Dica da semana: O privilégio da servidão
Obra do sociólogo Ricardo Antunes esboça retrato detalhado e atualizado da classe trabalhadora contemporânea no Brasil, abordando a precarização, a terceirização e o impacto das novas relações trabalhistas, que culminam, inclusive, na atual crise do sindicalismo
“Impedir que os trabalhadores precarizados fiquem à margem das formas de organização social e política de classe é outro desafio impreterível no mundo contemporâneo. O entendimento das complexas conexões entre classe e gênero, entre trabalhadores ‘estáveis’ e precarizados, entre nacionais e imigrantes, entre trabalhadores de etnias diferentes, entre qualificados e sem qualificação, entre jovens e velhos, entre empregados e desempregados, enfim, entre tantas fraturas que o capital impõe sobre a classe trabalhadora, torna-se fundamental para que se possa, por meio de um movimento social e político dos trabalhadores e das trabalhadoras, buscar e realizar efetivamente um novo projeto societal socialista neste século XXI.”
Essa é uma das conclusões — e uma das missões — que o sociólogo Ricardo Antunes (professor de Sociologia do Trabalho da Unicamp e um dos principais pensadores sobre o mundo do trabalho no país) lança no livro “O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital”. Editado pela Boitempo em 2018 e ampliado em 2020, a obra permanece atual depois de todo o catastrófico governo Bolsonaro e do início esperançoso do terceiro governo do presidente Lula. Trata-se de um retrato detalhado e atualizado da classe trabalhadora contemporânea no Brasil, abordando a precarização, a terceirização e o impacto das novas relações trabalhistas, que culminam, inclusive, na atual crise do sindicalismo.
O livro é dividido em quatro partes, que abordam, respectivamente: o advento do proletariado da era digital, questionando quem é a nova classe trabalhadora; a devastação do trabalho no Brasil, com os adoecimentos, a precarização, a terceirização total e irrestrita e a crise no movimento sindical; a era das rebeliões, contrarrevoluções e do novo estado de exceção nos governos Temer e Bolsonaro; e as possibilidades de uma luz no fim do túnel, indagando se há futuro para os sindicatos.
Especificamente sobre essa última questão, Antunes elenca dez desafios, entre os quais o “primeiro deles, determinante para a sua própria sobrevivência, será romper a enorme barreira social que separa a classe trabalhadora ‘estável’ , em franco processo de redução, dos trabalhadores e trabalhadoras intermitentes, em tempo parcial, precarizados, subempregados e desempregados, todos em significativa expansão no cenário mundial de hoje”.
Afirma Ricardo Antunes: “Os sindicatos devem se empenhar fortemente na organização sindical ampliada em todos os seus setores e recortes. Ou os sindicatos organizam o conjunto da classe trabalhadora ou estarão cada vez mais restritos a um contingente minoritário e parcial, perdendo a possibilidade de representá-los enquanto classe. Serão, na melhor das hipóteses, muito corporativistas e pouco classistas”.
Leitura necessária e reflexão urgente.
Livro: O privilégio da servidão
Autor: Ricardo Antunes
Editora: Boitempo
Páginas: 335 páginas
Táscia Souza