Sinpro Campinas e Região: Depressão em docentes – Parte 1

Quem atua na Educação como docente sabe perfeitamente que a área é considerada como das mais estressantes, como todos nós que nela trabalhamos podemos admitir de imediato. São muitas as variáveis que tornam o fardo pesado, como a pressão dos pais, a cobrança por “resultados”, a carga horária desumana, o trabalho que se leva para casa, os baixos rendimentos, a falta de reconhecimento por parte da sociedade, e mais atualmente, a perseguição por parte de rábulas brandindo bandeiras “conservadoras” ou claramente fascistas, cobrando “moralizar” as salas de aula com seus anacronismos simplórios.

Ensinar e educar são tarefas que demandam esforço gigantesco: corpo e mente estão amiúde sobrecarregados a cada fim de semestre (ou muito antes), e a saúde do docente se coloca em xeque muito mais vezes do que chamaríamos de aceitável. E é um erro, no caso de docentes, assumir uma separação entre corpo e mente, uma vez que as contingências do dia-a-dia podem afetar gravemente cérebro e mente, com resultados danosos, como se sabe, a todo o corpo.

Mas, contando com a paciência dos leitores, esclareçamos que cérebro e mente são coisas diferentes, ainda que obviamente dependam um do outro[1]; enquanto o cérebro, em resumo, trabalha a partir de impulsos elétricos, neurotransmissores e sinapses para uma série de operações (inclusive manter o corpo funcionando), a mente é um elemento virtual, concebido e construído para resolver problemas, tomar decisões, elaborar possibilidades; em suma, enquanto o cérebro é fisicamente concreto e passível de exames imagéticos, por exemplo, a mente é um “algo”, muito mais difícil de apreender e definir, englobando raciocínio, emoções, cálculo.

A partir dessa brevíssima concepção já se pode considerar como pode operar a carga de trabalho e as pressões existentes em sala de aula/numa escola: ao corpo se exige muito, principalmente quando as jornadas de trabalho se dão em duas ou mais escolas, ou, no caso de professores de Universidades e Faculdades particulares, no assumir várias disciplinas, cargos, responsabilidades burocráticas. Ao cérebro se demanda imenso trabalho, simplesmente para manter operantes as tarefas cotidianas de nosso labor; e à mente se exige enorme esforço na resolução de problemas antigos, persistentes ou novos, já que a falta de rotina e as contingências são comuns em nossa profissão. Some-se a isso as exigências da vida fora do espaço de ensino, mais as questões que elencamos ao primeiro parágrafo desse texto, e teremos campo fértil para o surgimento de doenças físicas e mentais, e sendo a conexão entre elas certa, em maior ou menor grau, o quadro que surge é preocupante.

No caso, diremos sobre uma enfermidade mental, a depressão, e isso já é assunto muito vasto. Das dúvidas ainda existentes sobre seus mecanismos de funcionamento até a ignorância sobre a seriedade dessa doença (“é fraqueza de espírito” ou quetais…), a depressão ao menos permite uma certeza: trata-se de um mal que sob nenhuma hipótese deve ser ignorado ou subestimado, e não à toa a OMS (Organização Mundial da Saúde) coloca a depressão como doença a requerer urgente atenção.

Continua…

[1] Assim afirma Henrique Schültz Del Nero, em seu O Sítio da mente, Editora Collegium Cognitio, 1997.

Alexsandro Sgobin é professor e diretor do Sinpro Campinas e Região

Do Sinpro Campinas e Região

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