Vivas ao ano de 2023!
Por José Geraldo de Santana Oliveira*
Havia terminado a guerra, a patrulha em retirada
Um soldado pede permissão ao seu capitão
Para voltar ao campo de batalha em busca de um Amigo
Se lhe é negada a permissão.
— É inútil que vás, lhe diz o capitão
Está morto.
O soldado desobedece a ordem
E vai em busca de seu Amigo.
Regressa com ele nos braços… morto.
— Eu lhe disse que era inútil que fosse, diz o capitão.
— Não, meu capitão. Não foi inútil…
Quando cheguei ele ainda estava com vida.
E somente me disse:
“Sabia que você viria”. (Sabia que ibas a venir!).
O curtíssimo e comovente conto da epígrafe, do ilusionista argentino René Lavand, com tradução livre do professor Lênio Streck, com certeza bem serve como paradigma para explicar o que simboliza o novo ano, muito mais que ano novo, prestes a chegar para os/as brasileiros/as.
Não como gesto sublime de derradeira demonstração de amizade sincera e transcendental, como o foi o do soldado que descumpriu expressa ordem de seu superior militar pela única boa razão de dizer sim ao amigo moribundo, que só esperava por ele para dar seu último suspiro.
Ao reverso, como gesto igualmente sublime de reconstrução de milhões de amizades perdidas e destruídas pelo ódio e pela intolerância que tomaram conta da vida brasileira nesses quatro anos que se findam ao dia 31 de dezembro corrente. Para que, com o novo ano, início de nova era, possam se concretizar os sonhos dos belíssimos e inapagáveis versos do hino da revolução dos cravos, em Portugal de 1974, Grândola Vila Morena, assim eternizados: “Em cada esquina um amigo/Em cada rosto igualdade”.
Os que fazemos desses valores pedra de toque para nos tornarmos humanos — e que somente florescem em tempos e lugares que têm como supremos a cultura da paz, a amizade, a convivência pacífica e solidária com a diversidade e a pluralidade, como dita o Preâmbulo de nossa Constituição Federal — jamais duvidamos, ainda que por um só instante, que esse dia viria. Felizmente, quis a vontade dos 60,3 milhões de eleitores/as que disseram sim à reconstrução do Brasil, ao dia 30 de outubro próximo passado, sufragando a chapa Lula/Alckmin, que fosse logo ao 1º de janeiro de 2023.
Vivas ao ano de 2023!
Ano de reinício do Brasil que estamos destinados a reconstruir; que, parafraseando os imortais versos do poema O Século, de Castro Alves, não esmague o povo, como o fez o atual governante, mas, sim, seja-lhe o pedestal.
*José Geraldo de Santana Oliveira é consultor jurídico da Contee