O coronavírus vai afetar a economia brasileira?

A confirmação do primeiro caso de coronavírus no Brasil, em um morador de São Paulo de 61 anos que esteve na Itália, levou o dólar às alturas e derrubou a B3, bolsa de valores brasileira. Durante o Carnaval, o surto já havia causado um quebra-quebra nas bolsas europeias, com a confirmação de casos autóctones (locais) na Itália.

Na noite de quarta-feira (26), a imprensa noticiou também que uma mulher norte-americana testou positivo para o vírus, sem ter deixado os Estados Unidos. Ou seja, se trataria de mais um caso autóctone.

O cenário causa apreensão ao cidadão comum, que, além de preocupado com a própria saúde e dos familiares, se pergunta de que forma a situação pode afetar a economia e seu bolso. Por enquanto, os impactos sentidos no Brasil são uma reação ao cenário externo e se verificam no comércio exterior e mercado financeiro.

Desdobramentos internos tais como fechamento de fábricas, comércios e escolas, que já acontecem na China, dependerão muito do potencial de disseminação do vírus. Até o momento, cientistas acompanham a evolução do coronavírus em climas mais frios. Ainda não é possível dizer como ele se comportará em um clima tropical.

Comércio

Segundo Guilherme Mello, professor do Instituto de Economia da Unicamp, a desaceleração da economia da China, que é o epicentro da epidemia, tende a afetar fortemente o Brasil. Afinal, os chineses são nossos principais parceiros comerciais. Com estabelecimentos fechados e a produção parada no país asiático, a demanda cai.

“É mais grave que a [crise] de 2008 porque é um episódio mais agudo, menos estrutural. Enquanto não se revolver a epidemia, não tem como estimular a economia. Não adianta colocar dinheiro na indústria, se a indústria está fechada. A China é muito afetada e agora a Europa está sendo afetada. A desaceleração geral complica nossas vendas para vários países. Então, o primeiro impacto é comercial”, afirma.

Mello lembra que, além da dependência do mercado chinês, as exportações brasileiras se apoiam excessivamente nas commodities, ou seja, em produtos sem valor agregado como soja e minério de ferro. Por isso, o país fica sujeito às oscilações de preços desses itens básicos. “Já está tendo redução generalizada [de preços]. Quem mais demanda esses produtos é a China e a China vai crescer menos”, diz.

O economista destaca que é possível, ainda, que haja impacto nas cadeias produtivas do Brasil e de outros países, uma vez que muitas linhas de produção dependem de produtos fabricados em solo chinês.

Bolsa e dólar

Outro impacto que se intensificou nos últimos dias diz respeito ao mercado financeiro. Assim que reabriu após o Carnaval, a bolsa de valores despencou, fechando em queda de 7% na quarta-feira (26). Foi a maior queda desde maio de 2018, quando a bolsa repercutiu a gravação da conversa de Michel Temer com Joesley Batista, dono da JBS. Na ocasião, houve baixa de 8,8%. No mesmo dia, o dólar encerrou a R$ 4,44 e, no pregão desta quinta-feira (27), ultrapassou os R$ 4,50.

Mas por que o coronavírus influi no mercado de ações e no câmbio? Guilherme Mello explica que os movimentos dos investidores têm a ver com aversão ao risco. “Eles tiram dinheiro do mercado brasileiro para colocar em algo mais seguro, em títulos do Tesouro americano. Com a saída de capital estrangeiro, há desvalorização da moeda brasileira [com consequente alta do dólar]”, afirma.

O problema do câmbio pode parecer distante do dia-a-dia da maioria dos brasileiros. Mas a verdade é que o dólar alto afeta diretamente a vida dos cidadãos. O preço dos combustíveis, por exemplo, está atrelado à moeda norte-americana em função da fórmula de reajuste adotada pela Petrobras no governo Temer. Os preços de produtos fabricados com matéria-prima importada também sofrem impacto. O Brasil é um grande importador de trigo, por exemplo, usado no pão e em outros alimentos.

Instabilidade interna

De acordo com Guilherme Mello, o coronavírus e o cenário externo são os principais responsáveis pela fuga de investidores, mas a instabilidade política tende a intensificar a saída de capital.

“O fator principal são os fatores externos. Agora, evidentemente, fatores domésticos podem dar um gás a mais. Com baixo crescimento, crise institucional e um governo que tem dificuldade de implementar uma agenda econômica, o investidor quer tirar o dinheiro dele”, comenta.

CTB

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