Contee repudia homenagem a Ernesto Geisel na UCS e reafirma compromisso com a memória, a verdade e a democracia
A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee) manifesta seu firme repúdio à criação de um memorial em homenagem ao ditador Ernesto Geisel, instalado na Biblioteca da Universidade de Caxias do Sul, no campus de Bento Gonçalves. A iniciativa, promovida pela Fundação Educacional da Região dos Vinhedos, pelo Carvi/UCS e pela Fundação Katsuzo Yamamoto, constitui grave afronta aos princípios democráticos e ao compromisso do país com a verdade histórica.
A homenagem, hoje alvo de recomendação do Ministério Público Federal para imediata desativação, viola o direito à memória e à verdade e contraria diretamente as conclusões da Comissão Nacional da Verdade. O MPF enfatiza que o memorial representa revitimização de familiares e sobreviventes da repressão e fere garantias fundamentais de não repetição. Destaca ainda que, no primeiro ano do governo Geisel, cinquenta e quatro pessoas desapareceram, o maior número de todo o período ditatorial, e que casos emblemáticos de violência de Estado, como as mortes de Vladimir Herzog e Manuel Fiel Filho e o sequestro da família de Lilian Celiberti, ocorreram sob sua responsabilidade institucional.
Ernesto Geisel figura entre os agentes do Estado responsabilizados pela CNV por perseguições, torturas, execuções e desaparecimentos forçados. Documentos oficiais, inclusive internacionais, comprovaram que seu governo manteve e autorizou políticas de eliminação de opositores políticos. Não há espaço para relativizações de um legado marcado por graves violações de direitos humanos.
A Contee relembra que universidades têm responsabilidade especial na preservação da memória e no debate crítico da história. São espaços destinados à formação cidadã, à produção de conhecimento e à defesa da dignidade humana. Não cabe a uma instituição de ensino exaltar figuras associadas à censura, perseguição e silenciamento. Tal homenagem distorce o sentido da democracia e envia à sociedade um recado perigoso, o de que crimes de Estado podem ser tolerados ou celebrados.
A remoção de símbolos que homenageiam perpetradores de violações é parte essencial da reparação democrática prevista na Constituição e reafirmada por tratados internacionais assinados pelo Brasil. Manter esse tipo de memorial significa perpetuar a impunidade simbólica e naturalizar o autoritarismo.
A Contee manifesta total apoio às associações docentes, entidades estudantis, organizações de direitos humanos e movimentos sociais que se posicionaram contra a homenagem. Essas vozes exercem papel essencial na defesa do Estado Democrático de Direito e da verdade histórica.
Por memória, verdade, justiça e democracia, reiteramos com absoluta convicção: ditadura nunca mais.
Brasília, 26 de novembro de 2025.
Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee)





