Após adiamento, ameaças e resistência interna, Olimpíada começa nesta semana
Jogos Olímpicos na capital japonesa eram para ter sido realizados no ano passado, foram adiados por conta da pandemia
Vai começar! Depois de muitas idas e vindas, indecisões, protocolos, testes e resistência popular, os Jogos Olímpicos de Tóquio terão início oficial nesta sexta-feira (23) com a Cerimônia de Abertura.
As competições começam antes, na quarta-feira (21), já com o Brasil em cena. Serão 19 dias de disputas até 8 de agosto, quando saem as últimas medalhas e ocorre o encerramento oficial.
Pouco mais de duas semanas depois será a vez dos paralímpicos, para mais 13 dias de Jogos, entre 24 de agosto e 5 de setembro. Nunca é demais lembrar que o evento era para ter ocorrido no ano passado, mas acabou adiado por conta da pandemia.
O assunto antes das competições começarem não poderia ser outro a não ser as preocupações com a covid-19.
Principalmente depois que as autoridades japonesas se viram obrigadas a recolocar Tóquio e redondezas sob restrições maiores, o chamado estado de emergência.
As medidas estão longe de representar um lockdown e são mais ligadas a horários de funcionamento de bares, restaurantes e karaokês e à venda de bebidas alcoólicas.
Uma outra consequência é a impossibilidade da presença de público nas arenas, que até então poderiam receber 10 mil pessoas ou o equivalente a 50% da capacidade, o que fosse menor.
Para mitigar as consequências da decisão, o COI (Comitê Olímpico Internacional) anunciou em entrevista coletiva no sábado (17) que o sistema de som das arenas irá reproduzir som de torcidas durante as disputas.
Na mesma coletiva, o presidente do COI, o alemão Thomas Bach, foi bombardeado por perguntas a respeito das condições de segurança sanitária, especialmente porque já nos primeiros dias e com ainda muita gente para chegar, haviam sido confirmados 55 casos, sendo quatro atletas, dentre todos os envolvidos, desembarcando ou não no país.
Bach foi muito cobrado pelos jornalistas sobre a inconsequente declaração dada semanas antes de que os protocolos adotados seriam “perfeitos”. Como todo bom cartola, saiu pela tangente em todos os questionamentos.
Casos em alta
A ameaça do coronavírus pairou sobre a seleção brasileira do judô, que optou por uma escala em Hamamatsu antes de se dirigir para Tóquio.
A cidade é conhecida como a mais brasileira do Japão e é constantemente utilizada pela equipe nas muitas vezes que vem ao país asiático, berço da modalidade, para intercâmbios de treinamento.
Foram confirmados cinco caso de covid-19 em funcionários do hotel ainda antes da chegada da seleção. Dias depois, porém, o número foi a sete, depois nove e até este domingo estava em 11.
O COB afirma que nenhum brasileiro foi infectado e que deixou ainda mais rígidas as medidas de prevenção por lá.
De maneira geral, os casos na capital seguem em alta para os padrões japoneses. No domingo (18) foram 1008, o quinto dia seguido com quatro dígitos.
Meses atrás, a intenção das autoridades era tentar recuar o número para o patamar de 300.
Por conta disso, a popularidade do primeiro ministro Yoshihide Suga caiu para 35,9%, a menor desde que assumiu o cargo em agosto do ano passado após renúncia de Shinzo Abe por conta de uma doença intestinal.
Certamente Suga terá dificuldades em colher frutos dos Jogos. Em abril, cerca de 70% dos japoneses se posicionaram contra a realização da Olimpíada agora e, dias atrás, um grupo de quatro cidadãos chegou a entrar na Justiça para tentar barrar o evento, sem ainda decisão anunciada.
Time Brasil
Ao mesmo tempo em que a ameaça do coronavírus paira sobre a Olimpíada, o evento prossegue. No Time Brasil, nome dado à delegação brasileira, dois grandes destaques, um positivo e outro negativo.
Começando pelas más notícias, Fernando Reis, do levantamento de peso, figurinha carimbada nas previsões de medalha, foi pego no exame antidoping e está fora dos Jogos. Esperava-se dele a primeira medalha olímpica da modalidade na história do país.
Por outro lado, foi revelada a primeira dupla de porta-bandeiras da história do país. Bruninho, levantador do time masculino de vôlei, e a judoca Ketleyn Quadros vão carregar o estandarte na primeira edição com um representante de cada gênero.
Bruninho, ou Bruno Resende, filho do técnico de vôlei Bernardo Resende, o Bernardinho, disputou as últimas três finais olímpicas, ganhando a mais recente, na Rio-2016. Ketleyn tem um bronze emblemático conquistado em Pequim-2008, a primeira medalha de uma brasileira em esportes individuais.
O caminho no sentido da igualdade de gênero foi ampliado para o juramento olímpico, um dos momentos mais importantes do olimpismo.
Por orientação dos próprios atletas, foi incluída a palavra ‘igualdade’ no texto a ser repetido por todos os participantes e, também pela primeira vez na história, haverá três homens e três mulheres representando atletas, técnicos e árbitros para entoarem o texto.
A Cerimônia de Abertura, aliás, certamente será uma boa ilustração do ‘novo normal’ olímpico. Além de não receber público, o esperado desfile de delegações foi duramente afetado. Serão poucos atletas por país.
Ou seja, não haverá aquele alvoroço que toma arquibancadas, pista e gramado do Estádio Olímpico a cada quatro anos. De qualquer forma, dará, oficialmente, início aos jogos mais singulares da história. Que todos saiam dele satisfeitos com seus respectivos desempenhos e, mais do que isso, com saúde.