Sinpro/RS: Médico e pesquisadores debateram volta das aulas presenciais

Em live promovida pelo Sinpro/RS na noite desta terça-feira, 6, diferentes visões sobre o retorno das aulas presenciais foram confrontadas em debate

Por César Fraga

Demétrio Guadagnin, Pedro Hallal, Ricardo Kuchenbecker e Cecília Farias
Demétrio Guadagnin, Pedro Hallal, Ricardo Kuchenbecker e Cecília Farias. Foto: Reprodução/YouTube

Na noite de terça-feira, 6, especialistas das áreas da medicina e epidemiologia deram início ao ciclo de debates promovido pelo Sindicato dos Professores do Ensino Privado (Sinpro/RS) sobre as implicações sanitárias, pedagógicas e psicossociais que envolvem o retorno das aulas presenciais nas escolas gaúchas durante a pandemia de covid-19. O próximo painel será realizado na quinta-feira, 8 de outubro, às 18 horas. (Mais informações no final desta matéria)

O primeiro painel, intitulado Os riscos e desafios da presencialidade abordou as implicações sanitárias na reabertura das escolas.

Participaram, o professor e pesquisador Pedro Hallal, Reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel); o médico Ricardo Kuchenbecker, professor de epidemiologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs); e o pesquisador Demétrio Guadagnin, professor do Departamento de Ecologia da Ufrgs.

A coordenação da mesa foi da professora Cecília Farias e a mediação  com o público ficou a cargo do professor Rodrigo Perla, ambos diretores do Sinpro/RS.

Abertura

Na fala de abertura, o professor Marcos Fuhr, diretor do Sinpro/RS, destacou que há seis meses o processo de ensino aprendizagem vem ocorrendo nas escolas com “redobrado esforço e empenho dos professores, com a mediação de recursos tecnológicos, com a presença da participação familiar e com o acúmulo progressivo de cansaço e estresse de todos os envolvidos”.

Ele lembra, que a duração desse novo formato de ensino vem sendo estendida porque a pandemia “permanece entre nós”. E, que o medo do contágio no âmbito da comunidade escolar fez com que o retorno da presencialidade fosse adiado repetidas vezes.

Ele ressaltou também, que o Sindicato tem testemunhado a dedicação dos professores, cuja jornada de trabalho foi estendida para a além das regulamentações trabalhistas. O que exigiu um continuado esforço da entidade para atenuar o ímpeto de demandas dos gestores das instituições de ensino, a fim de evitar uma derrocada das condições físicas em mentais dos docentes.

“Os conteúdos estão sendo ministrados, quanto à assimilação por parte dos estudantes, só o tempo, a retomada da normalidade e a continuidade do processo é que nos dirão. Mas, eis que, por uma combinação de fatores, sanitários, políticos, sociais e educacionais estamos confrontados com o retorno do ensino presencial e essa combinação de fatores nos trazem a este debate”, introduziu Fuhr.

Comunidade escolar

A coordenadora da mesa, Cecília Farias, antes de apresentar os painelistas ressaltou a importância de se debater o tema, uma vez que o retorno das aulas presenciais tem gerado muitas dúvidas na comunidade escolar no que diz respeito à saúde física e psicológica dos professores e estudantes.

Ela lembrou que há um certo desencontro nas normativas dos governos, principalmente estadual e municipais no que diz respeito aos protocolos, prazos de início e orientações. “Tudo isso tem gerado insegurança na comunidade escolar”, explica.

Queda dos índices

O professor e pesquisador Pedro Hallal foi o primeiro a falar. Depois de explicar a pesquisa feita pela Ufpel, que ele coordena e que mapeia a proliferação do vírus no Brasil, sintetizou sua posição.

“Nós pesquisadores não somos e nem queremos ser neutros, mas nós não somos irresponsáveis. Vamos, portanto, enfrentar o tema do momento. E a pergunta é, as aulas presenciais devem voltar hoje, 6 de outubro ou neste começo de outubro?  Na minha opinião, não! Ao menos não neste momento”.

Ele já havia defendido essa argumento em live com o governo do estado semanas atrás e justificou. “Mas, por quê? Porque seria necessária uma queda nos índices de contágio e de mortes para haver este retorno. Também não sou favorável a tese de que só se deve voltar depois que tivermos a vacina. Para mim, tanto a defesa do retorno imediato com os números que temos, quanto a de voltar só com a vacina são posições extremadas, de 8 ou 80. Não defendo nenhuma das duas”, enfatiza.

