Renda e cor ainda decidem quem conclui o ensino médio no Brasil

Mesmo com avanços, jovens pobres e pretos, pardos e indígenas seguem com menos chances de concluir o Ensino Médio; um em cada quatro brasileiros ainda fica para trás

No Brasil, a cor da pele e o tamanho da renda continuam determinando quem consegue — e quem não consegue — concluir o Ensino Médio. É o que mostra o novo estudo do Todos Pela Educação, ao revelar que jovens pretos, pardos, indígenas e os mais pobres seguem enfrentando os maiores obstáculos para terminar a educação básica na idade adequada. Mesmo com avanços na última década, as desigualdades estruturais permanecem como principal barreira ao direito à educação.

Publicado nesta segunda-feira (17), o estudo usa dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad-C) e seu Módulo Educação, do IBGE. Entre 2015 e 2025, houve melhora na conclusão do ensino fundamental e médio, mas o ritmo ainda está longe de garantir equidade. A proporção de jovens que concluíram o ensino fundamental até os 16 anos subiu de 74,7% para 88,6%. No ensino médio, o avanço foi ainda maior, passando de 54,5% para 74,3%. Apesar disso, um em cada quatro jovens brasileiros não conclui o Ensino Médio até os 19 anos.

Renda e raça seguem definindo oportunidades

Os recortes por renda revelam o caráter estrutural da desigualdade educacional. Em 2025, 60,4% dos jovens mais pobres concluíram o Ensino Médio, enquanto entre os mais ricos o índice alcançou 94,2%. A diferença, de 33,8 pontos percentuais, apesar de menor que a de 2015, permanece enorme e impede que a conclusão da educação básica seja um direito universal de fato. Seguindo essa linha, jovens pobres só terão as mesmas chances que os ricos a partir de duas décadas.

Além disso, as desigualdades raciais reforçam esse cenário. A taxa de conclusão do Ensino Médio entre brancos e amarelos foi de 81,7%, enquanto entre pretos, pardos e indígenas (PPI) ficou em 69,5%. A distância de 12,2 pontos percentuais significa que estudantes PPI ainda não alcançaram nem mesmo o nível registrado por brancos/amarelos em 2018.

As mulheres mantêm taxas mais altas de conclusão do que os homens — 78,5% contra 70,2% —, mas enfrentam obstáculos particulares, como gravidez precoce e sobrecarga de afazeres domésticos, que representam 4,5% dos casos de não conclusão entre elas.

Norte e Nordeste avançam, mas seguem atrás

As regiões Norte e Nordeste foram as que mais progrediram na última década, com avanços de 25,7 pontos percentuais e 23 pontos percentuais na conclusão do Ensino Médio. Mesmo assim, seguem abaixo do restante do país: em 2025, o Norte registrou 69,1% e o Nordeste 69,3%, enquanto o Sudeste alcançou 79,6%.

No ensino fundamental, as duas regiões também foram responsáveis pelos maiores saltos, mas ainda permanecem abaixo de Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

Por que os jovens não concluem o Ensino Médio

O estudo também identifica os motivos que levam adolescentes a interromper a trajetória escolar. Entre os jovens que estavam fora da escola e não haviam concluído o Ensino Médio: 35,2% estavam estudando, mas em atraso, 24,6% precisavam trabalhar e 25,1% relataram falta de interesse.

Essas razões recaem com muito mais força sobre os jovens mais pobres: entre eles, atraso escolar, necessidade de trabalhar e desengajamento aparecem em proporções mais altas do que entre os mais ricos. Entre jovens PPI, também são maiores os índices de atraso, necessidade de trabalhar e desinteresse, revelando como a desigualdade racial molda a permanência escolar.

Avanços existem, mas não garantem equidade

As conclusões do estudo são evidentes: o Brasil avançou, mas devagar demais para enfrentar desigualdades tão profundas. A combinação entre raça, renda e território segue determinando chances educacionais, e o país ainda não assegura que todos os jovens finalizem a Educação Básica no tempo certo. Nesse sentido, o debate sobre o novo Plano Nacional de Educação (PNE) surge como oportunidade para reforçar políticas que garantam permanência, aprendizagem e conclusão escolar, especialmente para os grupos historicamente excluídos.

Veja a íntegra do estudo.

Fonte
Vermelho

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