No Encontro Mundial de Blogueiros, cutistas reforçam luta pela democratização da comunicação
Encerrado no sábado à noite em Foz do Iguaçu, o 1º Encontro Mundial de Blogueiros contou com a participação de 468 ativistas digitais de 23 países, e de 17 estados do Brasil – entre eles vários sindicalistas cutistas, como bancários, eletricitários, municipários, metalúrgicos, professores, agricultores familiares e trabalhadores rurais. Além da rica troca de experiências com figuras de expressão nacional e internacional como Kristinn Hrafnsson, porta-voz do WikiLeaks; Pascual Serrano, do Rebelión; Ignácio Ramonet, do Le Monde Diplomatique; Blanca Josales, ministra de Comunicações do Peru e do ex-ministro das Comunicações da Venezuela, Jesse Chacon; o evento potencializou as ações na globosfera, vistas como essenciais para furar o bloqueio desinformativo e alienante da grande mídia e fortalecer e aprofundar a democracia. A ausência do ministro Paulo Bernardo, bem como das suas involuções em favor das teles contra o papel do Estado e a Telebrás foram mais do que lembradas pelo plenário.
Para o secretário de Comunicação da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), Alvísio Ely, o encontro serviu como “grande estimulador para que o conjunto das categorias profissionais, e em especial os professores, possam se integrar na construção de ações coletivas por uma mídia mais democrática e solidária”. Para estimular e “levar mais longe” este debate estratégico na definição dos rumos da própria democracia brasileira, adiantou Alvísio, a CNTE realizará, com a colaboração da Secretaria Nacional de Comunicação da CUT, um evento no início do próximo ano, a fim de que o conjunto dos dirigentes do Ramo se aproprie com mais profundidade sobre este tema central na batalha de ideias contra o conservadorismo e a reação.
“O evento congregou e fortaleceu a disposição de todos os que se importam e lutam pelo direito a uma informação cada vez mais livre, de uma comunicação democrática. Os que estão aqui sabem que não adianta esperar, que é preciso fazer agora e as novas tecnologias estão aí para isso”, declarou Elizângela da Silva Araújo, jornalista do Sinpaf (Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário).
Para a secretária nacional de Comunicação da CUT, Rosane Bertotti, que representou a Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) na abertura do Encontro, a defesa da gestão pública para garantir banda larga na internet e o fortalecimento do papel do Estado como garantidor de direitos são passos essenciais para a consolidação da democracia no país e que requerem ampla participação e mobilização dos trabalhadores e da sociedade. “O Estado tem um papel fundamental para que a comunicação seja mais do que o acesso à informação, que seja um direito de todos e de todas”, defendeu.
RADICALIZAÇÃO DA DEMOCRACIA
Na avaliação de Paulo Salvador, diretor da Rede Brasil Atual e presidente da Afubesp (Associação dos Funcionários do Grupo Santander Banespa, Banesprev e Cabesp), o evento apontou para uma “radicalização da democracia no sentido horizontal e transparente, numa lógica de maior participação da base, o que faz com que tenhamos de praticar esta exigência para cima, para baixo e para os lados”. Do ponto de vista sindical, frisou, isso significará uma melhora na relação interna das entidades, com maior envolvimento dos associados, superando formas antigas de prestação de contas e dando conteúdo novo às próprias assembleias. “O desafio do movimento sindical é acelerar o processo de inclusão em qualquer instância, canalizando cada vez mais recursos para a aquisição e instalação de poderosos meios de comunicação, particularmente na blogosfera. É inadmissível que haja Sindicato que não esteja conectado, entidades que continuem sendo ilhas de sombras e apagão digital”, ressaltou.
Paulo Salvador acredita que os novos dirigentes precisam se disciplinar para continuarem na ponta da organização, reservando um período maior do seu tempo para se atualizar e interagir, “pois não dá mais para ler o jornal do dia seguinte”. “Não cabe sonolência, é preciso uma nova atitude”, salientou.
Outro ponto destacado como essencial para o “combate democrático de ideias”, frisou Salvador, é a inserção na integração latino-americana e na dinâmica do movimento mundial, desarmando a “arapuca” dos que tentam contrapor a ação dos blogueiros à dos partidos e movimentos sociais organizados, como se fossem excludentes. “Não podemos nos deixar levar pelo estereótipo, necessitamos compreender as mudanças de organização e entrar nelas”, acredita Salvador, para quem a participação de um “monte de Sindicatos” no Encontro Mundial de Blogueiros é um bom sinal de que, em nosso país, estamos trabalhando bem o tema.
REIVINDICAÇÕES
Entre as principais deliberações da Carta de Foz do Iguaçu estão a “luta por novos marcos regulatórios da comunicação, que incentivem os meios públicos e comunitários; impulsionem a diversidade e os veículos alternativos; coíbam os monopólios, a propriedade cruzada e o uso indevido de concessões públicas; e garantam o acesso da sociedade à comunicação democrática e plural”. Com estes mesmos objetivos, sublinha o documento, “os Estados nacionais devem ter o papel indutor com suas políticas públicas”.
Outro ponto considerado nevrálgico é a “luta pelo acesso universal à banda larga de qualidade”: “A internet é estratégica para o desenvolvimento econômico, para enfrentar os problemas sociais e para a democratização da informação. O Estado deve garantir a universalização deste direito. A internet não pode ficar ao sabor dos monopólios privados”.
Ao final do evento foi aprovada a realização do 2º Encontro Mundial no mês de novembro de 2012 em Foz do Iguaçu. Responsáveis pelo sucesso do primeiro, o Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e a Altercom (Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação) estão entre os organizadores brasileiros, aos quais se soma, entre outras, a ALAI (Agência Latino-Americana de Informação).
Fonte: CUT