Hallal defendeu que as aulas devem ser retomadas com protocolos bastante rígidos. “Nós precisamos conhecer e discutir esses protocolos com calma e tempo, depois de um declínio constante dos números, de quatro a cinco semanas. Isso baseado nos dados da França, da Espanha, dos países asiáticos”, concluiu.

Quando e como

O médico Ricardo Kuchenbecker afirmou ter muitos pontos convergentes com a fala do professor Hallal. “Tão importante quanto definir a data, que é o quando é também definir o como. De que forma vamos processar esta volta. Precisamos cotejar os riscos e os benefícios deste retorno. É inegável que retomar as aulas presenciais na educação infantil, nos ensinos fundamental e médio está associado a riscos. Não há dúvida de que eles existem e precisam ser conhecidos. Nós temos uma responsabilidade de informar direito, principalmente porque em nosso país, por diferentes razões esse debate se tornou menos claro, menos direto, menos objetivo”.

Para Kuchenbecker, houve excesso de ideologização do debate sobre o coronavírus no país, o que prejudicou em muito o entendimento da população. Falou também sobre pressões políticas.

“Quando eu digo que não tenho conflito de interesses, o faço porque em algum momento atores no processo de proposição da aceleração do retorno das aulas presenciais tinham conflito de interesses. O próprio sindicato patronal, à guisa da crise econômica que atinge o país e às escolas, exerceu alguma pressão para esta retomada.

Destacou também que as crianças e os adolescentes não são os “superespalhadores do covid-19” como se acreditava no começo da pandemia. Segundo ele, as crianças e adolescentes estão entre as populações de menor risco.

Retomada necessária

Para o pesquisador Demétrio Guadagnin, professor do Departamento de Ecologia da Ufrgs, a retomada é desejável e necessária do ponto de vista pedagógico porque o ensino remoto seria insatisfatório. “O ensino remoto é incapaz de realizar o que chamamos de processo educativo – que é o relacionamento autônomo entre os estudantes, em um espaço público, tendo um professor como mediador”.

Para o painelista, o ensino remoto só é capaz de algum treinamento. “O ensino remoto também reduz nossa autonomia no processo educativo, nos tornando reféns de ferramentas tecnológicas sobre as quais nós não temos controle – que apresentam risco de alienação, de exploração da mais valia, de reprodução ideológica, de submissão a empresas que atrapalham a educação e do reforço e consolidação de formas de relacionamento humano que desumanizam”, argumenta. “Mas, para retomar, precisamos reconstruir nossa visão sobre covid e escolas. Colocando a educação e os estudantes no centro das preocupações. Reconhecendo o papel essencial da escola na formação e na proteção dos estudantes. Examinando as evidências de forma correta e comunicando as evidências de forma crítica. Sendo coerentes e simétricos quanto a todos os cuidados e riscos de toda a sociedade. E reivindicando os múltiplos papéis que a escola desempenha na estruturação de uma sociedade saudável”, conclui Guadagnin.

Assista a íntegra do debate

Quinta-feira, 8, às 18 horas

O segundo painel será realizado na quinta-feira, 8 de outubro, com o tema Os desafios pedagógicos e psicossociais e avaliará os efeitos do distanciamento social no processo do ensino-aprendizagem e a retomada da presencialidade, bem como os impactos emocionais nos professores e estudantes.

Coordenado pelo professor Cássio Bessa, diretor do Sinpro/RS, contará com a participação da pedagoga Maria Cláudia Dal’Igna, professora do Programa de Pós Graduação em Educação da Unisinos; e da psicóloga Roséli Cabistani, professora da Ufrgs e psicanalista da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (Appoa); e Letícia Maria Passos Corrêa, professora no Governo do Estado do Rio Grande do Sul, é mestre em Educação e doutora em Educação pela UFPel.

O que e onde assistir:

SINPRO/RS DEBATE – O Retorno do ensino presencial no Rio Grande do Sul
8 de outubro, às 18h
Transmissão ao vivo pelas redes sociais do Sinpro/RS
YouTube Sinpro/RS – http://bit.ly/youtubesinprors
Facebook Sinpro/RS –www.fb.com/sinprors

Do jornal Extra Classe, do Sinpro/RS

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