Grandes empresas de educação se aproveitam da crise para demitir e precarizar o trabalho e o ensino
O SinproSP denunciou ontem (13), em seu site, que a rede Laureate demitiu mais de 120 professores que lecionavam na educação a distância (EaD). Na prática do grande grupo de capital aberto, que já tinha feito outras dispensas massivas nos últimos anos, somam-se agora duas crueldades a mais: a tentativa de se aproveitar da crise sanitária e econômica enfrentada pelo país para precarizar ainda mais as relações de trabalho nos estabelecimentos de ensino e o ato de jogar trabalhadores na rua em meio a uma pandemia que dificultará ainda mais a procura de um novo emprego.
Segundo o SinproSP, tais dispensas, que se tornaram a especialidade da Laureate, são “parte de um processo de reestruturação cruel em todas as instituições do grupo econômico (Anhembi, FMU-FIAM-FAAM), com o único objetivo de reduzir os custos e aumentar os lucros”. Ainda conforme o sindicato, “redução da grade curricular, ensalamento, substituição de aulas presenciais por atividades a distância e demissão em massa de professores são os pilares desta reestruturação, que tem como resultado a queda na qualidade de ensino e uma crescente precarização do trabalho”.
Essa não foi a única denúncia contra a Laureate nos últimos dias, mas é justamente isso o que agrava ainda mais as novas demissões. No último dia 30 de abril, a Agência Pública divulgou o escândalo representado pelo uso de robôs, pelo, para a correção de textos de estudantes sem que estes sejam informados da substituição dos professores por inteligência artificial. A agência de reportagens voltou a noticiar o assunto ontem, ao tratar da dispensa em massa. À Pública, em nota, a Laureate usou a justificativa cínica de que “a implementação de novas tecnologias não tem o intuito de substituir a função essencial do corpo docente, mas sim oferecer aos professores a oportunidade de dedicar mais tempo na relação direta com seus alunos” e que “o objetivo é sempre humanizar ainda mais a relação de ensino e aprendizagem”.
Humanizar a educação é tudo o que esses grandes grupos econômicos de capital aberto não fazem e humanidade, ainda mais neste período de dificuldades e incertezas, é tudo o que não têm. Em outros estabelecimentos de ensino, docentes e técnicos administrativos também têm estado sob constante pressão, que passa pelo aumento da carga de trabalho; pela falta de tempo, estrutura e preparo prévio para lidar com plataformas digitais; pelas constantes cobranças, seja de patrões, de estudantes e/ou de pais e responsáveis; pelas ameaças de demissão ou de redução salarial — a despeito do aumento do trabalho —, com as instituições valendo-se das brechas criadas pela Medida Provisória 936.
Para defender a categoria, a TV Contee lançou, nesta semana, dois vídeos ressaltando a importância crucial dos professores e dos técnicos administrativas, sem os quais não existe educação nem escola de qualidade. A Confederação também está acompanhando e apoiando as ações dos sindicatos da base em prol dos trabalhadores e trabalhadoras em educação e contra o aproveitamento da crise sanitária, por parte das empresas, para retirar direitos, tanto os trabalhistas quanto o de acesso a uma educação de qualidade, e tratar o ensino como reles mercadoria.
Por Táscia Souza