Para Bolsonaro, roubo de R$6 milhões do filho com a rachadinha “é prática comum”

Seu filho Flávio desviou R$ 6 milhões dos cofres públicos no Rio, segundo o Ministério Público. Queiroz, o operador do esquema, depositou R$ 89 mil na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro e até milícias lavaram dinheiro do gabinete mas, para Jair, é “tudo normal”

Jair Bolsonaro afirmou neste sábado (13), durante entrevista ao podcast Cara a Tapa, que acha comum a prática de rachadinha. “É uma prática meio comum, concordo contigo, meio comum isso aí”, disse Bolsonaro ao entrevistador.
Tanto Bolsonaro como seu filho, Flávio, implantaram esquema de rachadinha em seus gabinetes, ele em Brasília e o filho no Rio de Janeiro. Este esquema ilegal desvia recursos públicos para o bolso do parlamentar através da nomeação de funcionários fantasmas que são forçados a devolver – por baixo dos panos – parte dos salários para o gabinete.

LAVAGEM DO DINHEIRO

A lavagem de dinheiro do esquema da família Bolsonaro era operada pelo ex-policial militar e faz tudo de Flávio, Fabricio Queiroz, que recolhia o dinheiro roubado dos cofres públicos e distribuía para seu chefe ou para pessoas designadas por ele. Queiroz depositou 42 cheques na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro, no valor total de R$ 89 mil. Questionado recentemente, Bolsonaro inventou um “empréstimo” a Queiroz, mas disse que foi um erro mandar depositar na conta dela.

No ano passado, o nome do presidente da República voltou a ser relacionado ao escândalo criminoso. Em depoimento ao MP, a ex-cunhada de Bolsonaro Andrea Siqueira Valle afirmou que o irmão, André Siqueira Valle, foi demitido do cargo de assessor do então deputado federal porque se recusou a repassar o valor previsto na rachadinha.

O Ministério Público do Rio calcula que Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz desviaram cerca de R$6 milhões ilegalmente dos cofres públicos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Parte deste dinheiro, segundo o mesmo MP-RJ, foi lavado por meio de compra e venda fraudulenta de imóveis e também através de uma loja de chocolate que Flávio possuía na Barra da Tijuca.

MILÍCIAS PARTICIPARAM DO ESQUEMA

Outro esquema descoberto pela polícia foi que a lavagem do dinheiro desviado dos cofres públicos pelo então deputado Flávio Bolsonaro foi lavado com a ajuda da milícia do Rio das Pedras. Adriano Nobrega, um ex-policial que virou pistoleiro de aluguel e que chefiava esta milícia, empregou como fantasma no gabinete de Flávio sua mãe, Raimunda Veras, e sua ex-mulher, Danielle Mendonça da Costa Nóbrega.

Há registros mostrando que a mãe do chefe da milícia e assassino de aluguel, posteriormente morto numa operação da polícia, Adriano Nóbrega, depositou R$ 64 mil na conta de Queiroz. Tanto os registros da mãe de Adriano como as demais movimentações suspeitas foram descobertos pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão de controle de lavagem de dinheiro. Bolsonaro iniciou uma perseguição a este órgão assim que assumiu a presidência.

Não era só o filho de Bolsonaro que cometia esses crimes. Durante seu último mandato como deputado federal, Jair Bolsonaro empregou pelo menos cinco assessoras que não colocaram os pés nas dependências da Câmara, segundo documentos oficiais. As secretárias – todas mulheres, empregadas de longa data do presidente – não pediram a emissão de crachás de funcionárias nem se registraram como visitantes em nenhum momento desde 2015. Em outubro de 2016, seus salários variaram de R$ 1.023 a R$ 4.188.

FANTASMAS NO RIO E EM BRASÍLIA

No ano de 2016, o gabinete de Jair Bolsonaro empregou 22 assessores, segundo registros da Casa. De acordo com os documentos obtidos via Lei de Acesso à Informação, pelo menos cinco ex-secretárias não tinham credencial de funcionária da Câmara dos Deputados, três a possuíam e em dois casos não houve resposta. Entre 2015 e 2019, período da última legislatura, o Sistema de Identificação de Visitantes da Câmara tampouco registra alguma entrada das cinco ex-funcionárias.

A quebra de sigilo bancário, autorizada pela Justiça, mostrou que a filha de Fabrício Queiroz, a personal trainer Nathalia Queiroz, era funcionária fantasma de Bolsonaro e repassou a maior parte de seu salário de funcionária do gabinete em Brasília, quando Bolsonaro era deputado federal. Os dados mostram que ela transferiu R$ 150.539,41 para a conta do policial militar aposentado de janeiro de 2017 a setembro de 2018, período em que esteve lotada no gabinete de Jair Bolsonaro. Ela nunca pisou em Brasília.

O valor representa 77% do que a personal trainer recebeu da Câmara dos Deputados. Ela morava no Rio de Janeiro e trabalhava diariamente como personal trainer. Nathalia esteve lotada como funcionária no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro de 2007 a 2016. Depois ela foi transferida para o gabinete de Jair Bolsonaro em Brasília, mesmo residindo no Rio de Janeiro. Promotores identificaram ainda que Nathalia repassou ao menos 82% de seus vencimentos para o pai no período em que esteve lotada na Assembleia do Rio, de dezembro de 2007 a dezembro de 2016.

QUEIROZ E BOLSONARO: COMPARSAS DESDE A DÉCADA DE 80

As transferências ou depósitos ocorriam sempre em até uma semana após o recebimento do salário. Depois foram identificadas as transferências feitas nos salários recebidos do gabinete em Brasília. Amigo do presidente há mais de 30 anos, Queiroz foi apontado pelo MP-RJ como o operador financeiro do esquema da lavagem de dinheiro do gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

Depois de tudo isso, Bolsonaro ainda teve a cara de pau de repetir que eliminou a corrupção em seu governo. O que ele fez foi perseguir quem denuncia corrupção em seu governo. “Quantos casos nós tivemos no nosso governo? Nada”, afirmou, sem mencionar, por exemplo, o caso de suspeita de corrupção e má-gestão no Ministério da Educação (MEC), que levou ou à prisão o ex-ministro Milton Ribeiro. Nem os escândalos de superfaturamento com as verbas do “orçamento secreto”, outro esquema de roubalheira do dinheiro público.

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