Juiz de Fora promove hoje a Marcha da Democracia para virar a chave da História
Por João Teixeira*
Nesta segunda-feira, dia 1º de abril, quando o golpe civil militar de 64 completa 60 anos, a cidade de Juiz de Fora, na Zona da Mata Mineira, se organiza para virar a chave da história. De município/origem do levante das tropas golpistas, a referência de resistência, luta e celebração da vida dos que tombaram na luta por liberdade. Para isso, uma marcha reversa sairá da Cinelândia, no Centro do Rio de Janeiro e de outras cidades do país em direção a Juiz de Fora, no sentido contrário das tropas golpistas e farão um grande ato no fim da tarde desta segunda, para celebrar a democracia e a memória do governo João Goulart e demais vítimas do golpe.
Dezenas de entidades, grupos de militantes e ativistas políticos, parlamentares, prefeituras, sindicalistas e profissionais diversos integram a Marcha da Democracia. Além do Rio de Janeiro, outras caravanas partiram de São Paulo, Espírito Santo e outras cidades brasileiras e se encontrarão com a viúva de João Goulart, Maria Thereza Goulart, seus filhos e outros familiares de personagens que fizeram a história da resistência democrática naquela época, num grande ato em praça pública na cidade mineira de Juiz de Fora, às 16h.
Os quase 180 quilômetros que separam o Rio de Janeiro da cidade de Juiz de Fora serão percorridos na marcha reversa, numa simbologia que se contrapõe ao movimento feito por Mourão Filho. A viagem terá início no início da manhã. A escolha da Cinelândia, como ponto de partida tem sua razão de ser por ser palco das grandes manifestações políticas do Rio.
A Marcha terá duas paradas simbólicas: em Petrópolis e na ponte que divide os estados de Minas e Rio de Janeiro. Em Juiz de Fora, as atividades começarão também pela manhã, com a abertura do II Seminário Nacional de Jornalismo ABI/FACOM/UFJF e prosseguirão à tarde com a entrega pela Universidade Federal de Juiz de Fora do título de Doutor Honoris Causa, pós morte, ao ex-presidente João Goulart.
Uma marcha local se deslocará até a Praça Antônio Carlos, no Centro da Cidade, onde estarão se apresentando grupos artísticos e culturais que recepcionarão as caravanas que virão do Rio de Janeiro. A proposta do coletivo de entidades que organiza a Marcha da Democracia (marcha reversa) é de lembrar o que foi o golpe, suas consequências durante mais de duas décadas de ditadura e dar uma resposta firme aos que ainda hoje insistem em tentar derrubar a democracia brasileira, construída com muita luta e resistência, como foi no episódio do 08 de janeiro de 2023. Será mais uma importante etapa do movimento “60 Anos do Golpe – Democracia Sempre”, que começou em dezembro de 2023 e prevê uma série de eventos e atos públicos a serem realizados neste ano em todo o país.
Paradas simbólicas – A Marcha da Democracia fará duas paradas para atos simbólicos em memória aos mais de 50 mil perseguidos políticos nos 21 anos da ditadura. A primeira será em Petrópolis, cidade onde está localizada a chamada Casa da Morte, um dos maiores centros clandestinos de tortura. Ali os militantes e “suspeitos” de discordarem do regime eram executados e “desaparecidos”. A Casa da Morte foi descoberta a partir em pleno movimento pela anistia e graças à persistência e denúncia da única sobrevivente do lugar, Inês Etienne Romeu (1942-2015). Também será uma parada solidária para entrega de 60 kg de leite em pós para os desabrigados das recentes chuvas na cidade.
A segunda parada será sobre a ponte do Rio Paraibuna, na divisa do Rio com Minas Gerais, nos municípios de Levy Gasparian (RJ) e Simão Pereira (MG). Naquele fatídico 1º de abril de 64, as estruturas da ponte foram guarnecidas com dinamites pelas tropas do general Mourão, para inibir qualquer reação dos que se colocavam contra o golpe. Nesta revisita ao local, o MST oferecerá almoço para os integrantes da caravana e haverá um ato em defesa da democracia e da paz, com a participação de estudantes da região.
Na terceira etapa, às 16 horas, a marcha local e os demais participantes se reunirão na Praça Antônio Carlos, em Juiz de Fora. É o momento em que as caravanas irão se juntar, elas serão recebidas pela Prefeita de Juiz de Fora, Margarida Salomão (PT), pelo Nilmário Miranda, Assessor Especial de Defesa da Democracia, Memória e Verdade, do Ministério dos Direitos Humanos, pelo reitor da UFJF Marcus David, pela reitora eleita da UFJF Girlene Alves. Com eles estarão D. Thereza Goulart e família e os filhos do líder sindical Clodsmith Riani, hoje com 103 anos, além de lideranças locais, regionais e nacionais.
Participam da organização do evento do dia 1ºde abril a Coalizão Brasil por Memória, Verdade, Justiça, Reparação e Democracia; representantes das vítimas da ditadura; partidos políticos, sindicatos; o Movimento dos Sem-Terra (MST), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI); o Centro de Direitos Humanos (CDDH) de Petrópolis.
Integram a Marcha pela Democracia as(os) deputadas(os) federal Reimont (PT/RJ), Ana Pimentel (PT/MG), as(os) deputadas(os) estaduais Marina do MST (PT/RJ), Dani Balbi (PC do B/RJ), Yuri Moura (PSOL/RJ), as Prefeituras de Juiz de Fora (Margarida Salomão/PT); Petrópolis (Rubens Bomtempo/PSB) e Levy Gasparian (Claudio Manarino/MDB); a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF); as secretarias estaduais e municipais de Direitos Humanos de Juiz de Fora (Biel Rocha) e de Niterói (Nadine Borges); a Secretaria do meio Ambiente do Rio de Janeiro, Tainá de Paula e o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania
*João Edivaldo Teixeira é jornalista e escritor há mais de 50 anos. Formou-se em jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero em 1975, iniciou sua carreira como repórter esportivo e de Geral no Jornal da Tarde (Grupo Estado). Passou pelas redações dos principais jornais do país, Diário de São Paulo e Diário da Noite, O Globo, Gazeta Mercantil, Jornal do Brasil e Folha de São Paulo. Editor da coletânea de contos Vício da Palavra (1977) e Mensageiros da Miscigenação, de Francisco Amaro Gurgel Filho (2013), Teixeira é colaborador e membro do Conselho Editorial do Jornal Contratempo.