Bolsonaro usa pandemia para investir contra trabalhadores do ensino

A pandemia do coronavírus desnudou as desigualdades existentes no Brasil, denunciou a coordenadora da Secretaria-Geral da Contee, Madalena Guasco Peixoto, durante o debate, via internet, Educação em Tempos de Pandemia, promovido pela Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) nesta terça-feira, 14.

Dando início ao evento, o presidente da CTB, Adilson Araújo, afirmou que o sindicalismo está “aprendendo a viver neste mundo virtual e este tema é mais do que necessário, por isso a realização deste debate. A crise do coronavírus foi antecedida por uma das maiores crises do capitalismo mundial. O Fundo Monetário Internacional (FMI), que previa o crescimento da renda per capita em 160 países neste ano, agora projeta, com a pandemia, que a economia mundial se contrairá 3% em 2020. Isso afeta todos os setores, e a educação brasileira, que já vinha sendo vítima das medidas do Governo Bolsonaro, desastrosas para o setor, terá sua situação ainda mais agravada”.

“Em um país em que 42% dos lares não possuem computador, a proposta de governos estaduais e municipais de dar continuidade ao ano letivo da educação com ensino à distância (EaD) é um prenúncio de ampliação das desigualdades sociais e exclusão de grande parte dos estudantes do acesso às aulas. Dos 55 milhões de estudantes na educação básica, mais de 30 milhões não têm acesso à internet, estão excluídos do EaD. Temos compromisso com a sociedade e com os alunos. É essa a nossa luta”, afirmou o professor Rui Oliveira, primeiro-secretário da Associação dos Professores Licenciados do Brasil – Secção da Bahia – Sindicato, também participante do debate, que contou com intervenções de profissionais da área da educação de todas as regiões do país.

Situação dramática

“As reformas realizadas pelo Governo Bolsonaro levaram a uma situação dramática nas relações de trabalho. Mantêm o estado mínimo, mesmo nesta situação de calamidade pública que estamos vivendo. Antes da epidemia, o MEC já implementava uma ampla reforma da educação, conservadora, antidemocrática, obscurantista e privatista. Investe na desregulamentação da educação privada e no aumento da carga horária da educação à distância, o que levará à demissão de professores. Aproveita a crise da pandemia para implementar o EaD no ensino básico. Busca utilizar as verbas do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) no ensino privado. Incentiva privatização das pesquisas, ao tempo em que ataca a autonomia e a pesquisa nas universidades públicas. Cortou 6 mil bolsas de pós-graduação em plena pandemia, trazendo dificuldades no desenvolvimento da ciência”, denunciou Madalena.

Para ela, o atual momento “deixou clara a importância dos professores, assim como a falta de preparação dos pais para acompanhar o aprendizado escolar dos alunos. Não se trata apenas do conteúdo ministrado em sala de aula, mas a escola também propicia convivência, sociabilidade, entre estudantes, professores e técnicos administrativos”.

Segundo a diretora da Contee, o período de isolamento social exigido pela pandemia levou à necessidade do “trabalho remoto de acompanhamento e apoio pedagógico aos estudantes, mas isso não é EaD. As plataformas que estão sendo disponibilizadas não suprem o conteúdo pedagógico. Além disso, os empresários pressionam para diminuir salário dos profissionais, usando o trabalho remoto como subterfúgio. A Contee tem orientado os sindicatos a impedir prejuízos maiores para os trabalhadores, defendendo a prorrogação das convenções e acordos estabelecidos até o fim da pandemia. Defendemos padrões mínimos para o trabalho remoto, a garantia de empregos e salários e a busca, junto ao governo, de apoio para os estabelecimentos de ensino enfrentarem este período difícil. Devemos acompanhar os acordos individuais entre os trabalhadores e as empresas que venham a ser estabelecidos e denunciar o uso indiscriminado do EaD na educação básica”.

Valéria Morato, presidenta do Sindicato dos Professores de Minas Gerais e da CTB-MG, coordenou o debate e alertou que “os professores estão apreensivos com o trabalho remoto, que desconsidera a situação do alunato”. Destacou que a categoria “trata de questões trabalhistas e também pedagógicas, inclusive preocupação com a segurança alimentar em tempos de pandemia”, que será abordada em um próximo debate da CTB por teleconferência.

Fala de Madalena Peixoto

Fala de Rui Oliveira

Carlos Pompe

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Leia também
Fechar
Botão Voltar ao topo