Trabalhadores têm de economizar muito para bancar o alto preço do botijão de gás
A Petrobras anunciou esta semana mais um aumento no preço do gás de cozinha que, desde o golpe de 2016, quando o ilegitimo Michel Temer (MDB-SP) alterou a política de preços da estatal, vem acompanhando as variações dos preços do dólar e do barril de petróleo no mercado internacional. Até agora, o governo de Jair Bolsonaro não deu sinais de mudança nesta política.
Para os trabalhadores e trabalhadoras que vêm sofrendo com o desemprego e a queda do poder de compra é mais uma má notícia. E com mais este aperto no orçamento doméstico, quem ainda está conseguindo comprar um botijão de gás só tem uma saída: aprender a economizar. É o caso da alagoana Luciana Leite da Silva, de 30 anos, agricultora familiar na cidade de Ouro Branco, casada, com um filho de dez anos, que cozinha todos os dias e precisa tomar vários cuidados para o gás durar mais tempo e não corroer ainda mais a renda.
Com os reajustes nos preços do botijão de gás, que no ano passado foram quase diários, a trabalhadora que cuida da casa junto com o marido Domiciano e usa o fogão ao menos duas vezes por dia, teve de mudar o jeito de fazer comida, além de reduzir outras despesas.
“A primeira mudança foi ver onde a gente podia gastar menos e cortar. Eu diminui nos produtos de limpeza e passei a comprar – sempre – tudo do mais barato”.
Para fazer a comida, também adorou algumas regras. “O feijão, o arroz, tudo o que dá para fazer para dois dias, ou mais, por exemplo, eu faço, porque no fim, acaba gastando menos gás”, ela explica.
O mesmo faz Holiver Oliveira, 29 anos, gerente comercial em Araraquara (SP), que apesar de morar sozinho precisa economizar na hora de fazer sua comida. Ele diz que, assim como a maioria dos brasileiros, seu poder de compra diminuiu muito nos últimos anos e o preço do botijão não parou de subir. “Não tem outro jeito, tem que economizar, em especial no gás de cozinha que está caro demais”.
Holiver e o casal Luciana e Domiciano vão ter de apertar ainda mais o cinto, pois está vindo por aí outro aumento. Esta semana, a Petrobras elevou o preço do gás de cozinha de R$ 25,07 para R$ 25,33. A estimativa é de que chegue às distribuidoras com um aumento entre 0,5% e 1,4% e, até chegar ao consumidor final, o valor pode ficar até cinco vezes mais caro.
Sem computar o último aumento, o preço do botijão de gás variava de R$ 47,99 a R$ 120,00, no Sul e no Centro-Oeste, respectivamente, sendo a Associação Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Para continuar conseguindo comprar, é preciso fazer o gás durar mais, diz Holiver, que dá dicas, como “deixar alimentos, como o feijão, de molho desde a noite anterior porque diminui o tempo da panela no fogo para cozinhar”. Ele também aproveita o vapor do que está cozinhando para preparar legumes colocando uma peneira metálica em cima da panela com legumes cortados em pedaços pequenos para cozinhá-los mais rápido. “Você pode usar o vapor do arroz, do macarrão e fica até mais gostoso”.
Outra dica de Holiver é tampar as panelas na hora de ferver a água para fazer macarrão ou arroz para que o vapor não escape. “Fica menos tempo no fogo e economiza gás”.
Já Luciana prefere usar mais a panela de pressão para os alimentos porque, diz ela, “cozinha mais rápido”.
Com esses cuidados, para a família de Luciana um botijão de gás dura, em média, um mês e dez dias. Para Holiver, que mora sozinho, dois meses, chegando a até dois meses e meio.
Ele diz que se preparar somente o trivial, o gás dura pouco mais de dois meses. “Quando invento mais coisas, dura um pouco menos, mas ainda assim, tendo esses cuidados, a economia é grande”.
Para Luciana, a realidade é mais difícil. Sua família comercializa o que planta, por isso, o rendimento depende da quantidade da produção. Ela lamenta a falta de chuva em sua região nos últimos tempos que está prejudicando a plantação.
“A gente não tem estrutura para armazenar água, então a produção diminuiu. E a renda também. Por isso, a encomia nessa hora tem que ser ainda maior”.
Preço abusivo
Luciana reclama do alto preço do gás. “Aqui em Ouro Branco [AL] custa 70 reais e se a gente não tem dinheiro, tem que comprar a prazo, aí sobre pra 75 reais”.
