O imortal Pablo Neruda: Efervescência política, amor e literatura
“Você pode cortar todas as flores, mas não pode impedir a chegada da primavera”. A poética de Neruda transcende e inspira gerações
Em 12 de julho de 1904 nascia o consagrado poeta Pablo Neruda, em Parral, no Chile. Hoje esse gigante da literatura, que conquistou a América Latina e o mundo, completaria 120 anos.
Nesta data ímpar, celebramos com emoção a vida e obra de Neruda. Celebramos as ideias humanistas, a sensibilidade aguçada do poeta, que ao longo dos seus 69 anos de história defendeu o pensamento marxista, denunciou as desigualdades, evidenciou com beleza as questões sociais e políticas.
Neruda é considerado um dos poetas mais importantes do século 20. Ele recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1971, em reconhecimento à sua vasta obra literária e a sua dedicação à causa dos direitos humanos.
Pablo Neruda se destacou na escrita e na política. Militou no Partido Comunista Chileno, fez parte da chamada “Geração de 1938”, ocupou o cargo de senador, diplomata, chegou a viver exilado na Argentina no início dos anos 50, se tornou grande amigo e aliado de Salvador Allende, presidente do Chile que promoveu transformações sociais no país na década de 1970.
Ao lado de Allende, era considerado o nome mais popular da esquerda chilena quando Augusto Pinochet tomou o poder.
O poeta inaugurou a sua trajetória de escritor no ano de 1917 com o artigo “Entusiasmo e Perseverança”. Daí em diante, passou a publicar poesias em periódicos. Estão entre as suas principais obras: Canto Geral, Vinte poemas de amor e uma canção desesperada, Tentativa do homem infinito, O habitante e sua esperança, e Residência na terra. A sua produção literária foi traduzida para mais de 20 idiomas.
Em “Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada”, por exemplo, Neruda enaltece o romantismo, a paixão avassaladora, as mulheres da sua vida. Deixa falar o seu eu lírico, melancólico, nostálgico. Retrata os seus amores perdidos. Já no calhamaço “Canto Geral”, livro escrito em plena Guerra fria e, na opinião do escritor, o seu trabalho mais relevante, ele dá ênfase ao contexto político. Anarrativa abrange temas como a história da América Latina, a luta dos povos indígenas e a exploração dos recursos naturais. Os versos denunciam as injustiças históricas que os países da América Latina sofreram ao longo dos séculos. Vilões e heróis são evidenciados a partir da perspectiva do poeta.
A literatura de Pablo Neruda é marcada pela luta contra a opressão, exalta os sentimentos mais sublimes e ecoa a voz da liberdade no coração dos povos latinos. É uma arma imbatível para refutar o ódio, estancar o sangue e promover a democracia.
O brilhante poeta se despediu deste plano no dia 23 de setembro de 1973, vítima de câncer de próstata, segundo o laudo oficial, mas há suspeita de que Neruda tenha sido envenenado pelo governo Pinochet.
Este fim de semana é uma boa oportunidade para mergulharmos nos versos nerudianos, brindarmos o amor e reacendermos a chama da esperança. O poeta além de genial, revolucionário, era um homem apaixonado e muito sábio:
“Nega-me o pão, o ar, a luz, a primavera, mas nunca o teu riso, porque então morreria” / “Se nada nos salva da morte, pelo menos que o amor nos salve da vida” / “A vida não começa quando se nasce, começa quando se ama” /“Só um louco pode desejar guerras. A guerra destrói a própria lógica da existência humana” / “Você pode cortar todas as flores, mas não pode impedir a chegada da primavera” / “Os poetas odeiam o ódio e fazem guerra à guerra”.
Neruda fez o bom combate e segue nas trincheiras da resistência por meio do seu legado luminoso. O poeta imortal continua inspirando multidões. É possível revolucionar o mundo com políticas públicas efetivas, amor e arte. A primavera resiste.
Por Romênia Mariani