Em tempos de Escola sem Partido, educadores ressaltam legado de Paulo Freire
São Paulo –Ontem (19), o educador pernambucano Paulo Freire completaria 95 anos. Um dos maiores educadores do mundo, morto em 1997, aos 76 anos, Freire foi declarado como patrono da educação brasileira em 2012. Hoje atacado pela direita, nas ruas e nas redes sociais, Freire acreditava que educar não é apenas ensinar a ler e escrever, mas desenvolver senso crítico, politizar, além de estimular a troca de conhecimento entre professores, alunos e a comunidade – proporcionando ao aluno a consciência sobre os rumos da própria vida por meio da educação. Sua obra mais conhecida, A Pedagogia do Oprimido, foi traduzida para mais de 40 idiomas.
“Os ultraconservadores se incomodam com Freire porque ele estabelece a necessidade da justiça social e da não discriminação, do diálogo sobre as nossas diferenças econômicas, culturais, sexuais, políticas, educacionais que, portanto, colocam a sociedade em análise”, afirma Paulo Roberto Padilha, diretor pedagógico do instituto que homenageia o educador.
“Freire diz que a leitura do mundo precede a leitura da palavra. Ou seja, a visão do mundo que aquele educando tem, as experiências que ele traz para a sala de aula, são elementos fundamentais para o processo de educação”, diz o professor Gilberto Alvarez, o Giba, coordenador do departamento de formação do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e comentarista de educação do Seu Jornal, da TVT.
Paulo Freire ganhou renome internacional com o projeto “Com pé no chão também se aprende a ler”, que, em 1961, alfabetizou cerca de 300 cortadores de cana em 45 dias, passando a servir de modelo para os planos educacionais voltados aos jovens e adultos em todo o país.
“Ele falava que não adianta a pessoa conseguir ler ‘Eva viu a uva’, se a pessoa não entender qual é o contexto social da Eva, a situação social do trabalhador que produz a uva e quem detém o lucro da produção”, lembra Giba.
Os que hoje combatem o legado de Freire defendem o chamado projeto Escola sem Partido, que segundo os educadores, trata-se na verdade de uma escola de partido único, inibe a divergência e tenta impor um modelo de pensamento único, conforme vigorou, em maior ou menor grau, durante a ditadura de 1964.
“É um atentado ao trabalho do professor, uma desmoralização das ciências humanas. Tivemos uma escola com partido no regime militar. Esse movimento, Escola sem Partido, quer voltar a esse tempo”, rebate Giba.