Educação, pandemia e desenvolvimento sustentável: Pedagogia Cuba 2021
Por Maria Clotilde Lemos Petta*
No debate educacional internacional, a experiência cubana em educação suscita questões importantes. Verifica-se em pesquisas, incluindo as de instituições como Harvard, Stanford, Fundação Lemann, Fundação Ford, entre outras, a superioridade acadêmica de Cuba. As pesquisas procuram entender como uma sociedade com renda per capita menor que a de muitos países consegue implementar uma educação de melhor qualidade. Nesse sentido, torna-se de grande importância a iniciativa do governo cubano de realização anual de congressos internacionais, quando as experiências cubanas em educação são compartilhadas. Compreendendo esta importância, tenho participado desses congressos, representando a Contee, juntamente com outros companheiros.
O Congresso Pedagogia 2021, ocorrido de 1° a 3 de fevereiro em Havana (de forma remota), tornou-se uma oportunidade ímpar de reflexão e conhecimento sobre as experiências educacionais cubanas no contexto da pandemia. Cabe considerar que, entre os objetivos desta edição, estava avaliar o estado de cumprimento da Agenda 2030, em particular do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável n.º 4, referente à meta de assegurar uma educação inclusiva, equitativa e de qualidade, centrada no desenvolvimento integral e formação cidadã dos estudantes.
Nas diversas atividades do Congresso chama a atenção também a criatividade dos educadores cubanos, que, a partir das lições aprendidas durante o enfrentamento da pandemia, desenvolvem processos educativos em condições de distanciamento social, com uso das tecnologias, reordenamento curricular, ajuste dos calendários escolares e orientação para as famílias no acompanhamento das aulas virtuais.
Em que pese o fato de que nem tudo o que Cuba faz na área educacional se aplica à realidade brasileira, pudemos conhecer experiências cubanas exitosas no enfrentamento dos desafios colocados pela pandemia, as quais podem ser referências para estratégias educacionais. Cabe considerar que o fato de, mesmo antes da pandemia, o conteúdo das aulas da educação básica ser transmitido por TV aberta, nacionalmente para todas as classes de uma determinada série, evidentemente dá a Cuba melhores condições no desenvolvimento de aulas remotas durante este momento.
Outro destaque no Congresso, como já se tornou tradição nos últimos anos, foi a conferência de Frei Betto, que, neste ano, teve o tema Educação e Pandemia. Inicialmente, Frei Betto apontou as inúmeras dificuldades e problemas trazidos pelo isolamento social e pelo ensino remoto imposto pela crise sanitária. Ele citou como exemplo o caso do Brasil, onde a desigualdade social influi no acesso às tecnologias de comunicação, uma vez que apenas 57% da população possuem computador capaz de rodar programas atuais e 30% das moradias não têm acesso à internet, indispensável ao ensino remoto (IBGE / Pesquisa TIC Domicílio, 2018). No entanto, considerou que não teremos mais aquela escola anterior à pandemia e que é preciso ressignificar a educação bimodal, à qual o ensino remoto veio para ser incorporado. Isso aumenta a importância de a escola disponibilizar videoaulas que, inclusive, deveriam ser transmitidas por emissoras de TV e acompanhadas de material impresso. Sobre a volta às aulas presenciais, Frei Betto defende que não deve ocorrer por pressão do poder econômico, mas quando conveniente à preservação da saúde e da vida, sendo que o protocolo deve resultar de amplo debate entre estudantes, professores, funcionários, pais de alunos e autoridades sanitárias.
Conhecer as experiências de milhares de professores e gestores de Cuba reforça o entendimento da importância de um país ter um governo com compromisso total com a melhoria de padrões de ensino de todas as suas regiões. Nessa perspectiva, a presença do Estado na formulação de políticas públicas, vinculadas ao projeto de desenvolvimento sustentável do país, cria as condições para que a educação cumpra seu papel na democratização e formação de cidadãos comprometidos com as mudanças necessárias neste início do século XXI.
*Maria Clotilde Lemos Petta é professora da PUC Campinas, diretora do Sinpro Campinas e Região, vice-presidente da CEA e coordenadora da Secretaria de Relações Internacionais da Contee