Alta da Bolsa de Valores significa melhora da economia?
Economista explica jogo complexo entre finanças e política
Rafael Tatemoto
O Ibovespa, indicador da Bolsa de Valores brasileira (B3), fechou a semana passada com um novo recorde: pela primeira vez na história, ultrapassou o patamar dos 85 mil pontos. A alta na última sexta-feira (26) representou a superação de um número que havia durado apenas dois dias. Na quarta-feira (24), o indicador havia batido os 83 mil pontos, feito inédito até então.
Naquela mesma quarta-feira, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) manteve em segunda instância a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Paulo Kliass, doutor em Economia e especialista em políticas públicas e gestão governamental, lembra que o o volume de ações compradas e vendidas – o que determina altas e quedas – é determinado por mais de um fator. Desde o início de 2018, a B3 acumula alta de 12%. Para o economista, tal tendência pode ser explicada com a retomada natural da economia e a sensação dos agentes financeiros de que “o pior já passou”.
Ele alerta que as negociações na Bolsa de Valores não são um reflexo idôneo do conjunto da economia nacional. Basta apontar o crescimento pequeno do Produto Interno Bruto (PIB).
“Não está refletido na Bolsa de Valores o conjunto da variáveis econômicas do país. As empresas cotadas são pouquíssimas e geralmente muito grandes. São setores oligopolizados, e até monopolizados, com ligações com o capital financeiro internacional. A pequena e média empresa estão fora. De alguma maneira, é uma ilha da fantasia, mas que não deixa de ter algum tipo de relação com a realidade”, contextualiza.
A referida “ilha” é composta basicamente por agentes que obtém lucros por meio da compra e venda das ações, adquirindo-as nos momentos de baixa e as vendendo nos momentos de alta. Por essa razão, a alta da Bolsa é acompanhada da queda do dólar, e vice-versa, já que a moeda dos Estados Unidos é outro destino do investimento de especuladores. As variações da Bolsa por conta de questões políticas são, na verdade, oportunidades de obter ganhos financeiros.
“Esse o momento em que os incautos vão começar a entrar na Bolsa e os profissionais estão preparando para sair, porque sabem que não vai subir muito mais do que isso”, diz.
Nesta dinâmica, aponta Kliass, a incerteza e a expectativa ditam a quantidade de compras e vendas das ações. A definição destes dois elementos fica a cabo de consultores e analistas que formulam cenários, tendo em vista os interesses dos agentes financeiros.
É neste cenário que é possível entender o “simbolismo” da alta recorde da Bolsa na data da condenação de Lula e nos dias seguintes. As expectativas do mercado financeiro após o ocorrido, na visão de seus próprios operadores, ficaram mais positivas.
Como rememora Kliass, apesar dos ganhos do setor bancário e financeiro nos governos do PT, o chamado mercado não o vê como seu candidato. Indícios dessa posição puderam ser vistos em editoriais e matérias de jornalismo econômico que afirmavam que as eleições de 2018 poderiam ser um empecilho para a continuidade da agenda de reformas, como a trabalhista e a previdenciária.