Tempos sombrios

PROF. RAILTON NASCIMENTO 27 JANEIRO 2018

Estamos vivendo tempos sombrios. Nossa frágil democracia que completaria 30 anos de relativa estabilidade nesse 2018, tendo como marco fundante a promulgação da Constituição Cidadã de 1988, está na UTI. Vivemos um momento de tensão e insatisfação social desde junho de 2013 quando aconteceram as gigantescas manifestações.

O povo pedia mais educação, mais saúde, mais transporte, mais segurança, enfim mais estado. Mas de lá para cá o que vimos? Os golpistas que haviam perdido três eleições seguidas (duas para Lula e uma para Dilma), não aceitaram a quarta derrota em 2014. Decidiram derrubar a presidenta Dilma custasse o que custasse para impor sua agenda de contrareformas e rasgar a Consolidação das Leis Trabalhistas e o Pacto Social estabelecido na Constituição de 1988. E assim o fizeram criando a farsa do impeachment.

Agora a cereja do bolo dos golpistas é prender Lula e impedi-lo de vez de ser candidato à presidente da República novamente. Ao meu ver eles são inconsequentes e farão isso. Eles querem humilhar Lula e a esquerda e tirar do povo a esperança em um projeto que tenha o trabalhador e os movimentos sociais como protagonistas. Eles são profissionais do golpe.

A PF já está estudando a forma menos chocante de prender Lula.

Vão negociar com os advogados dele. Pedir a ele que se entregue livremente ou coisa do gênero. Mas a reação popular, especialmente do movimento social organizado, sindical, dos partidos progressistas e de todos que tem consciência da injustiça da condenação sem provas que ele sofreu, irá se manifestar com muita indignação e força.

A candidatura de Lula não está descartada. O Partido dos Trabalhadores já deixou claro que usará todos os meios jurídicos possíveis, embargos ao TRF4, recursos ao TSE, TSJ e STF. A pressão de muitos setores da sociedade civil organizada em defesa de Lula só cresce a cada dia. Muitos intelectuais, movimentos sociais do campo e da cidade, lideranças políticas, artistas, ativistas, juristas, blogueiros e jornalistas do Brasil defenderão Lula com a mesma força que no passado Nelson Mandela foi defendido quando preso injustamente pelo regime do apartheid na África do Sul.

O Partido dos Trabalhadores de fato não cogita Plano B pelo que vimos até agora. Nem mesmo os outros partidos de esquerda utilizam essa expressão. Existem outros pré-candidatos no campo mais progressista, como Manuela D’Ávila(PCdoB) e Ciro Gomes (PDT), que apresentam-se como alternativa de construção de um projeto Nacional de Desenvolvimento com Soberania, mas que nunca se colocaram como rivais de Lula ou plano B a ele.

O que todos os partidos consequentes e que respeitam a democracia estão defendendo é o DIREITO DO EX-PRESIDENTE LULA SER CANDIDADO, pois eleição sem Lula por causa de uma condenação injusta é fraude. Infelizmente vivemos uma fase de tentativa de esvaziamento da política. A esfera econômica com seu deus mercado vem submetendo a esfera política, forçando-a a eleger aqueles que defendem seu credo neoliberal.

Ao mesmo tempo em que se demoniza a política partidária, surgem os denominados ‘outsiders’ que dizem falaciosamente que não são políticos, não gostam de política, mas que são administradores, banqueiros e empresários de sucesso que se candidatam para consertar a política e levar para ela a sua experiência de gestores. Nesse linha contribuem e servem-se da crescente desmoralização da política e da derrocada de qualquer perspectiva de fortalecimento da democracia. O que eles pretendem é consolidar a política sem povo, sem participação, reduzindo-a a uma coisa para especialista, burocratas. Por causa disso, os poderes executivo e legislativo, únicos com representantes eleitos pelo voto direito, se enfraquecem e perdem o respeito do povo, graças à espetacularização de operações de combate à corrupção (a exemplo da Lava Jato) seletivas.

Revela-se, por aqui, um velho/novo poder, quase imperial, o judiciário. Estamos sob o governo e o arbítrio de jovens e homens de meia idade, magistrados burocratas do estado que pouco entendem de política e que passam a julgar a atividade política e a criminalizar, especialmente aquelas de matizes de esquerda e progressistas. Isso o fazem, conscientes ou não, com boa vontade ou não, em favor de uma política reacionária de uma elite oligárquica pseudocapitalista, herdeira do escravismo, que há séculos é hegemônica no Brasil. Elite essa que patrocinou o golpe contra a primeira mulher eleita presidente do Brasil, e que agora quer prender o operário que se tornou o maior líder político da América do Sul e presidente com a maior aprovação popular da história do Brasil.

Sim, o judiciário brasileiro é seletivo e constitui-se em um poder que passou a submeter os demais poderes graças ao esvaziamento da representatividade e à campanha de desmoralização midiática da política patrocinada pelos donos do mercado. Desse modo, o poder judiciário tornou-se o poder mais autoritário, efetivamente político, a exercer uma dominação burocrático-racional que faz o homem comum, que pouco entende de leis e da burocracia estatal, achar que os juízes são os homens mais neutros e justos do mundo. É assim que são vistos por muitos o juiz Sérgio Moro de Curitiba e os juízes Gebran, Paulsen e Laus, do TRF4, que condenaram Lula, em primeira e segunda instância.

O judiciário que faz vista grossa ou deixa prescrever crimes de políticos da direita (notadamente dos partidões de direita e das pequenas legendas de aluguel que protagonizaram a farra das privatizações – privataria tucana – dos governos de FHC, o mensalão mineiro de Azeredo ou os crimes de corrupção de Aécio Neves e de seu amigo Zezé Perrela, dono do helicóptero aprendido com meia tonelada de cocaína, ou ainda os escândalos recentes das malas de dinheiro de Rocha Loures, homem de confiança de Temer) é o mesmo que espetaculariza as acusações midiáticas contra políticos que não seguem sua agenda neoliberal.

Por isso, nós da CTB, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, defendemos que a única forma do Brasil voltar ao caminho do desenvolvimento com democracia e soberania é o participação cada vez mais intensa do povo na política. Defender o direito do ex-presidente Lula ser candidato e não aceitar sua condenação sem provas é compreender que a história será severa com esses que hoje silenciam-se diante da injustiça de uma elite inimiga do trabalhadores e de suas conquistas. A mesma elite que no passado voltou-se contra os presidentes JK, Getúlio e João Goulart para impedi-los de se candidatarem, incriminá-los injustamente se eleitos fossem, ou depô-los a força através de golpes caso o povo saísse em defesa do projeto de democracia popular e de reformas progressistas por eles representados.
Prof. Railton Nascimento Souza leciona filosofia no ensino médio e superior e é presidente da CTB Goiás e do Sindicato dos Professores do Estado de Goiás-Sinpro Goiás.

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