Paulo… Empunhando cartazes com imagens da Parada Gay e de manifestações conhecidas como ‘Marcha das Vadias’ e ‘Marcha da Maconha’, os parlamentares se enfileiraram atrás da Mesa Diretora presidida por Cunha, que é membro da Assembleia de Deus em Madureira, gritaram por diversas vezes a palavra ‘respeito’ e rezaram em coro o ‘Pai Nosso'”.

Na atual onda conservadora no país, os falsos moralistas – alguns mais sujos do que pau de galinheiro – estão na ofensiva. Até hoje eles não engolem o fato do Brasil ser um dos primeiros países do mundo a aprovar o casamento homoafetivo, em 2013. Através do palanque midiático, em que as concessões públicas de rádio e tevê são invadidas por programas religiosos, eles estimulam o ódio homofóbico. O resultado é o aumento da violência e do preconceito. Somente em 2014, ocorreram 326 mortes no país, segundo pesquisa do Grupo Gay da Bahia. Através do falso moralismo, estes “pastores” erguem fortunas e conquistam posições políticas. Enquanto não são desmascarados, cresce a sua perigosa influência na sociedade brasileira.

Altamiro Borges é presidente do Centro de Estudos de Mídia Barão de Itararé e secretário Nacional de Mídia do PCdoB.

Do Portal Vermelho

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