Da Pastoral Operária à liderança na Secretaria de Comunicação da Contee: a caminhada sindical de Leandro Batista

A militância de Leandro Batista nas lutas sociais e na defesa da classe trabalhadora começou cedo, em 1995, nas Pastorais da Terra e Operária e no Movimento Fé e Política. Três décadas depois, essa trajetória o conduz à Coordenação da Secretaria de Comunicação da Contee.

Formado pela base e forjado nas lutas do chão de fábrica, Leandro atuou como metalúrgico e eletricitário e, ainda jovem, assumiu responsabilidades no movimento sindical, tornando-se dirigente da CUT regional do Sul de Minas, função que exerceu até 2005.

Nesse mesmo ano, após divergências internas, decidiu seguir outro rumo na militância, deixando a articulação sindical da CUT e o PT para se engajar na corrente sindical classista. Já vinculado à educação desde 2003, quando começou a trabalhar na Fundação de Ensino e Pesquisa do Sul de Minas, ingressou na direção do SAAEMG em 2006, quando o sindicato ainda atuava em âmbito estadual. No ano seguinte, participou da fundação da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil).

Em 2014, Leandro contribuiu para a criação da Federação dos Auxiliares de Administração Escolar de Minas Gerais (FESAAEMG), que reúne sete sindicatos, entre eles o SAAESUL/MG, do qual é presidente. Esse passo consolidou sua atuação no campo educacional. Hoje, além de integrar a direção nacional da CTB e exercer a vice-presidência da CTB Minas, ele chega à terceira gestão na Contee, agora à frente da Secretaria de Comunicação Social, depois de ter coordenado a Secretaria de Assuntos Jurídicos.

Com a experiência de quem transita entre diferentes frentes de luta, da pastoral ao sindicato, da fábrica à escola, Leandro Batista aborda nesta entrevista os desafios da comunicação sindical, a importância da formação política e o papel da Contee na defesa da educação, dos trabalhadores e na mobilização sobre temas que estão em debate no Congresso.

À frente da Secretaria de Comunicação da Contee

Assumir a Secretaria de Comunicação da Contee é, para Leandro Batista, ao mesmo tempo uma honra e uma enorme responsabilidade. “Eu peguei uma tarefa difícil, porque substituir o professor Alan Francisco de Carvalho é muito difícil. Um camarada nosso, um companheiro de vida, com toda a experiência no movimento sindical”, afirma.

Ele reconhece o trabalho de continuidade que sua chegada representa. “Não deixar a peteca cair é o primeiro grande desafio”, diz, referindo-se ao legado deixado pelo professor Alan e ao “ótimo trabalho que ele desenvolveu”. Ao mesmo tempo, Leandro destaca que o momento pede não apenas manutenção, mas expansão: “Temos agora a missão de preservar o que já foi muito bem feito e também ampliar, buscar novos rumos, novos horizontes para a comunicação da Contee.”

Com uma equipe que descreve como “muito boa e comprometida”, Leandro aposta no fortalecimento do diálogo com as bases e na ampliação da presença da Contee no debate público. “Hoje temos uma dificuldade muito grande de chegar até as bases. E não falo só da base sindical, dos nossos sindicatos filiados, mas da base macro: os trabalhadores e trabalhadoras da educação em todo o Brasil.”

Para ele, o grande obstáculo está no ambiente de desinformação e no poder corrosivo das fake news, que distorcem o papel do sindicalismo e confundem os trabalhadores sobre seus direitos. “Estamos vivendo um tempo de muita mentira circulando nas redes. O nosso enfrentamento é romper essa barreira da desinformação e fazer a palavra da Contee ecoar entre os professores, técnicos e auxiliares das instituições escolares. Comunicar com o trabalhador comum, e não apenas entre nós sindicalistas, é o que realmente importa.”

Leandro reconhece que a tarefa é complexa e contínua, mas demonstra convicção no caminho a seguir: “A gente já vem há algum tempo tentando quebrar essas barreiras. E é nisso que eu acredito: comunicar com verdade, com coerência e com compromisso com a classe trabalhadora.”

A equipe da Secretaria de Comunicação Social é formada pelo coordenador Leandro Carneiro Batista e pelo coordenador adjunto Márcio Franco. Integram ainda a Coordenação os diretores Herbert Euler e Janete Aparecida da Silva, além dos assessores Romênia Mariani, Antônia Rangel, José Geraldo Santana e Leandro Freire.

Pejotização: a falsa modernização que ameaça direitos

Para Leandro Batista, a pejotização deixou de ser um risco distante e se tornou uma realidade concreta, ameaçando direitos historicamente conquistados pelos trabalhadores da educação. A Contee atua de forma permanente para denunciar essa falsa modernização, com campanhas e materiais formativos: “A gente sempre pegou os debates principais e trouxe isso à luz, especialmente nas campanhas que realizamos ao longo dos anos.”

Um destaque é a cartilha da Secretaria de Comunicação, produzida para orientar a categoria: “Se for abraçada pelas nossas entidades filiadas, conseguiremos chegar ao objetivo de conscientizar as bases.” Leandro alerta que a pejotização avança rapidamente, atingindo docentes e técnicos: “Até então ela vinha devagar, comendo pelas beiradas. Hoje está entrando com força dentro das instituições de ensino, e muitos profissionais não têm consciência do risco que estão correndo.”

Ele reforça que a pejotização é uma porta de entrada para precarização, perda de direitos e individualização das relações de trabalho, desmontando a organização coletiva: “É um ataque direto à categoria e ao movimento sindical. Por isso precisamos denunciar, formar e mobilizar.”

Reforma Administrativa e a precarização do serviço público

Leandro Batista alerta que a Reforma Administrativa avança junto à pejotização e precarização do trabalho, aprofundando o desmonte do serviço público. “É o desmonte do serviço público, e no privado isso já está escancarado”, afirma, lembrando experiências de terceirização que ignoram direitos básicos e substituem profissionais qualificados por trabalhadores sem estabilidade.

Ele critica a ideia de que terceirizar reduz custos: “A terceirização não diminui custo. Pelo contrário, pode triplicar ou quadruplicar e ainda abre espaço para corrupção.” Segundo Leandro, a mudança ameaça substituir servidores concursados, precarizando toda a cadeia de trabalho e serviços públicos.

O dirigente cita exemplos de privatizações estaduais e redução de financiamento na educação pública, além do avanço da educação a distância sem regulamentação no setor privado, como elementos de precarização. Também destaca a situação de professores temporários sem concurso, FGTS ou INSS, um modelo que pode se tornar regra nacional.

Para ele, o futuro do serviço público depende da mobilização social. “Nós temos que ir para as ruas. Temos que defender que isso não passe. Eu sou defensor da educação pública, gratuita e de qualidade. Pública mesmo, não financiada pela iniciativa privada.” Leandro explica que o setor privado não tem interesse em formar licenciados, agravando o déficit de professores. “Hoje falta professor de geografia, português, matemática, história, filosofia. As instituições privadas não querem formar licenciatura porque não dá lucro.”

O dirigente também aponta a crise social e a desigualdade aprofundada pela lógica privatista. “A gente paga duas vezes: imposto e serviço privado. O SUS e o INSS sofrem porque falta gente para trabalhar.” Sobre o INSS, reforçou: “O INSS não é deficitário. O que aconteceu foi desconstrução nos últimos cinco anos.”

Assédio moral: prática generalizada e adoecimento

Leandro Batista destaca que o assédio moral deixou de ser caso isolado e se tornou prática comum, contribuindo para aumento de doenças mentais entre os trabalhadores. “Estamos recebendo vários atestados e denúncias dessa nova doença causada pelo assédio, pelo esforço excessivo, pela cobrança desumana.” Ele alerta que a cobrança excessiva é sempre sinal de alerta: “Atrás do excesso de cobrança, pode ter certeza que vem o assédio moral.”

A luta contra o assédio, segundo ele, precisa ser constante. Muitos trabalhadores se calam por medo de perder o emprego ou pela necessidade de sobreviver.

A comunicação é essencial para mobilização e conscientização. “Tudo passa pela comunicação. Se a mensagem de que precisamos combater e nos mobilizar não chega, não funciona.” A Secretaria de Comunicação da Contee acompanha e repercute todas as pautas, garantindo que a categoria e o público tenham acesso às informações.

Escala 6×1: uma pauta histórica contra a exploração

Leandro Batista lembra que a luta contra a escala 6×1 não é nova nem restrita à educação. Desde o início, a Contee incorporou a pauta, junto às demais secretarias da Confederação, para enfrentar a sobrecarga e exploração impostas aos trabalhadores. “Essa carga de trabalho excessiva já afetava muitos setores, não apenas a educação. Trabalhadores do Brasil inteiro sofrem com isso”, afirma.

Ele ressalta que a batalha exige unidade nacional: não depende apenas da Contee, mas de todas as confederações, federações e sindicatos, porque toca diretamente a dignidade do trabalhador. Combater a escala 6×1 é proteger saúde, tempo de vida e qualidade do trabalho. “Essa pauta tira das costas do trabalhador uma carga excessiva e diminui a exploração. É uma luta que precisa ganhar força nacional.”

Contra o retrocesso e o Congresso conservador: mobilização permanente

Leandro Batista sublinha que a luta contra a pejotização, a escala 6×1 e outras formas de precarização não pode ser episódica. Apesar de vitórias acumuladas, cada avanço exige vigilância constante. “Todas essas batalhas nos fizeram vencer pontos importantes. Estamos subindo a escala. O que não pode acontecer é a gente esmorecer”, afirma.

Ele considera a mobilização do dia 21 de setembro um marco recente, mas alerta que a vitória não é definitiva. O atual Congresso, “o mais conservador e patronal da história”, continua ameaçando direitos, e frear esse avanço exige mobilização permanente da classe trabalhadora, unindo entidades e base. “Se os trabalhadores não estiverem juntos, a correlação de forças no Congresso não nos favorece. Precisamos de uma mobilização maior do que a do dia 21. Se não fizermos isso, a gente perde.”

