Sinpro/Caxias: Professores brasileiros enfrentam excesso de alunos e de trabalho
Uma pesquisa da Fundação Carlos Chagas é a fonte de várias matérias publicadas na imprensa recentemente, abordando o problema do excesso de alunos e de aulas que cada professor brasileiro enfrenta.
Um terço dos professores de escolas públicas do país dá aula para mais de 300 alunos por ano. A pesquisa demonstra que essa realidade – verificada pela pesquisa nas escolas públicas – está diretamente ligada ao baixo desempenho do ensino.
O levantamento foi feito pela Fundação Carlos Chagas (FCC), em parceria com o Itaú Social e a Associação D³E.com.br, a partir de dados do Censo Escolar e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Para trazer esses números, o estudo fez um recorte entre os profissionais que atuam nas categorias ensino fundamental, do 6º ao 9º, de outros países.
A média brasileira de alunos por professor é 50% superior a de países com melhores indicadores educacionais, como os Estados Unidos, França e Japão, em que os docentes trabalham com 200 alunos por ano. Também está acima da recomendação nacional, já que o CNE (Conselho Nacional de Educação) sugere que os profissionais devam atuar com no máximo 300 estudantes.
“Nesses países, os professores dão aulas para menos alunos porque conseguem se fixar em uma única escola. No Brasil, a política de contratação não dá essa condição, e o docente precisa ter uma jornada ampliada em sala de aula, com muitas turmas para atender”, explica Gabriela Moriconi, em entrevista à Folha de S.Paulo.
Leia a matéria publicada na Folha de São Paulo:
Um terço dos professores brasileiros trabalha com mais de 300 alunos por ano
Por Isabela Palhares, na Folha de S. Paulo
Um terço dos professores de escolas públicas do país dá aula para mais de 300 alunos por ano. O excesso de estudantes e da carga de trabalho dificulta a melhoria dos baixos resultados educacionais brasileiros.
O grande número de alunos torna mais difícil para os professores identificar dificuldades pedagógicas, fazer adaptações para as necessidades de cada um e perceber situações externas que refletem no desempenho e no comportamento de crianças e adolescentes, como violência doméstica, abuso, abandono.
A média brasileira é 50% superior a de países com melhores indicadores educacionais, como os Estados Unidos, França e Japão, em que os docentes trabalham com 200 alunos por ano. Também está acima da recomendação nacional, já que o CNE (Conselho Nacional de Educação) sugere que os profissionais devam atuar com no máximo 300 estudantes.
O levantamento foi feito pela Fundação Carlos Chagas, em parceria com o Itaú Social e a Associação D³E, com base em dados do Censo Escolar e da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Para conseguir fazer a comparação com outros países, os dados analisados são de professores que atuam nos anos finais do ensino fundamental (do 6º ao 9º ano).
O excesso de alunos é reflexo da imposição a uma alta carga de trabalho a que estão sujeitos os professores tanto pela baixa remuneração quanto pela forma de contratação praticada pelas redes públicas de ensino no país.
Não há, em geral, em estados e municípios brasileiros, políticas para garantir que os docentes atuem de forma exclusiva em uma única escola, como ocorre em outros países. Assim, é comum que os professores tenham que trabalhar em mais de uma unidade, etapa de ensino e até mesmo em redes diferentes para conseguir completar a jornada para alcançar uma remuneração adequada.
Segundo a pesquisa da Fundação Carlos Chagas, 20% dos professores trabalham em mais de uma escola, enquanto nos três países analisados essa proporção não supera 5%. Além disso, 61%trabalham em mais de uma etapa da educação e 30% em redes de ensino diferentes –situação que não ocorre nos demais países.
“Nesses países, os professores dão aulas para menos alunos porque conseguem se fixar em uma única escola. No Brasil, a política de contratação não dá essa condição, e o docente precisa ter uma jornada ampliada em sala de aula, com muitas turmas para atender”, explica Gabriela Moriconi, autora do estudo.
Segundo ela, a pesquisa identificou redes de ensino em que a média chega a 525 estudantes por professor.
É a realidade de uma professora de história de duas escolas estaduais de Belém (PA), que neste ano está lecionando para 15 turmas que somam mais de 540 alunos. A docente, que pediu para não ser identificada, conta ser difícil saber até mesmo o nome de todos os estudantes.
Além de ter 15 turmas em duas escolas diferentes, a professora dá aula nos três turnos e para alunos do ensino fundamental e médio. Com a mudança do currículo dessa última etapa, que passou a ter itinerários formativos, ela também teve que assumir mais disciplinas, para além da que foi formada.
Ela relata dificuldade em ter tempo para a preparar as aulas com tantas demandas diferentes mesmo trabalhando quase todos os finais de semana para corrigir trabalhos, provas e fazer outras funções burocráticas.
Moriconi lembra que a lei do piso do magistério estabelece que um terço da carga horária dos professores deve ser reservado para atividades fora da sala de aula, ou seja, para o planejamento, correção de provas e reuniões. O que não é cumprido por muitas redes, já que não há previsão de nenhum tipo de punição.
Pedro Lima, professor de geografia, conta que parte de seus finais de semana são reservados para os trabalhos extraclasse. Ele dá aula em três escolas na capital paulista, uma da rede estadual e duas particulares, e tem cerca de 440 alunos neste ano.
“Há muitos anos já convivo com essa situação de dar aula para muitos alunos, mas, com o novo ensino médio, ficou ainda mais difícil. Agora, além de dar aula em escolas e etapas diferentes, também tive que assumir disciplinas diferentes. Não dá tempo de preparar aulas específicas para a necessidade de cada turma, quanto mais pra cada aluno.”
Para ele, o excesso de alunos dificulta a conexão necessária para um ensino de qualidade. “Ensinar depende de conexão, saber o que cativa, preocupa, qual a necessidade de cada aluno. Com mais de 400 alunos, eu não consigo saber quase nada sobre eles. Não dá tempo de estabelecer a relação necessária para o aprendizado.”
O resultado se reflete nos baixos níveis de aprendizagem do país. Segundo dados do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), 62,6% dos estudantes terminaram o 9º ano sem aprender o que é considerado adequado para a etapa em matemática e 60,3% em português.
- Leia matéria do site Terra:
Escolas públicas: Um terço dos professores dá aula para mais de 300 alunos ao ano
- Leia matéria no ECOA:
Exausto, professor tem excesso de trabalho, alunos e turmas
- Leia o conteúdo sobre a pesquisa realizada direto no site da Fundação Carlos Chagas: