Conselho de Segurança da ONU aprova pausa humanitária na Faixa de Gaza
Proposta de Malta sobre guerra entre Israel e Hamas foi votada nessa quarta (15) pelo Conselho de Segurança. Israel ignora e faz novos ataques a Gaza
por Lucas Toth
O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou nessa quarta (15) a resolução proposta por Malta que pede uma pausa humanitária nos bombardeios israelenses na Faixa de Gaza. O ministério das Relações Exteriores de Israel emitiu um comunicado rejeitando o texto da ONU.
A resolução pede a implementação de “pausas e corredores humanitários urgentes e prolongados em toda a Faixa de Gaza por um número suficiente de dias”, para que a ajuda humanitária de emergência possa ser prestada à população civil por agências especializadas da ONU, pela Cruz Vermelha Internacional e por outras agências humanitárias imparciais.
O texto pede também a “libertação imediata e incondicional de todos os reféns” mantidos pelo Hamas e por outros grupos, rejeita o deslocamento forçado de populações civis e demanda a normalização do fluxo de bens e serviços essenciais para Gaza, com prioridade para água, eletricidade, combustíveis, alimentos e suprimentos médicos.
O embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, disse que a resolução é “descolada da realidade” e não condena o ataque terrorista do Hamas de 7 de outubro.
A proposta aprovada nesta quarta não classifica nominalmente como “atos terroristas” as ações do Hamas, no entanto, também não condena Israel pelo deslocamento forçado de civis, bombardeamentos de hospitais e assassinatos de crianças.
O embaixador palestino na ONU, Riyad Mansour, lamentou o comportamento de Israel. “Eles acabam de anunciar que não irão cumprir. O que podemos fazer?”, disse. Para o diplomata, o texto deveria ter pedido um cessar fogo, o que não ocorreu. “Israel considera todos os palestinos como terroristas. Eles querem completar o Nakba”, disse
O texto foi endossado por 12 nações: Albânia, Brasil, China, Emirados Árabes Unidos, Equador, França, Gabão, Gana, Japão, Malta, Moçambique e Suíça.
Os aliados geopolíticos de Israel, Estados Unidos e Reino Unido, além da Rússia, se abstiveram da votação. As abstenções de três membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU foi determinante para aprovação do documento.
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil publicou um comunicado no qual comemorou a aprovação do documento.
“O governo brasileiro recebe, com satisfação, a notícia da aprovação pelo Conselho de Segurança da ONU, na tarde de hoje, da primeira resolução relativa à atual crise humanitária e de reféns na Faixa de Gaza, resultante do conflito entre Israel e o Hamas”, diz a nota.
“A resolução, com foco na proteção de crianças, proposta por Malta e apoiada pelo Brasil e pelos demais membros não permanentes (E-10), foi aprovada com 12 votos a favor. Estados Unidos, Reino Unido e Rússia optaram pela abstenção.”
Esta é a primeira vez que uma resolução sobre o tema é aprovada pelos 15 países que formam o Conselho. Antes dela, foram rejeitadas propostas do Brasil, enquanto estava na presidência do Conselho, da Rússia duas vezes e dos Estados Unidos. Uma outra proposta dos países árabes liderados pela Jordânia foi aprovada na Assembleia-Geral.
Israel rejeita resolução
Mesmo com a aprovação da resolução, o governo israelense manifestou nesta quarta que vai ignorar a decisão da ONU e chamou de “vergonhoso” o texto que pede pausa humanitária nos bombardeios.
“Independentemente do que o Conselho decida, Israel continuará a agir de acordo com a lei internacional, enquanto os terroristas do Hamas nem sequer lerão a resolução, muito menos a cumprirão”, escreveu Gilad Erdan na plataforma X, antigo Twitter.
De acordo com o diplomata, Israel “continuará a agir até que o Hamas seja destruído e os reféns sejam devolvidos”.
O exército israelense já assassinou 11,5 mil palestinos na Faixa de Gaza, incluindo 4,7 mil crianças e 3,1 mulheres. No dia 7 de outubro, o Hamas executou 1,2 mil pessoas no que chamou de operação “Tempestade de Al-Aqsa”.
Já o representante permanente do Estado da Palestina na ONU, Riyad Mansour, disse que o Conselho de Segurança já deveria ter convocado um cessar-fogo.
“Queremos salvar vidas”, disse Mansour ao Conselho de Segurança após a votação. “Esta resolução é um pequeno passo na direção certa, um pequeno passo em direção a um cessar-fogo, queremos um cessar-fogo. Não cederemos, não pararemos até vermos o cumprimento das resoluções e o fim dos ataques bárbaros israelenses.”
O Conselho “deveria ter atendido ao apelo da ONU e de todas as organizações humanitárias da Terra que apelam a um cessar-fogo humanitário”, disse Mansour. “Deveria pelo menos ter ecoado o apelo da Assembleia Geral para uma trégua humanitária imediata, duradoura e sustentada que conduzisse à cessação das hostilidades.”