Asas da liberdade: 12 Tesouros da literatura infantojuvenil para celebrar o Dia das Crianças
“Eu fico com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita
Viver e não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar, e cantar, e cantar
A beleza de ser um eterno aprendiz…”
Com os versos da música – O QUE É, O QUE É? – do genial compositor Gonzaguinha, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee) começa as comemorações do Dia das Crianças, vem falar da importância da leitura e do acesso cultural desde cedo. Amanhã (12), celebra-se esta data especial.
A vida é bonita com a pureza das crianças e com livros no caminho. Há algo mágico no ato de abrir o exemplar de uma obra. Algo que vai além das palavras impressas, além da tinta sobre o papel. A leitura, esse gesto tão simples e, ao mesmo tempo, tão profundo, é uma chave que escancara portas e janelas para universos infinitos. Desde os primeiros anos de vida, ela se revela como um alicerce indispensável no edifício do conhecimento e da formação humana.
Com seus olhos curiosos e mente ávida, a criança inicia sua jornada de descoberta por meio das palavras. São pequenas, muitas vezes incompreendidas, mas repletas de potenciais. Cada página virada é como um passo dado em direção ao desconhecido. “Era uma vez”, diz a voz suave de um adulto, e a criança, com a inocência de quem ainda não conhece limites, se entrega à história. Neste momento, não é apenas a mente que é alimentada, mas o coração, que aprende a entender o mundo à sua volta. O sábio e célebre Manoel de Barros chegou a externar: “a criança erra na gramática, mas acerta na poesia”; isto é, fala com o coração, age com liberdade.
Barros nos alerta que essa infância não pode se perder no tempo. Ele recriou em sua poesia a infância como um modo de estar no mundo. O “criançamento das palavras” deve ser eterno. É preciso brincar com as palavras e os seus significados. O poeta ainda disse: “é preciso transver o mundo”, deixar fluir, combinando olhos, memória e imaginação.
A leitura, desde cedo, ensina que o conhecimento não tem fronteiras. Ela é, em essência, uma ponte. Uma ponte que liga o presente ao passado, o real ao imaginário, o pessoal ao universal. Não importa a idade, cada história traz algo novo. Cada personagem, um espelho. Cada enredo, uma reflexão.
Estudos comprovam que crianças que têm o hábito de ler desde a tenra idade não apenas se tornam mais fluentes na língua, mas desenvolvem habilidades cognitivas de maneira impressionante. Elas aprendem a pensar de forma crítica, a resolver problemas, a analisar o que é lido e a fazer conexões entre diferentes informações. Mas a leitura vai além do racional. Ela toca as emoções, a alma.
Quando uma criança lê, ela aprende a reconhecer e a nomear seus próprios sentimentos, compreende que, assim como os personagens de um livro, há possibilidade de se reinventar, superar obstáculos e visualizar o mundo com outros olhos. As histórias oferecem consolo, ajudam a processar os medos, as dúvidas e as angústias. Elas ensinam, sem que se perceba, a arte de viver. O pequeno (a) leitor (a), ao se emocionar com as aventuras de outros, começa a se enxergar também.
Ler é mergulhar no vasto mundo. A leitura não apenas instrui sobre a gramática da língua, mas ensina sobre a gramática da vida e permite a “desgramática”. Por meio dela, aprendemos a dominar palavras e as usamos para inventar e reinventar mundos. E quando esses mundos são apresentados a uma criança, as sementes de sua imaginação são plantadas com vigor.
O livro abre as asas da liberdade. Ele nos oferece a chance de viver diversas vidas, experimentar diferentes épocas, culturas e até mesmo realidades alternativas. E é na leitura que as crianças começam a compreender que o mundo é muito maior do que seu próprio quintal. Elas descobrem, por exemplo, que o Brasil não é só sua cidade, mas um vasto território repleto de histórias, músicas, sabores e cores que precisam ser respeitados e valorizados. Ao ler sobre outras culturas, valores e vivências, a criança constrói uma visão mais ampla e empática da humanidade.
A literatura infantojuvenil é um vasto jardim de encantos, onde as palavras florescem em narrativas que atravessam gerações. São histórias que, com seus traços poéticos e de pura fantasia, marcam a infância de quem tem a sorte de lê-las.
Sem sombra de dúvidas, um dos maiores investimentos que pais, educadores e a sociedade podem fazer é estimular o hábito da leitura desde os primeiros anos de vida. Essa é uma das maneiras mais eficazes de garantir que as futuras gerações estejam preparadas para enfrentar o mercado de trabalho, os desafios da sociedade globalizada e tecnológica em que vivemos.
