Oreiro: resultado do PIB não muda cenário negativo para 2022
“Não foi um crescimento”, avalia o economista
O Produto Interno Bruto (PIB) de 2021 “não foi um crescimento, foi uma recuperação cíclica do choque que a economia brasileira sofreu em 2020 e, ademais, uma recuperação de baixa qualidade, porque continua o processo de desindustrialização da economia brasileira”, avaliou o economista e professor do Departamento de Economia da UnB, José Luis Oreiro, em entrevista ao HP.
“As perspectivas de crescimento para 2022, que já eram muito baixas antes da guerra da Ucrânia, agora ficam ainda piores, e sendo bastante provável que a economia brasileira tenha um crescimento negativo ao longo do ano de 2022”, afirmou Oreiro.
HORA DO POVO: Qual a sua avaliação sobre o resultado do PIB de 2021?
JOSÉ LUIS OREIRO: A alta veio dentro do esperado, quer dizer, o boletim macro do Ibre/FGV, no dia 21 de fevereiro, já estava contando esse aumento de 4,6%, que era o que mais ou menos os economistas esperavam no final de 2021. Com esse número o Brasil recupera o tombo que a economia brasileira teve no ano de 2020, que foi de 3,9%, mas é importante ressaltar que o Brasil fechou o ano de 2021 com PIB inferior ao de 2013 – ou seja – a economia brasileira está há 9 anos estagnada. Por outro lado, em dois trimestres de 2021 o PIB caiu, ou seja, o Brasil teve uma recessão técnica em 2021. O que salvou o ano de 2021 foi o primeiro trimestre, que foi muito bom, e o quarto trimestre, que teve um crescimento de 0,5% com respeito ao terceiro trimestre de 2021. Quer dizer, se o PIB do quarto trimestre tivesse crescimento nulo ou negativo o resultado PIB não seria tão bom.
E quais as expectativas para 2022?
Qual é a importância de se fazer essa ressalva? É que o ímpeto de crescimento da economia brasileira foi esfriando ao longo de 2021 e nós entramos no ano de 2022 com os indicadores de atividade econômica que no geral estão vindo abaixo do esperado. Na mesma publicação do dia 21 de fevereiro de 2022 do boletim macro da FGV, está previsto um crescimento para a economia brasileira ao longo de 2022 de 0,6%. Isso foi antes da crise na Ucrânia. Com a crise na Ucrânia e todos os seus desdobramentos econômicos em termos de aumento do preço das commodities nos mercados internacionais, principalmente, trigo, milho, soja e petróleo, nós vamos observar ao longo do ano de 2022 uma manutenção das pressões inflacionárias, lembrando que o ano de 2021 terminou com o IPCA acumulado de 10,06%, ou seja, na casa dos dois dígitos. Havia a expectativa por parte do Banco Central que o IPCA acumulado em 12 meses começasse a cair a partir de abril deste ano – começasse a ficar abaixo de dois dígitos – mas com essa situação agora do preço das commodities nos mercados internacionais, eu acho isso pouco provável.
Nesse cenário, como o sr. vê situação da indústria nacional?
A indústria brasileira, quando a gente olha para o comportamento do PIB, ela fechou o ano com crescimento muito baixo, crescimento abaixo do crescimento do PIB. Ou seja, o ano de 2021 foi um ano de recuperação das perdas de 2020 e de continuidade do processo de desindustrialização da economia brasileira. Então, tudo isso mostra que não foi um crescimento, foi uma recuperação cíclica do choque que a economia brasileira sofreu em 2020, e ademais, uma recuperação de baixa qualidade, porque continua o processo de desindustrialização da economia brasileira. E, por fim, as perspectivas de crescimento para 2022, que já eram muito baixas antes da guerra da Ucrânia, agora ficam ainda piores, e sendo bastante provável que a economia brasileira tenha um crescimento negativo ao longo do ano de 2022.
ANTONIO ROSA