145 anos de Emiliano Zapata, herói da Revolução Mexicana
Símbolo da resistência e no combate pela reforma agrária inspirou a criação do Exército Zapatista de Libertação Nacional
Há 145 anos, em 8 de agosto de 1879, nascia Emiliano Zapata. Líder da Revolução Mexicana, Zapata comandou o Exército Libertador do Sul na ofensiva contra a ditadura de Porfirio Díaz, insurgindo-se em seguida contra os regimes de Madero, Huerta e Carranza. Encabeçou a luta pela reforma agrária e pelos direitos dos camponeses e dos indígenas até seu assassinato em 1919. Herói nacional mexicano, tornou-se um símbolo de resistência e de luta por justiça social, inspirando o surgimento do Movimento Zapatista e do Exército Zapatista de Libertação Nacional.
Emiliano Zapata nasceu no vilarejo de Anenecuilco, no estado mexicano de Morelos, filho dos camponeses Gabriel Zapata e Cleofás Salazar. Perdeu o pai e a mãe ainda na adolescência, assumindo a responsabilidade de cuidar do rancho da família.
Descendente de indígenas, Zapata se interessou desde cedo pelas lutas dos povos nativos e dos camponeses, indignando-se com a exploração dos trabalhadores rurais pelos grandes proprietários de terras. Os latifundiários gozavam de apoio irrestrito do governo mexicano, então sob domínio do ditador Porfirio Díaz, responsável por estabelecer um regime repressivo, autoritário e corrupto, eivado de práticas clientelistas e marcado pela deterioração das condições de vida da população. Abusos contra os povos indígenas e trabalhadores do campo eram frequentes, bem como a repressão aos movimentos sociais.
Após aderir aos movimentos que reivindicavam a reforma agrária e a devolução das terras indígenas roubadas, Zapata se dedicou a organizar politicamente os camponeses, criando estratégias de autodefesa e de pressão sobre as autoridades. Incomodado com a política governamental de beneficiar sistematicamente os interesses dos latifundiários, Zapata partiu para ações mais radicais, organizando grupos armados para ocupar as terras em disputa.
As ações políticas de Zapata foram bastante influenciadas pelo pensamento anarquista, ao qual fora apresentado pelo professor Otilio Montano, que lhe indicou as obras de Piotr Kropotkin e Ricardo Flores Magón. O governo mexicano reagiu intensificando a repressão aos camponeses e forçando Zapata à conscrição em um regimento de cavalaria do exército. Não obstante, Zapata seguiu comandando a luta camponesa. Em 1909, apoiado pelos trabalhadores rurais, foi eleito para presidir a Junta das Terras de Anenecuilco, recebendo a atribuição de analisar os títulos de propriedade de terras na região.
Em 1910, Porfirio Díaz foi reeleito em um pleito marcado por irregularidades, ensejando uma forte reação popular e protestos em todo o país. O liberal Francisco Ignacio Madero, derrotado no pleito, anunciou que a eleição fora fraudada e conclamou o povo a sublevar-se contra o governo de Díaz. Para angariar o apoio da população, Madero prometeu implementar a reforma agrária e outros programas de combate à injustiça social.
Com isso, obteve a adesão imediata de Emiliano Zapata. Sob o lema “Terra e Liberdade”, Zapata convocou os indígenas e camponeses de Morelos a formarem um exército revolucionário para depor Díaz — o Exército Libertador do Sul. Igualmente atraído pelas promessas de Madero, Pancho Villa mobilizou outra força paramilitar ao norte. Teve início assim a Revolução Mexicana.
Os combates entre o Exército Libertador e as tropas de Porfírio Díaz se concentraram nos estados de Morelos e Puebla (batalhas de Chinameca, Jojutla, Jonacatepec, Tlayecac, etc.). Zapata estabeleceu seu quartel-general no povoado de Cuautlixco, de onde liderou a bem sucedida ofensiva contra o “5º Regimiento de Oro”, derrotado durante a Batalha de Cuautla. Em seguida, o Exército Libertador tomou Huehuetla e garantiu o domínio dos revolucionários sobre Puebla. Ao mesmo tempo, Villa e os rebeldes subjugavam as tropas do governo ao norte e capturavam Ciudad Juárez. Derrotado após seis meses de batalhas, Porfirio Díaz renunciou e Francisco León de La Barra assumiu o governo interino.
Francisco Madero tornou-se presidente em novembro de 1911, mas logo frustrou seus apoiadores. O mandatário retrocedeu em todos os compromissos que havia firmado com os revolucionários, excluindo as demandas dos camponeses e dos povos indígenas.
As reivindicações de Zapata em favor de uma reforma agrária baseada no modelo de “ejidos” (terras comunais) e pautada pelo respeito às tradições indígenas foram descartadas. Buscando o apoio dos latifundiários e das oligarquias mexicanas, Madero mostrou-se condescendente com os projetos que visavam ampliar a concentração fundiária e a exploração comercial de terras indígenas. Também passou a exigir o desarmamento dos nativos e dos camponeses e a pressionar pela desmobilização do Exército Libertador.
