#JáTemCopa
Quando o juiz apitar nesta quinta-feira (12), às 17h, na Arena Corinthians (Itaquerão), em São Paulo, dando início à partida entre Brasil e Croácia, a Copa do Mundo, que volta a ser sediada no país após 64 anos, será uma realidade. Na verdade, ela já é, desde 2007, quando foi confirmada a escolha do Brasil para sediar este megaevento. E, ao contrário do que alardeiam os que estão na torcida contra, ela é, sim, um evento que traz emprego e melhoria de infraestrutura.
Além de realidade, a Copa que se inicia hoje é também um momento histórico. Mais do que uma chance para se livrar do gosto amargo da derrota do Brasil para o Uruguai diante de um Maracanã lotado em 1950, está também é a oportunidade para redimir as críticas à realização do megaevento, que se acirraram nos últimos tempos, em parte por insatisfações que não deixam de ter legitimidade, mas, em sua grande maioria, por oportunismos eleitoreiros.
Os preparativos para a Copa de 1950, assim como para a de 2014, também incluíram a construção de estádios “padrão Fifa”. O próprio Maracanã foi erguido especialmente para a disputa, a fim de que, além de futebol, o Brasil apresentasse ao mundo o maior estádio do planeta. No entanto, o país passava por um momento diferente. Foi a primeira Copa realizada após o fim da Segunda Guerra Mundial, num mundo sob o jugo da Guerra Fria. O presidente era Eurico Gaspar Dutra, ex-ministro da Guerra de Getúlio Vargas, que ficou no cargo até 1951. Era ele quem governava 51 milhões de pessoas, das quais metade eram analfabetas, segundo informações do IBGE. Não havia um projeto de desenvolvimento em curso.
Não é o que acontece hoje. Passados 64 anos, aliás, a realidade é outra. Se os investimentos, em 50, eram nos estádios, em 2014 são nas arenas também, mas ainda em obras de mobilidade urbana, aeroportos, portos, telecomunicações, segurança, turismo e na geração de empregos diretos e indiretos. Apesar das muitas críticas lançadas tanto por segmentos da direita quanto por parte da esquerda, em relação aos gastos governamentais com a Copa – inclusive com acusações de que, supostamente, retirariam verbas da educação e da saúde –, os números não deixam margem a dúvidas.
Para ficarmos apenas no campo educacional, segundo o Portal da Transparência, os investimentos diretos do governo federal na Copa somam R$ 5,6 bilhões, ao passo que os financiamentos federais para estados e municípios chegam a R$ 8,2 bilhões. Em contrapartida, por exemplo, de acordo com o Ministério da Educação, em 2013, as 12 cidades que sediarão jogos do mundial receberam R$ 49,4 bilhões em recursos federais para educação. No total, o Ministério investiu, no ano passado, R$ 93,85 bilhões. Só para se ter uma ideia, todo o custo com os estádios nessas cidades, de R$ 8,01 bilhões, equivale a apenas 8,5% desse valor. Além disso, o Brasil acaba de aprovar um Plano Nacional de Educação (PNE) para o próximo decênio que, devido à intensa mobilização das entidades nacionais e dos movimentos sociais, no geral, fortalece a educação pública e democrática.
A Contee luta incansavelmente por mais verbas para a educação (bem como para a saúde, na qual, de acordo com a Controladoria-Geral da União, foram investidos R$ 17 bilhões), uma vez que, de fato, os recursos hoje destinados estão aquém do necessário para uma saúde e uma educação de qualidade – quadro este que, espera-se, será revertido com a execução do novo PNE e com a contemplação da reivindicação da classe trabalhadora por 10% da receita em saúde. No entanto, o dinheiro utilizado para assegurar a realização da Copa não saiu nem da educação nem da saúde. Além do mais, ir contra a Copa não resolve os problemas estruturais que o Brasil precisa enfrentar.
A luta por mais educação e saúde se dá não agora, no gramado das arenas, mas em outra disputa, aquela que acontecerá em outubro, nas urnas. É o jogo que se dá com a luta pela mudança na correlação de forças no Parlamento, elegendo pessoas comprometidas com a educação pública, e também com a pressão, tanto do movimento organizado quanto da população na rua, por uma reforma politica que enfrente a questão do financiamento privado de campanha, fator de corrupção e de atrelamento do Parlamento aos interesses privados. É o jogo que se dá na luta pela criação do Sistema Nacional de Educação, pela aplicação das metas aprovadas pelo PNE etc.
Saúde e educação são direitos de cada cidadão e deveres do Estado e, como tais, precisam, sim, ser tratadas como prioridade. Mas nada impede que, ao lado delas, seja cumprida também a meta de mostrar ao planeta, neste mês que se inicia hoje, que o Brasil entra em campo fortalecido, não somente como seleção, mais como nação soberana.
*Madalena Guasco Peixoto é coordenadora-geral da Contee