Manter a esperança é indispensável. “A gente tem que ter utopia, tem que ter expectativa. A esperança não pode morrer. Pessoa sem fé, sem esperança e sem caridade é uma pessoa morta, vazia”, afirma, ressaltando a necessidade de transformar esperança em ação concreta: “A esperança que temos é reverter — pelo menos tentar reverter — um pouco desse panorama de hoje.”

Leandro observa que não existe disputa ganha. “Não tem nada ganho. Tenho colegas que acham que está ganho, mas não está.” Ele é autocrítico sobre a esquerda: “Nós falhamos, falhamos como esquerda, porque não temos sucessores. É uma falha nossa, dos partidos, dos movimentos sociais, do sindicalismo, de todo o movimento de esquerda.” Enquanto isso, a extrema-direita consegue criar figuras públicas mesmo sem densidade política: “Pegaram um deputado que nunca aprovou projeto nenhum e criaram um mito.”

Comunicar, formar e politizar a categoria é essencial. “Voltamos ao princípio: nosso dever é comunicar, mostrar a realidade do que está acontecendo e o que pode acontecer se a gente esmorecer.” A lição é clara: quando o movimento sindical para, o retrocesso avança. “Não podemos achar que está resolvido. Pode ser que retroceda. Já vimos direitos importantes serem retirados. A prova disso é a Reforma Trabalhista de 2017.”

Eleições 2026: entender as redes é fundamental

A dimensão comunicacional é uma preocupação central para Leandro Batista. Ele observa que a extrema direita tem conseguido alcançar o eleitorado de forma muito mais eficiente: “A linguagem da esquerda não está chegando.” Para ele, isso se deve ao domínio das ferramentas digitais e ao uso sistemático de tecnologias avançadas: “A linguagem que eles usam é inteligência artificial. É o Facebook, é o Instagram. É essa linguagem.”

O dirigente aponta ainda a vigilância das plataformas e a lógica dos algoritmos, que moldam comportamentos e opiniões. “Os algoritmos conduzem para isso. Você entra na bolha.” Na visão dele, a extrema direita aproveita esse ambiente para direcionar conteúdos personalizados: “Eles começam com o diálogo ali, trazendo para o trabalhador aquilo que ele gosta, sente e vive.”

Leandro explica que a estratégia também envolve manipulação psicológica: “Eles usam técnicas de neurolinguística, influenciam o cérebro da pessoa, e ela se sente politicamente correta ao apoiar quem quer retirar seus direitos.” Para ilustrar, recorre a metáforas: “É como um escravo que defende o tronco. Como um passarinho que defende a gaiola.”

Diante desse cenário, ele defende que o movimento sindical enfrente o desafio de forma direta, com atuação incisiva nos meios digitais. “Temos um desafio grande: quebrar isso, entrar lá e mostrar a realidade. Não é fácil, mas é um desafio. A comunicação é muito complexa.”

Rede colaborativa, diálogo e protagonismo da educação

Leandro Batista enfatiza a importância do diálogo contínuo entre a Contee e suas entidades filiadas, destacando que a comunicação tem sido estratégica para estreitar esse vínculo e ampliar a circulação de informações. Segundo ele, a Secretaria de Comunicação não se limita a divulgar suas próprias produções: “Nós sempre fizemos esse diálogo, inclusive ajudando a divulgar materiais das nossas entidades filiadas, federações e sindicatos. É assim que construímos a rede que precisamos.”

O objetivo, afirma, é criar um fluxo permanente de troca, no qual as entidades também enviem suas produções à Contee, fortalecendo a visibilidade coletiva do movimento. “Assim reverberamos as ações e fortalecemos o conjunto da luta.” Leandro observa ainda o impacto concreto das interações digitais: “Uma curtida numa matéria da Contee já faz com que aquilo apareça para todos ligados à rede social do sindicato. Por isso é tão importante acessar, ler e interagir.”

Ele menciona a interdependência entre Confederação e entidades: “Somos porque eles existem. Se as entidades não existirem, não existe Contee. Nosso foco principal são as entidades de base, assim como elas devem se preocupar com seus trabalhadores. É por eles que a gente está aqui.”

Encerrando a entrevista, Leandro deixa uma reflexão sobre esperança, diálogo e o papel transformador da educação: “A cada dia, temos que aprender. E podemos errar — somos humanos, não somos perfeitos. Por isso é tão importante estarmos abertos ao debate, em todas as linhas. Precisamos ter fé de que as coisas vão mudar. O trabalhador brasileiro, especialmente os trabalhadores da educação, tem um protagonismo muito forte no país. Acredito que uma parte significativa das mudanças que o Brasil precisa passa pela voz da educação.”

Ele conclui reforçando a abertura da Secretaria de Comunicação para a participação das entidades: “Convido todas e todos a participar conosco na Secretaria de Comunicação. Estamos aqui para construir juntos.”

Por Romênia Mariani

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo
666filmizle.xyz