IBGE aponta alta na sindicalização

O índice de sindicalização divulgado na quarta-feira (19) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a partir da Pnad Contínua, aponta uma inflexão relevante na organização coletiva no país. Em 2024, o Brasil registrou 9,1 milhões de trabalhadores sindicalizados, o equivalente a 8,9% da população ocupada. O número representa um acréscimo de 812 mil filiados em relação a 2023, quando a taxa era de 8,4%. É a primeira alta desde 2012, ano em que o índice alcançou 16,1%.

O crescimento não elimina a trajetória de retração da última década, marcada por ataques ao movimento sindical, tentativas de criminalização da representação coletiva e alterações legislativas que fragilizaram direitos. Ainda assim, o avanço atual sugere um movimento de reaproximação entre trabalhadores e suas entidades, impulsionado pela percepção de que a ação coletiva continua indispensável para proteger direitos e assegurar condições dignas de trabalho.

Segundo o IBGE, elementos como maior formalização do emprego, aumento da percepção sobre vulnerabilidades laborais e atuação mais visível dos sindicatos em processos de negociação influenciaram o resultado.

Os recortes setoriais reforçam essa leitura: nos segmentos que englobam administração pública, educação, saúde e seguridade social, a taxa chegou a 15,5%, muito acima da média nacional. Entre trabalhadores com carteira assinada, o índice atingiu 11,2%, enquanto entre os sem carteira ficou em apenas 3,8%, evidenciando o peso da estabilidade e da formalização na decisão de se filiar.

Mesmo com o avanço, os 8,9% atuais ainda estão distantes da marca de 2012, e a recomposição tende a ser lenta. Ela depende de fatores estruturais como formalização do mercado de trabalho, estabilidade dos vínculos, rotatividade setorial, acesso dos trabalhadores às entidades representativas e marcos regulatórios que fortaleçam a negociação coletiva.

O desafio colocado ao movimento sindical é transformar esta expansão inicial em processo duradouro, capaz de ampliar a filiação, reconstruir estruturas organizativas e enfrentar os efeitos ainda presentes da reforma trabalhista de 2017.

O aumento da sindicalização demonstra que os trabalhadores reconhecem o valor da representação coletiva, mas demanda, simultaneamente, ação permanente, fortalecimento da base e compromisso com a defesa dos direitos sociais.

A presença cotidiana nos locais de trabalho, o diálogo permanente com as categorias e o trabalho de base seguem sendo pilares para ampliar confiança e engajamento. Soma-se a isso a capacidade das entidades de exercer plenamente sua função pública: comunicar com eficiência, garantir assessoria jurídica qualificada, atuar com firmeza nas negociações coletivas e representar os trabalhadores diante de empregadores e governos.

Em um cenário de transformações aceleradas no mundo do trabalho, sindicatos fortes tornam-se ainda mais essenciais na defesa de direitos, na mediação de conflitos e na participação nos processos de regulação das relações laborais. Quando essa representatividade é percebida como real e eficaz, a sindicalização tende a crescer e a recuperar centralidade.

Sindicatos fortes são condição para a democracia, para a justiça social e para a construção de um país que valorize o trabalho e garanta dignidade a todas e todos.

Por Antônia Rangel

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