Que seja o Dia Internacional da Mulher

Por Trajano Jardim*

O dia 8 de março é dedicado ao Dia Internacional da Mulher. Como outras datas históricas, esta também foi transformada numa pantomima explorada pela ideia do consumismo mercadológico. Dessa forma conseguem-se escamotear do povo os motivos que originaram essa data. Deformam o significado heroico. Assim, poucos ficam sabendo como e o porquê de se comemorar em determinado dia. A própria mídia, como instrumento de dominação e poder do Estado, na sua maioria, omite os fatos históricos, muitas vezes de sacrifícios, e a áurea de sua existência.

O massacre de Nova York

Para resgatar a luta significativa das mulheres pelo seu espaço na sociedade e por liberdade, recordamos que o Dia Internacional da Mulher é comemorado desde 1910. Numa conferência internacional de trabalhadores, na Dinamarca, decidiram-se homenagear as 129 mulheres que, em 1857, 53 anos antes, foram brutalmente assassinadas pelas forças da repressão.

Naquele 8 de março, no frio inverno de 1857, as operárias da fábrica de tecidos Coton, de Nova York, na luta por melhores condições de trabalho; pela diminuição da jornada, que na época era de cerca de 16 horas; por salários iguais aos dos homens (elas recebiam cerca de um terço do salário pago aos homens), realizaram uma grande greve. A paralisação foi total. A manifestação foi reprimida com brutal violência pela polícia. As operárias se refugiaram dentro da fábrica. Elas foram trancadas e o prédio foi incendiado. Essa ação cruel resultou na morte de 129 trabalhadoras tecelãs carbonizadas.

Somente em 1975, a criação da data foi oficializada pela Organização das Nações Unidas. E não foi apenas para relembrar tal acontecimento. O dia 8 de março é marcado para se debater sobre o papel da mulher na sociedade atual. É buscar caminhos para diminuir, cada vez mais, o preconceito, a violência contra a mulher e a desvalorização do público feminino nos locais de trabalho.

Apesar dos avanços conseguidos até agora, a mulher ainda sofre com a exploração da sua força de trabalho com baixos salários; a violência masculina e desvantagens na carreira profissional; a banalização do seu corpo como meio de persuasão e de convencimento para manter em alta o consumismo exacerbado conduzido pelo mercado.

Que esta data seja conhecida não pela glamourização dos interesses do mercado, mas, pelo que ela expressa de heroísmo e lutas das mulheres do mundo inteiro.

Em homenagem à mulher educadora dedicamos o poema de Cora Coralina.

“… vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada,
sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha
e filharada.
Vive dentro de mim
a mulher roceira.
– enxerto de terra,
trabalhadeira. Madrugadeira ….
(Cora Coralina)

*Trajano Jardim é jornalista, professor e diretor do Sinproep-DF

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