Por um futuro de qualidade
Vítor Andrade*
Surgiu nos anos 90 um programa de rádio que fazia paródias, brincadeiras, trotes com pessoas conhecidas e desconhecidas e nos deixou em “pânico”, mas que logo nos anos 2000 passou a aparecer na televisão e tomou conta do país. E, quando falo isso, incluo todos, inclusive crianças e adolescentes, deixando pais, mestres e a sociedade civil em “pânico”.
O grande fator de risco nesta situação é que, apesar de o programa ser para maiores de 14 anos, crianças de 10, 12 anos assistem, muitas vezes com a permissão dos pais. O problema é que pais não sabem a gravidade do programa para a formação social do seu filho. O programa debocha com pessoas que possuem certos DI (Déficit Intelectual), PNEs (Portadores de Necessidades Especiais), dentre outros problemas, o programa incentiva o “bullying” com nomes e apelidos indigestos, e faz com que os jovens reproduzam tais táticas na rua e na escola. Os movimentos sociais organizados lutam tanto por mais respeito às mulheres, e o programa as trata como mero objeto ou, pior, mostra, com a “miss da beleza interior”, que o fato de não terem o corpo da dançarinas do programa as descarta de alguns meios sociais, dentre outros.
Se as influências da mídia e dos astros da TV afetam os adultos, imaginem os adolescentes quando vêm um apresentador do programa sentar em um formigueiro, tomar choque ou apanhar em brincadeiras que são verdadeiras torturas, e ver outro apresentador simplesmente rindo. Pode-se falar: – mas é autorizado! O problema é que a reprodução não é. Na escola e nas ruas, esses jovens acham que podem fazer, e não adianta colocar o aviso: “Não repitam isso em casa”; eles vão fazer, e agrava mais ainda quando não é em casa. A TV já perdeu a qualidade faz tempo, não deixe a família e a educação acabarem, não se pode deixar um programa como esse ser transmitido aos domingos às 20h, quem quiser ver que pague a TV fechada para assistir, com senha de bloqueio, pois estamos lidando com situações complicadas na escola, muitos palavrões, falta de respeito, intolerância, agressões físicas, brincadeiras de mau-gosto, o próprio bullying… Já se questiona o trote nas faculdades por que as vezes exageram na dose e acabam deturpando o objetivo principal. Professores estão em pânico com o rumo da educação neste país.
Portanto, pais, alunos e mestres: não se deixem levar por programas como esse, que deturpam o conceito de educação, de família, que questionam a capacidade intelectual do Ser Humano; um programa maldoso, aproveitador, sexista, preconceituoso, que traz a ideia de um mundo de fantasias, de que tudo é brincadeira. Claro que não é apenas o programa que traz essas alusões, isso temos na internet, e em outros meios, mas a preocupação é a escola e um futuro melhor que podemos ter. O Pânico está para o BBB numa lógica diretamente proporcional, e muito pior, pois é constante. Portanto precisamos de educação, cultura, de famílias (e não pessoas que dividem o mesmo teto), de diálogo. A comunidade escolar e o futuro do Brasil agradecem.
*Vítor Andrade é professor de História
Pós-graduado em História da Maçonaria
Diretor do Sinproep-DF