Nos dias de hoje, em que as distrações digitais competem pela atenção das crianças, o ato de ler se torna um ato de resistência. Resistência ao fluxo incessante de informações superficiais. Resistência à fragmentação da comunicação. A leitura exige atenção, silêncio e reflexão — qualidades cada vez mais raras e valiosas. Em um mundo que muitas vezes nos impõe a pressa, a leitura oferece um oásis de calma, um refúgio onde o tempo é um aliado e não um inimigo.
A Contee selecionou 12 clássicos da literatura infantojuvenil essenciais para ajudá-los nessa empreitada. Bem-vindos a esse universo mágico e transformador. Espalhe livros!
- O Sítio do Picapau Amarelo – Monteiro Lobato
Uma verdadeira obra-prima, que não precisa de introdução. O Sítio do Picapau Amarelo é o lugar onde o real e o imaginário se encontram. Com suas personagens inesquecíveis, como a boneca de pano Emília e o sábio Visconde de Sabugosa, o livro de Monteiro Lobato foi pioneiro ao apresentar ao público infantojuvenil elementos de nossa cultura popular. A obra é uma porta de entrada para a fantasia, um convite a um Brasil mágico, com direito a fábulas, aventuras e discussões sobre a realidade.
- Os Três Porquinhos” – Monteiro Lobato (adaptação)
Na versão de Monteiro Lobato, os três porquinhos — Pim, Pim e Pim — vivem uma situação semelhante à do conto tradicional, mas com algumas variações. Cada um dos porquinhos decide construir sua casa, sendo que o primeiro porquinho, preguiçoso, opta por uma casa de palha, o segundo porquinho escolhe construir uma casa de madeira, e o terceiro, o mais sensato, constrói sua casa com tijolos. O lobo, como no conto original, tenta destruir as casas dos porquinhos e comer cada um deles. Ele consegue facilmente derrubar as casas de palha e madeira, mas não consegue destruir a casa de tijolos. A diferença crucial nesta adaptação de Lobato é o tom crítico e a ênfase em qualificar o trabalho: o terceiro porquinho, ao contrário dos outros, representa a ideia de que o trabalho duro e a dedicação são fundamentais para alcançar os resultados desejados, enquanto os outros dois porquinhos, mais apressados e desleixados, fracassam.
- O Menino Maluquinho – Ziraldo
O Menino Maluquinho é irreverente, travesso e encantador. Ziraldo cria uma criança cheia de imaginação e energia, capaz de transformar o mundo à sua volta. A história que mistura o lúdico e o cotidiano encanta com sua visão de um Brasil simples, mas repleto de poesia. O personagem é, ao mesmo tempo, reflexo de todos nós e do Brasil jovem e alegre da década de 1980.
- Flicts – Ziraldo
Com um colorido vibrante e uma narrativa poética, Flicts é um livro que fala sobre as diferenças e a busca por pertencimento. Ziraldo nos presenteia com um personagem que, sendo de uma cor inusitada, se sente excluído, mas acaba descobrindo sua verdadeira importância e beleza. O livro é um símbolo de inclusão e aceitação, abordando com delicadeza a importância de ser único.
- A Bolsa Amarela – Lygia Bojunga
“A Bolsa Amarela” é a história de uma menina que entra em conflito consigo mesma e com a família ao reprimir três grandes vontades (que ela esconde numa bolsa amarela) – a vontade de crescer, a de ser garoto e a de se tornar escritora. Essa menina sensível e imaginativa nos conta o seu dia a dia, juntando o mundo real da família ao mundo criado por sua imaginação fértil e povoado de amigos secretos e fantasias. Ao mesmo tempo que se sucedem episódios reais e fantásticos, uma aventura espiritual se processa, e a menina segue rumo à sua afirmação como pessoa.
- O Pequeno Príncipe – Antoine de Saint-Exupéry
Um clássico universal que, embora francês, é eternamente brasileiro. No Brasil Continental, O Pequeno Príncipe se tornou uma verdadeira bíblia da infância, com suas lições profundas sobre amor, amizade e a beleza da vida. A história encantadora sobre um príncipe de outro planeta que viaja por vários mundos e encontra diversos personagens, cada um com suas peculiaridades é memorável. A obra fala sobre a importância da imaginação, da amizade e do olhar sensível para o que realmente importa na vida. Uma reflexão profunda sobre a infância, o amor e a solidão. A narrativa do pequeno príncipe e sua busca pelo sentido da vida é um elo entre todas as culturas.
