Por dentro da paranoia olavista do novo ministro da Educação, Abraham Weintraub

“Os comunistas estão no topo do país. Eles são o topo das organizações financeiras. Eles são os donos dos jornais. Eles são os donos das grandes empresas. Eles são os donos dos monopólios”. Quem fala uma bobagem dessas jamais poderia estar junto na mesma sentença com a palavra “educação”, mas são frases saídas da boca do novo chefe do Ministério da…Educação.

“Trocaram um pseudo olavete por um verdadeiro olavete”, comentou um sorridente Olavo de Carvalho sobre a troca de ministros do MEC. O guru de araque do bolsonarismo continuará sendo o principal influenciador do ministério que tem o segundo maior orçamento do governo.

Desde antes da posse já estava claro que o obscurantismo tomaria conta do MEC. Bolsonaro chegou a convidar Mozart Ramos, um especialista na área com experiência na administração pública, mas foi obrigado a desconvidar após veto da bancada evangélica. Mozart não representaria bem a chucrice bolsonarista. Vélez então foi o nome indicado por Olavo e, em três meses, destruiu o ministério. Sem nenhuma competência para o cargo, o ex-ministro nada fez a não ser jogar uma crise por semana no colo do governo. A falta de experiência e o excesso de ideologização foram as principais causas para o desastre. E o que fez o presidente para fazer a máquina voltar a andar? Colocou em seu lugar Abraham Weintraub, uma nova marionete de Olavo sem nenhum serviço prestado na área da educação. É tecnicamente impossível haver um nome com experiência no setor que seja olavista. São coisas de naturezas incompatíveis.

O maior problema do MEC hoje se chama Olavo de Carvalho, mas o diagnóstico de Bolsonaro para o desastre da gestão Vélez foi a “falta de gestão”. Weintraub foi escolhido por sua experiência em gestão na área financeira. Foi executivo do Banco Votorantim e membro do comitê da BM&FBovespa. É um especialista em previdência e mercado financeiro. Sua única experiência em educação foi dando aula de Ciências Contábeis. A gestão na área financeira não tem nada a ver com gestão pública da educação de um país. É claro que a experiência em um setor pode ajudar em outro, mas muito pouco. São mundos completamente diferentes.

Apesar dessa pequena vantagem técnica em relação ao ministro anterior, tudo indica que Weintraub irá pisar o pé no acelerador do olavismo. O novo ministro bebe da mesma groselha lisérgica do anterior, com o agravante de ser mais determinado em colocar as loucuras em prática. Ele se vê como um gladiador anti-globalista em uma cruzada ideológica contra o marxismo cultural que lava a cabeça das nossas criancinhas. Algumas falas do “verdadeiro olavete” mostram que essa visão esquizofrênica de mundo continuará norteando a administração do MEC:

“O socialista é a Aids; e o comunista, a doença oportunista”

“Quando um esquerdista chegar para você com o papo ‘nhoim nhoim’, xinga. Faz como o Olavo de Carvalho diz para fazer. E quando você for dialogar, não pode ter premissas racionais”

“Hoje, a América do Sul, e o Brasil em particular, faz parte do espaço vital de uma estratégia clara para a tomada de poder por grupos totalitários socialistas e comunistas. (…) O crack foi introduzido no Brasil de caso pensado. Vejam os arquivos, está na internet!”

Onde sobra ideologia costuma faltar conhecimento. E a falta de conhecimento de Weintraub sobre a área que vai assumir é gritante. No ano passado, ele afirmou que o Brasil investe em educação como os países ricos, mas tem o mesmo resultado dos países pobres. Não é verdade. E nem é preciso ser um especialista na área para saber disso. Basta estar atento ao noticiário. O valor gasto pelo Brasil é menos da metade da média gasta pelos países da OCDE. O investimento por estudante é muito menor do que o de países ricos. O homem que vai comandar o MEC desconhece essa informação básica.

Bom, se o novo ministro não manja nada do setor, seria prudente contratar gente que entende do riscado para trabalhar com ele, não é mesmo? Mas bom senso não é algo que se possa esperar de um discípulo de Olavo. Todos os novos secretários anunciados nunca tiveram um mínimo contato com políticas educacionais. A única secretaria que manteve o titular foi a da Alfabetização, que tem um ex-aluno de Olavo de Carvalho no comando.

A nomeação de Weintraub deixou as universidades federais preocupadas. Nada mais natural. O discurso autoritário do novo ministro é, sim, motivo para apreensão. Nós sabemos muito bem o que pensa um olavista sobre as universidades. Somado a isso, há o histórico recente de perseguição da Polícia Federal às universidades. Como esquecer do caso Cancellier, o reitor da UFSC que foi preso sem provas pela Polícia Federal, destruindo sua reputação e o levando ao suicídio? Mesmo depois de provada a sua inocência, Sérgio Moro, que agora comanda a Polícia Federal, premiou a delegada responsável pelo caso com um cargo no seu ministério. Há motivos de sobra para as universidades federais temerem o governo Bolsonaro.

Nada indica que Weintraub será um parceiro das universidades federais, muito pelo contrário. Ele inclusive já disse que foi perseguido por professores e alunos na universidade federal onde leciona por apoiar Bolsonaro. Como será que os reitores das federais serão tratados por aquele que afirma que todos eles são comunistas? Ele já disse que não se deve debater com esquerdistas, apenas xingar.

O ex-ministro do MEC de Temer, Mendonça, se aconselhava com Mozart Ramos, o ministro que Bolsonaro desconvidou. Um dos conselhos foi evitar conflitos com universidades para que o país não entrasse num clima de greve geral. Um conselho valoroso que Weintraub provavelmente não seguirá, já que acredita que é preciso “vencer o marxismo cultural nas universidades”. E, para um bom olavista, qualquer um que não seja olavista é um agente propagador do marxismo cultural. Não tem como não dar errado.

Durante a cerimônia de posse de Weintraub, Bolsonaro discursou: “Os nossos ministros são como uma corrente que tem que puxar o Brasil pra frente. E não tem ministério mais forte que o elo mais fraco dessa corrente”. A frase não faz o menor sentido e, por isso, define bem a atuação do governo Bolsonaro na área da educação até aqui.

O MEC é provavelmente o ministério mais difícil de administrar. As demandas administrativas da pasta são muito específicas e complexas, além de estar cercada por disputas políticas em vários níveis que precisam ser respeitadas. O caminho que está sendo tomado é ruim. Weintraub não apresentou nada relevante em seu discurso de posse a não ser a ladainha ideológica e as platitudes bolsonaristas de sempre. Não apresentou planos, metas, nada de concreto. A prioridade é o combate ao comunismo. Ele luta contra os mesmos moinhos de vento que atormentavam Vélez, só que com mais fervor e disposição. A coisa pode piorar. Um olavete cheio de iniciativa em posição de poder é uma arma de destruição em massa.

The Intercept

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