“Se fosse mais barato, nossa situação estaria menos difícil”, diz a agricultora familiar que não utiliza com frequência o microondas para não aumentar o preço da conta de luz. “A energia elétrica também é cara”, critica a trabalhadora.
Aplicativo também dá dicas
Um aplicativo para Smartphones – o Chama – divulgou recentemente em suas redes sociais algumas dicas de como economizar gás. A ferramenta, na verdade, é voltada para a venda do produto, pelo próprio aplicativo, comparando preços na região do usuário. Mas as dicas são importantes.
A primeira delas é ter atenção à cor da chama. Se estiverem amareladas ou alaranjadas, os bocais do fogão podem estar entupidos ou sujo, o que aumenta o consumo do gás. O ideal é chama azul. Fechar as janelas da cozinha também ajuda na economia, já que o vento pode diminuir o calor do fogo na panela e assim, “demora mais para a comida ficar pronta”.
Forno
Outra dica é usar a luz do forno para verificar os alimentos. Evitar abrir e fechar a tampa quando um bolo, uma carne, uma torta ou qualquer outro alimento, também diminui o tempo de assar.
Holiver completa a dica dizendo que é possível aproveitar para cozinhar vários alimentos ao mesmo tempo. “Se você vai assar a carne, já aproveita e bate o bolo antes, para colocar junto. Assim você usa uma vez só”.
Panela certa é que faz comida boa
Segundo o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), ainda que existam muitas opções de panelas no mercado, não existe uma que seja ideal para todos os tipos de alimentos, por isso é necessário conhecer e saber as vantagens e desvantagens de cada uma e procurar a ideal para cada tipo de comida.
Alumínio
Vendida por um preço acessível, aquece rapidamente a comida, é leve e fácil de manipular. Por outro lado, com o tempo, sua forma pode se alterar e, com o uso, ocorre a liberação de alumínio, material suspeito de estar ligado a doenças como o Alzheimer;
Aço inox
É fácil de limpar, mantém o calor do alimento e tem maior durabilidade, mas são mais caras e liberam níquel nas primeiras vezes. Também ficam riscadas mais facilmente e escurecem com o tempo.
Pedra-sabão
São antiaderentes, liberam cálcio, magnésio e ferro. Mantém o aquecimento, mas cozinham lentamente. São pesadas, frágeis e há dificuldade de serem encontradas.
Vidro
São atóxicas e aquecem rapidamente os alimentos, mas são caras, frágeis e seu uso requer habilidade para não queimar a comida.
Ferro
Têm preços acessíveis, duram bastante, mantêm o calor do alimento e são fáceis de limpar. Porém, são pesadas e podem interferir na cor e no sabor dos alimentos.
Antiaderentes
Aquecem rapidamente o alimento, são fáceis para limpar e possibilitam menor uso de gordura,. Mas como tempo, o material se desgasta, o que pode promover a formação de substâncias pouco seguras – não deve ser usada para preparar alimentos protéicos como carne, ovo, leite e iogurte.
Barro
Mantêm o alimento aquecido por mais tempo e podem ser usadas tanto na chama do fogão como no forno. Porém, são pesadas, o aquecimento é lento e a adesão de sujeira é maior.
A mecânica dos reajustes do gás
Segundo o levantamento Síntese dos Preços Praticados (SLP), realizado pela Agência Nacional de Petróleo, o preço do gás de cozinha (GLP), para o consumidor, além de sofrer reajustes trimestrais desde janeiro de 2018, ainda pode variar de acordo com as regiões do Brasil.
Os dados publicados no portal da ANP nesta quarta-feira (6) se referem às quatro semanas anteriores e mostram a grande diferença entre o menor e o maior preço praticado em todo o Brasil. Por exemplo, em Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, pode se encontrar o botijão de 13kg por R$ 47,99. Já em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, o valor mais alto apurado pela ANP foi R$ 120. E mesmo dentro das mesmas regiões, o preço também varia
Segundo a Petrobrás, o preço de venda às distribuidoras não é o único fator que determina o que vamos pagar pelo gás, em casa. Nessa conta entra também a liberdade de preços do mercado, o que é garantido pela lei brasileira, além do repasse de impostos e custos operacionais, de transporte e o lucro do revendedor, que variam de região para região.