- Aventuras de Pinóquio – Carlo Collodi
O livro conta a história de um boneco de madeira criado pelo carpinteiro Gepeto, que ganha vida graças a uma fada mágica. Pinóquio deseja se tornar um menino de verdade, mas, por ser travesso e desobediente, enfrenta uma série de aventuras e dificuldades. Ao longo da trama, ele mente frequentemente, o que faz com que seu nariz cresça a cada mentira. A história é cheia de encontros com personagens como a Raposa e o Gato, que tentam enganá-lo, e o Grilo Falante, que o aconselha. Pinóquio aprende, aos poucos, que, para se tornar um menino verdadeiro, precisa ser honesto, responsável e cuidar de quem o ama, como Gepeto. Sua jornada é repleta de travessuras, aprendizados e consequências de suas ações, trazendo lições valiosas sobre honestidade, responsabilidade e o valor da transformação pessoal.
- A Turma da Mônica – Mauricio de Sousa
É impossível falar sobre literatura infantil brasileira sem mencionar a Turma da Mônica, que atravessa gerações de leitores. Com personagens que fazem parte do imaginário coletivo, como a Mônica, o Cebolinha, o Cascão e o Chico Bento, Mauricio de Sousa construiu um mundo recheado de simplicidade, humor e, claro, com um toque de crítica social que encanta crianças e adultos.
- Marcelo, Marmelo, Martelo – Ruth Rocha
A história gira em torno de Marcelo, um garoto curioso e questionador, que, através de suas aventuras cotidianas, explora o mundo à sua volta e reflete sobre questões do universo infantil. O livro é dividido em pequenos capítulos que abordam a visão de Marcelo sobre temas como a escola, a amizade, a relação com os pais e os dilemas de ser criança.
- O Menino do Dedo Verde – Maurice Druon
A história gira em torno de Tistu, um garoto que possui um talento muito especial: seu dedo, que ao tocar qualquer coisa, faz com que ela brote, floresça ou cresça. Tistu descobre esse poder e começa a usá-lo para transformar o mundo ao seu redor. Em sua jornada, ele planta flores e plantas em diversos lugares, e isso acaba mudando a vida das pessoas. Ele começa a perceber que, por meio da sua habilidade de fazer a natureza florescer, ele pode criar um impacto positivo na vida de todos, inclusive em aspectos como a paz e a felicidade. Ao longo da narrativa, Tistu tenta entender seu dom e como ele pode usar esse poder para ajudar o mundo, especialmente num cenário onde as coisas estão muito focadas na competição e nos valores materiais. Seu dedo verde se torna uma metáfora para as boas ações, o altruísmo e a conexão com a natureza.
- Alice no País das Maravilhas” – Lewis Carroll
Alice segue o Coelho Branco e, ao cair em um buraco, entra no País das Maravilhas, onde tudo parece funcionar de maneira ilógica e estranha. Ao longo de sua jornada, ela encontra uma série de personagens excêntricos, como a Lagarta, a Rainha de Copas, o Chapeleiro Maluco, a Lebre de Março e o Gato de Cheshire. Cada um desses personagens apresenta desafios e situações que fazem Alice questionar a realidade, a lógica e até mesmo sua própria identidade. Ao longo da história, Alice vive várias transformações físicas (como crescer e encolher ao ingerir comidas e bebidas mágicas) e situações inusitadas que exploram conceitos como o absurdo, a ambiguidade e a quebra das convenções sociais e lógicas. Ela tenta entender o que está acontecendo e procura respostas para os muitos enigmas que surgem em seu caminho. A obra é um clássico da literatura infantil por sua inventividade, surrealismo e pela forma como lida com a lógica e a fantasia, desafiando as convenções da realidade e estimulando a imaginação.
- O Meu Pé de Laranja Lima – José Mauro de Vasconcelos
Zezé é um garoto que enfrenta uma realidade difícil. Ele vem de uma família humilde e tem um relacionamento complicado com seus pais, especialmente com seu pai, que está sempre preocupado com os problemas financeiros da família. Zezé é um menino muito sonhador e, devido à sua sensibilidade, sente-se muitas vezes incompreendido, o que o leva a desenvolver uma rica imaginação. Sua maior companhia é o pé de laranja lima, que ele considera seu amigo secreto e com quem conversa. Este pé de laranja lima torna-se um símbolo de sua infância e de seus desejos e angústias. Ao longo da história, Zezé vive experiências que o fazem crescer e compreender melhor o mundo ao seu redor. É uma obra tocante que lida com temas como a pobreza, o abandono, a fantasia e a formação do caráter na infância.
Por Romênia Mariani