Traído, Zapata retirou seu apoio ao governo de Madero, passando a defender o Plano de Ayala — um manifesto revolucionário, elaborado em colaboração com Otilio Montaño Sánchez. O documento conclamava o povo a lutar pela derrubada de Madero, defendia a devolução das terras subtraídos dos indígenas e avançava a proposta de uma ampla reforma agrária, baseada na expropriação e redistribuição de um terço das terras agricultáveis mexicanas.
Zapata logrou resistir às sucessivas campanhas militares que visavam desarmar os rebeldes e ampliou as áreas sob domínio de seu Exército de Libertação nos estados de Guerrero, Puebla, Tlaxcala e Morelos. Detinha assim o controle de vastas regiões ao sul do México, onde instituiu a distribuição de terras e outras importantes reformas sociais.
O governo Madero, entretanto, foi breve. Em fevereiro de 1913, o presidente foi deposto e assassinado durante um golpe de Estado conduzido por militares contrarrevolucionários e setores reacionários da burguesia. Planejada por Félix Díaz, sobrinho de Porfírio Díaz, e pelo general Bernardo Reyes, a quartelada contou com apoio do embaixador estadunidense Henry Lane Wilson.
O general porfirista Victoriano Huerta assumiu a presidência e tratou de reverter as reformas liberais de Madero. Huerta concedeu anistia a Porfirio Díaz e intensificou a repressão contra camponeses, indígenas e zapatistas, numa tentativa de frear o avanço do movimento em prol da reforma agrária.
Zapata e Villa mobilizaram suas forças paramilitares contra o governo de Victoriano Huerta. Contaram também com a adesão de Venustiano Carranza, o governador de Coahuila, então comandante do Exército Constitucionalista.
À frente de um contingente de quase 30.000 combatentes, Zapata conseguiu derrotar as tropas de Huerta em Jonacatepec e Chilpancingo. Pouco tempo depois, tomou Cuernavaca e ocupou Cuajimalpa, Xochimilco e Milpa Alta, ameaçando capturar a Cidade do México — mas sendo impedido de avançar pelas forças de Carranza. Acossado pelo ataque conjunto de zapatistas, villistas e constitucionalistas, Huerta viu sua situação se deteriorar ainda mais após a tomada do Porto de Vera Cruz pelos fuzileiros navais dos Estados Unidos, em resposta ao Incidente de Tampico. Em julho de 1914, Huerta foi deposto.
A Convenção de Aguascalientes ratificaria a nomeação de Venustiano Carranza como presidente, mas Zapata se negou a reconhecer a legitimidade da decisão, uma vez que nenhum dos delegados presentes fora eleito. Carranza rejeitou a instituição da reforma agrária e das demais reivindicações dos camponeses, preteridos em favor dos interesses das oligarquias. Também buscou neutralizar os antigos aliados, incumbindo seu Ministro da Guerra, Álvaro Obregón, de desarticular as forças revolucionárias de Zapata e Villa.
O autoritarismo de Carranza levou à prorrogação da guerra civil. Zapata e Villa mobilizaram seus exércitos para ocupar a Cidade do México, mas as forças de Obregón, mais numerosas, melhor equipadas e apoiadas pelo governo dos Estados Unidos, forçaram os rebeldes ao recuo.
Zapata se esforçou em manter a luta contra Carranza, mas enfrentou sucessivos problemas com o recrudescimento da repressão governamental. Os zapatistas chegaram tomar Puebla em dezembro de 1914 e a recuperar terreno em Morelos, mas foram subjugados pelas tropas de Obregón.
Em 1916, Carranza encarregou Pablo González Garza de liderar uma grande expedição contra Zapata, apoiada pela aviação do exército. A campanha enfraqueceu enormemente as tropas zapatistas, possibilitando ao governo mexicano retomar o controle sobre Morelos e reduzindo o exército de Zapata a uma pequena guerrilha camponesa.
Em 10 de abril de 1919, Zapata tombou, vítima de uma emboscada. Ele havia sido atraído para uma reunião com o general Jesús Guajardo, um partidário de Carranza que fingia ser um apoiador da causa zapatista. Ao comparecer ao local combinado, uma fazenda em Chinameca, Zapata foi fuzilado por atiradores escondidos nos telhados.
Quatro anos após a morte de Zapata, Pancho Villa também foi assassinado em uma emboscada organizada por seus adversários. O assassinato dos dois revolucionários e a desmobilização de suas tropas enfraqueceram a Revolução Mexicana, permitindo que as oligarquias retomassem o domínio político pleno sobre o país e destruíssem o legado zapatista em Morelos. Zapata, entretanto, segue como referência maior das lutas camponesas no México. Suas ideias e ações moldaram todo o movimento zapatista e inspiraram a criação do Exército Zapatista de Libertação Nacional.