“Plataformização do trabalho e subdesenvolvimento, sem proteção social”
Esse novo modelo de relações de trabalho, segundo Jorge, traz “subdesenvolvimento”, porque exclui e precariza a mão de obra, em particular a menos escolarizada, que é a imensa maioria da população brasileira
O que as novas tecnologias trouxeram para o mundo do trabalho no século 21? Segundo o professor Euzébio Jorge Silveira de Sousa: “trabalho amador, gamificação (estratégias do dia a dia do trabalho), conciliação de diferentes atividades simultâneas, fim das trajetórias formativas e progressão de carreira”, entre outras mazelas trazidas à tona pelo desenvolvimento tecnológico desconectado da vida humana e das relações sociais equilibradas.
Leia também:
“Capital tomou para si o papel de educar”, denuncia pesquisador
Isto e muito mais fez parte da fala do professor Euzébio Jorge, na segunda mesa do “Seminário Nacional De Educação Básica da Contee”, nesta sexta-feira (29). O seminário se estendeu na manhã e na tarde deste sábado (30).
Como o desenvolvimento tecnológico se dá de forma mais desequilibrada nos países da periferia do capitalismo, a plataformização do trabalho, segundo Jorge, traz “subdesenvolvimento”, porque exclui e precariza a mão de obra, em particular a menos escolarizada, que é a imensa maioria da população brasileira.
Esse trabalho em plataforma traz consigo “elevado desemprego, rotatividade, subemprego e baixos salários”, explica o professor. Eleva as já altíssimas taxas de desigualdade, precariza materialmente as famílias, empurra os jovens para o mundo do trabalho mais cedo, “com maior mercantilização da vida”, pontificou Jorge.
Euzébio Jorge é doutor em desenvolvimento econômico (ie-Unicamp), professor de Economia na FEA-USP, FESPSP e Strong Business School e presidente do CEMJ (Centro de Estudos e Memória da Juventude).
Olhar histórico
Ao explanar sobre as consequências das novas tecnologias nas relações de trabalho, em particular no trabalho docente, Jorge também construiu ponte de interligação do passado com o presente. Assim, ele abordou o “fim do contrato social do pós-guerra”.
Segundo Jorge, o pós-2ª Guerra Mundial trouxe consigo a “redução do papel do Estado, com o fim do paradigma keynesiano e do modo de produção fordista”. Veio também a “3ª revolução industrial e tecnológica”, lembrou. As novas “tecnologias mais flexíveis”, com “desregulamentação dos mercados, financeirização da economia e mercantilização da vida”.
Em relação à financeirização, há particularidade relevante, que é o fato de os recursos materiais e financeiros deixarem de ir principalmente para produção, o que consequentemente impacta no desenvolvimento das pessoas.
Com a financeirização da economia, houve predominância dos mercados e demais instituições financeiras na definição, gestão e realização da riqueza no capitalismo contemporâneo.
Reforma do Ensino Médio
Na breve e profunda exposição que apresentou no seminário, Jorge lembrou da Reforma do Ensino Médio, que em grande medida significou mais perdas relativas à qualidade da educação, em particular, a pública.
Ao explicar o conteúdo da “Reforma do Ensino Médio”, Jorge explicou que esse “novo modelo” de educação não é “dividido por disciplinas como o atual, mas por áreas do conhecimento”.
Nesse “novo modelo”, os “alunos deverão ter no mínimo 1.800 horas/aula desses componentes, os quais deverão ser compostos por disciplinas da BNCC (Base Nacional Comum Curricular).” “E mais 1.200 horas/aula, flexíveis, com conteúdos da formação técnica e profissional.”
Essa contrarreforma na educação brasileira fez parte do programa de governo do ex-presidente Michel Temer (MDB) chamada de “Uma Ponte para o Futuro”, implementada no pós-golpe parlamentar de 2016, que derrubou a ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Ocupações plataformizadas
Segundo o professor, nas relações de trabalho “plataformizadas” do século 21, os jovens estão mais “expostos” às “precárias ocupações” oferecidas nesse ambiente tecnológico. Isso porque esse segmento possui “elevada taxa de participação” nessas plataformas, o que o deixa“mais exposto ao desemprego”.
“Possui maior disposição física para o trabalho extenuante” e “concilia trabalho e estudo.” E “possui maior familiaridade com as novas tecnologias”, pontificou.
Ouça/veja a íntegra da exposição do professor:
Marcos Verlaine