O passado em disputa: as vozes que ecoam em “Malês”

A nossa dica cultural da semana é o filme Malês, dirigido por Antônio Pitanga. A produção, ambientada em Salvador no início do século XIX, revisita a Revolta dos Malês, a maior insurreição de pessoas escravizadas do Brasil, e nos traz um capítulo importante da história do país, frequentemente silenciado nos livros didáticos. Com roteiro de Manuela Dias, o longa acompanha dois jovens muçulmanos africanos que, às vésperas do casamento, são capturados e trazidos como escravizados para o Brasil. Separados pela violência da travessia e do cativeiro, suas trajetórias se entrelaçam novamente no contexto da rebelião que marcou a luta por liberdade e dignidade do povo negro.
De acordo com as críticas sobre o filme, a direção de Antônio Pitanga tem sido destacada por unir vigor político e sensibilidade poética. Reconhecido como um dos grandes nomes do cinema brasileiro, Pitanga conduz o filme de forma a refletir sua trajetória marcada pela luta e pela ancestralidade. As análises também ressaltam a fotografia de Pedro Farkas, apontada como um dos elementos visuais mais expressivos da produção, e as atuações de Rodrigo de Odé, e do próprio Pitanga, que dão corpo à narrativa. Outro aspecto frequentemente mencionado é o uso de trilha sonora, que reforça a ambientação na Bahia e a valorização do legado africano na formação da identidade cultural brasileira.
A força de Malês está em resgatar a presença muçulmana africana no Brasil, muitas vezes invisibilizada, e em revelar a pluralidade das resistências negras. A obra convida a refletir sobre o apagamento histórico e sobre a urgência de uma educação que reconheça e valorize as raízes africanas e afro-brasileiras, compromisso que deve atravessar a prática docente e sindical.
Para as trabalhadoras e os trabalhadores da educação privada, o filme é também uma ferramenta pedagógica potente. Ele pode inspirar diálogos em sala de aula, projetos de cineclube e formações sobre diversidade cultural, religião, racismo e história do Brasil. A mensagem de Malês dialoga diretamente com a luta por uma educação libertadora, que não se limita à transmissão de conteúdo, mas forma sujeitos críticos e conscientes de seu papel na sociedade.
Ao revisitar a Revolta dos Malês, o filme reafirma que o passado é um território de disputa simbólica e política, onde vozes que foram silenciadas pela história oficial continuam ecoando nas lutas do presente.
Por Antônia Rangel





