25 de Julho com Elas: a Contee caminha com as mulheres negras latino-americanas e caribenhas

O 25 de Julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, é um território simbólico de resistência. Esta data vem para nos lembrar que a história, muitas vezes, foi escrita à revelia das mulheres negras — mas nunca sem elas.

A data reforça o reconhecimento de que as vozes negras, especialmente as das mulheres negras latino-americanas e caribenhas, jamais estiveram em silêncio. Foram, sim, omitidas por estruturas que historicamente apagaram seus nomes, suas histórias e suas lideranças. Mas, mesmo sob camadas de opressão, essas vozes cantaram, ensinaram, resistiram e mantiveram vivas suas comunidades, seus saberes e suas lutas.

O dia foi instituído em 1992, durante o 1º Encontro de Mulheres Negras da América Latina e do Caribe, realizado em Santo Domingo, na República Dominicana. Naquele momento, consolidou-se também a Rede de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, que, desde então, atua por visibilidade, justiça e equidade.

No Brasil, comemora-se também o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, instituído pela Lei nº 12.987/2014. Tereza de Benguela, líder quilombola do século XVIII, é símbolo de luta, estratégia e poder feminino negro.

Coincidentemente, e não por acaso, o dia 25 de julho também marca o Dia Nacional do Escritor. E, neste ano de 2025, essa coincidência ganha um sentido ainda mais profundo. No dia 10 deste mês, a escritora Ana Maria Gonçalves foi eleita para a Cadeira 33 da Academia Brasileira de Letras, tornando-se a primeira mulher negra a ocupar uma vaga na ABL em seus 128 anos de existência.

Autora de Um Defeito de Cor”, romance monumental que narra a trajetória de Kehinde, mulher africana escravizada que busca, ao longo do século XIX, reencontrar o filho e a si mesma, Ana transforma a literatura em instrumento de memória, denúncia e reexistência.

Sua eleição não é um feito isolado. Faz parte de um processo maior: o avanço, ainda lento e desafiador, da presença de mulheres negras em espaços simbólicos e políticos. A Cadeira 33 agora abriga não apenas Ana Maria, mas também o eco de vozes ancestrais como Carolina Maria de Jesus, Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro, Conceição Evaristo e tantas outras que, com palavra firme e pés no chão, quebraram as correntes da dominação.

As mulheres negras formam a espinha dorsal das Américas e, ao mesmo tempo, são as mais atingidas pela pobreza, pela violência, pela precarização do trabalho, pelo racismo institucional e pelo machismo estrutural. Mas é nelas, também, que pulsa a renovação social. Elas criam redes de cuidado, fundam movimentos, ensinam, acolhem e resistem.

Para essas mulheres, o cuidado não é apenas um serviço. É parte da cultura, da espiritualidade e da identidade. É herança viva. É política cotidiana. É prática de reconstrução comunitária em territórios onde o Estado falha. Valorizar essas formas de cuidado, e sobretudo as mulheres que as realizam, remuneradas ou não, é tarefa urgente para qualquer sociedade que pretenda se dizer justa.

A cultura afro-latino-americana e caribenha é outro pilar dessa resistência. A música, os cabelos trançados, os saberes das ervas, os tambores, as comidas, os terreiros, os modos de ensinar e aprender. Tudo isso forma um legado vivo que rompe com a colonização e alimenta o futuro. Cada expressão cultural é também uma forma de manter presente os povos que sustentam este continente.

Nesse contexto, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee) reforça seu compromisso com a luta antirracista e com o protagonismo das mulheres negras na educação, na cultura, na política e na formulação de políticas públicas que realmente dialoguem com suas experiências. Não há justiça social sem justiça racial e de gênero. E não há transformação efetiva sem a valorização dessas mulheres.

A chegada de Ana Maria Gonçalves à ABL, em pleno mês de julho, é emblemática. Revela fissuras no status quo e mostra que, por essas rachaduras, a luz negra irrompe de forma resplandecente e incontornável.

Porque, como bem disse Angela Davis: “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela.”

E, neste julho, a Contee se movimenta junto. Com elas. Por elas. Por todas nós.
A reparação é necessária, premente e inadiável.

Com a força de quem transforma a palavra em escudo vital, Conceição Evaristo nos lembra: “Eles combinaram de nos matar, mas a gente combinou de não morrer.”

Por Romênia Mariani

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