“O Brasil virou anão diplomático após o golpe”, diz Celso Amorim
Ex-chanceler criticou a insignificância que o país assumiu perante o mundo na diplomacia, desde que o governo de Michel Temer foi instalado: “A voz internacional do Brasil hoje em dia é pouco mais que uma coisa esganiçada, não dá para ouvir”.
O ministro da Defesa no primeiro mandato de Dilma Rousseff (2011-2014) e das Relações Exteriores nos governos de Lula (2003-2010) e Itamar (1993-1994), Celso Amorim, criticou a insignificância que o Brasil assumiu perante o mundo na diplomacia, desde que o governo de Michel Temer foi instalado, por meio de um golpe parlamentar. Para Amorim, que já foi considerado o melhor chanceler do mundo, o Brasil desperdiça a chance de ser uma liderança cultural e intelectual nas Américas ocupando um vácuo deixado pelo EUA, cuja política de Donald Trump é não se envolver em questões estrangeiras.
“O Brasil é maior do que no governo Sarney, mas, se for tomar do que era dois, três anos atrás, nunca houve uma queda de credibilidade. Sempre procuramos atrair, mesmo quando não concordávamos com opiniões. Quando a Colômbia atuou no Equador atrás das Farc sem pedir licença, havia sugestões mais radicais, mas o Brasil não achou interessante isolar a Colômbia. Preferimos o diálogo. A voz internacional do Brasil hoje em dia é pouco mais que uma coisa esganiçada, não dá para ouvir, disse o ex-ministro”.
“É inegável que o Brasil tinha protagonismo. O Brasil criou a União Sul-americana de Nações (Unasul), modificou o padrão de negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC), o [George W.] Bush [ex-presidente dos EUA] ligava imediatamente para o Lula para propor a criação do G-20, criamos os Brics [comunidade formada pelo grupo de emergentes Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul]. Nada disso hoje em dia existe. Estamos totalmente sem liderança”, disse ele em entrevista ao UOL.
Amorim também criticou a caçada judicial e midiática ao ex-presidente Lula. “A meu ver, (a acusação contra Lula) é baseada em coisas muito frágeis, que não se sustentam. É opinião de mais de cem juristas que escreveram livro comentando a sentença inclusive do ponto de vista processual, independentemente se você goste ou não do ex-presidente”, afirmou.
*Com informações do UOL e do Brasil 247