A humanidade precisa de mais mulheres também na ciência
Menos de 30% dos pesquisadores no mundo são mulheres. A Organização das Nações Unidas (ONU) para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e a ONU Mulheres celebram no dia 11 de fevereiro o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência, aprovado pela Assembleia das Nações Unidas em 22 de dezembro de 2015, para promover o acesso integral e igualitário da sua participação na ciência.
Mesmo com o menor número atuante no setor, somente uma pessoa já recebeu por duas vezes o Prêmio Nobel na área científica, e era mulher: a polonesa Marie Curie (em 1903, física; em 1911, química). Entre 1901 e 2019, apenas 54 mulheres estão os 923 laureados, das quais 20 em física, química, fisiologia ou medicina. No último dia 5, a engenheira e astronauta americana Christina Koch retornou à Terra depois de passar quase um ano a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS) e bater o recorde feminino de permanência no espaço. Ela também realizou a primeira caminhada espacial 100% feminina, em outubro de 2019, ao lado da compatriota Jessica Meir, uma bióloga marinha.
Os desafios colocados à humanidade para atuar com ciência na natureza depende, e dependerá cada vez mais, do aproveitamento de todos os talentos e, portanto, da inclusão de mais mulheres nessa atividade. Mas são muitos os obstáculos para que meninas e mulheres desenvolvam o interesse em ciência, tecnologia, engenharia e matemática, prejudicando as próprias mulheres e o conjunto da sociedade. De acordo com o Fórum Econômico Mundial, as mulheres ganham um emprego na área das ciências para cada 20 pedidos, enquanto os homens ganham um a cada quatro.
De acordo com o Instituto de Estatísticas da Unesco, apenas 28% dos pesquisadores do mundo são mulheres. Nos campos científicos onde elas estão presentes, são sub-representadas nas decisões dos mais altos níveis da pesquisa científica.
A falta de reconhecimento das conquistas das mulheres leva ao preconceito de que as mulheres não podem atuar na ciência tão bem como os homens. Em 2005, o reitor da Universidade de Harvard (Estados Unidos), Lawrence Summers, chegou a afirmar que as mulheres são incapazes de ser boas pesquisadoras e que as diferenças biológicas explicariam o seu reduzido sucesso nas ciências.
Bolsonaro entre os piores
No Brasil, dados recentes apontam que as mulheres são maioria até o pós-doutorado; no corpo docente, a participação da mulher é equilibrada entre os doutores e os livre-docentes e é minoritária entre os professores titulares. As mulheres coordenaram cerca de 40% de grandes projetos de pesquisas coletivas, mas os homens continuam com a hegemonia nos postos mais elevados das ciências.
Segundo um relatório de 2017 da editora científica Elsevier, entre os anos de 1995 e 2015, as mulheres passaram a assinar metade dos artigos científicos produzidos no país. Trata-se de um avanço considerável, uma vez que, de 1996 a 2000, eram responsáveis por 38% das publicações.
“As meninas precisam ter exemplos”, diz a professora Hildete Pereira de Melo, do Departamento de Economia da Universidade Federal Fluminense, que, com a professora Ligia Rodrigues, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, realizou a pesquisa “Pioneiras da Ciência no Brasil” (disponível aqui: http://cnpq.br/pioneiras-da-ciencia-do-brasil). Trata-se de um levantamento de mulheres importantes de diversas áreas do conhecimento, como física, química, agronomia, história, botânica, entre outras. “As meninas não podem olhar para a ciência e achar que é um mundo masculino porque só tem homem, e brancos. A ciência é andrógina e branca, a matriz eurocêntrica”, denuncia Hildete.
Com apenas duas ministras (a da Agricultura e a da Mulher) entre 22 pastas, o governo de Jair Bolsonaro tem um dos piores índices de participação feminina no Executivo entre todos os países do mundo, segundo a ONU. Na média, a taxa internacional é de 20,7% dos ministérios ocupados por mulheres. No Brasil, o índice é de apenas 9%. O Brasil está na 149ª colocação e apenas 39 países tem um desempenho abaixo do brasileiro.
Márcia Abrahão Moura, reitora da Universidade de Brasília (UnB), destaca a necessidade de “identificar e combater o preconceito contra mulheres enraizado cultural e institucionalmente –– algo que não é exclusividade do Brasil. Nesse sentido, vale destacar um estudo publicado pela revista Nature, uma das mais importantes do meio científico, em 2018, sobre a menor presença de mulheres no trabalho de revisão de artigos para os periódicos da União Geofísica Americana”.
Para ela, “além de reconhecer o problema e trabalhar em políticas e ações que promovam a equidade de gênero, é importante que todos nós encorajemos meninas e jovens a seguir a carreira que desejarem. Esse é um desafio maior para cursos da área de Exatas, onde ainda somos poucas. Afinal, não há trabalho que não possa ser feito, e bem-feito, por uma mulher”.
Carlos Pompe