A quem interessa alienar os jovens sobre a vivência da população negra?
O Avesso da Pele, livro de Jeferson Tenório, ganhador do Prêmio Jabuti, foi incluído no Programa Nacional do Livro Didático, mas proibido em uma escola do RS
por Christiane Peres
O Avesso da Pele, de Jeferson Tenório, é alvo de censura em escolas no Sul do país. Por PCdoB na Câmara
A deputada Daiana Santos (PCdoB-RS) voltou a criticar a censura que o livro “O avesso da Pele” vem sofrendo no Sul do país. Os ataques e proibições tiveram início em uma escola no Rio Grande do Sul, após a diretora divulgar um vídeo criticando a obra. Agora, o livro foi alvo de uma ação do Núcleo Regional da Educação de Curitiba, da Secretaria de Educação do Paraná, que determinou a entrega de todos os exemplares à sede do núcleo, até sexta-feira (8). Segundo o documento, a obra passará por análise pedagógica e posterior encaminhamento.
Para Daiana Santos, diante do que já havia acontecido em Santa Cruz do Sul (RS), fica claro que essa não é uma ação isolada. “Estão tentando cercear a liberdade de expressão de um dos escritores mais relevantes da sua geração. Me pergunto porque é considerado tão inapropriado falar sobre o racismo se é isso que constatamos na nossa sociedade todos os dias. A quem interessa alienar os jovens sobre a vivência da população negra, principalmente no Sul do país?”, indaga a parlamentar.
A obra de Jeferson Tenório foi incluída no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) em 2022, após passar por uma banca de educadores, especialistas, mestres e doutores em literatura e língua portuguesa. Em “O Avesso da Pele”, livro vencedor do Prêmio Jabuti 2021, Tenório traz um romance sobre identidade e as complexas relações raciais, sobre violência e negritude. Um retrato de um país marcado pelo racismo e por um sistema educacional falido, além de um denso relato sobre as relações entre pais e filhos.
Para o autor, os casos podem estar ligados aos temas abordados na obra. “Ele traz algumas cenas e algumas frases que são justamente utilizadas para agredir pessoas negras e periféricas”, explicou. Para Tenório, as tentativas de censura são “atos violentos e que remontam dias sombrios do regime militar. Inaceitável uma atitude antidemocrática como essa em pleno 2024”, destacou em sua conta no Instagram.